Tendo partido do Seminário de Mogofores para ir passar as férias de verão junto da familia o aluno José Nunes Martins escreve ao Superior, o Padre frei Tomás Maria Videira, para o informar de como estavam a decorrer as suas férias.
Carta interessante pelo pitoresco do quotidiano e pelas preocupações religiosas do jovem José Nunes Martins.
Meu Querido Padre
Saúde e felicidade é o que do íntimo do coração lhe desejo
Eu fico bem graças a Deus.
Visto ter partido do Seminário no dia 5, venho participar-lhe que fiz
boa viagem, assim como todos os meus companheiros até à data em que me despedi
deles.
Felizmente tenho tido boas férias; os meus pais gostaram muito de me
ver, assim como todas as pessoas conhecidas e amigas. No próprio dia em que
cheguei a casa fui visitar dois seminaristas os quais estavam para ir dar um
passeio e me convidaram para ir com eles; apesar de estar um pouco cansado da
viagem, sempre aceitei, e não desgostei; ao chegarmos ao cimo dum monte,
descansámos um pouco, e onde fizemos ao mesmo tempo que descansámos uns
instantes de meditação num livro que eles levavam.
As minhas ocupações têm sido no moinho a trabalhar com um motor a
fabricar farinha; ir uma vez ou outra vender farinha às praças e pouco mais.
Na quinta-feira, primeira vez que fui a Vila Nova de Ourém vender
farinha, encontrei pelo caminho o Georgino, e disse-lhe se queria ir comigo de
carrada, mas ele recusou a minha oferta, não porque se envergonhasse, mas
talvez porque não queria desligar-se da amizade da mulherzinha que ia montada
no burrico dele, o qual ele ia tocando com um pauzinho. Como eu ia em quatro
pernas e ele em duas, claro está, que cheguei lá primeiro que ele, mas assim
que ele lá chegou foi logo visitar-me e como não tinha nada que fazer ficou lá
entretido comigo até quase à hora de nos virmos embora conversando e rindo um
com o outro e ao mesmo tempo entretendo os dentes com tremoços que eu lhe
mandei comprar.
Encontrei também naquele
mercado uma irmã do irmão José Maria com a qual conversei algum tempo com muito
gosto,
Os seminaristas de que já lhe falei, também me pediram para ajudar a
ensinar a doutrina aos rapazes, porque como eles são só dois, e as crianças
umas 120, é difícil de ensinar tanta gente, por isso, convidaram-me para os
ajudar o que aceitei de melhor vontade porque não perderei nada com isso, pelo
contrário.
Por aqui já Vossa Reverência pode ver em que me tenho ocupado; tenho
ido à missa nos dias em que há, porque nem todos os dias se celebra.
Espero ir este mês a Fátima, e encontrar algum os meus companheiros.
Por agora termino desejando que Vossa Reverência tenha óptimas férias
e que elas lhe sejam portadoras de muita saúde. Muitas saudades para o frei
Rocha e para todos os superiores.
Seu aluno e amigo que a bênção lhe pede.
José Nunes Martins
Encanta-me esta carta duma simplicidade imensa e duma vivência pessoal e encantadora dum dia a dia
ResponderEliminardumas férias passadas em casa mas sem desligar do seminário.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarApreciei a carta que José Nunes Martins dirigiu a Frei Tomás Maria Videira sobre as férias passadas com a família. Fez-me sorrir pelas melhores razões. A estadia no seminário não o afasta do convívio com o meio donde provem e da ajuda nos trabalhos que faz sem mostrar fadiga ou enfado e aproveita o gozo das férias para poder dar testemunho da Palavra de Deus. A leitura desta carta redigida com tanta simplicidade, recordou-me certos excertos de alguns dos nossos escritores portugueses dos princípios do século passado. Como Frei José Carlos afirma é uma …” Carta interessante pelo pitoresco do quotidiano e pelas preocupações religiosas do jovem José Nunes Martins. “
Permita-me que pergunte se é possível conhecer o percurso do jovem aluno José Nunes Martins, Frei José Carlos?
Grata pela partilha. Bem-haja. Que o Senhor o guarde e abençoe.
Continuação de uma boa noite.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Boa noite Maria José
ResponderEliminarEm parte creio que é possivel conhecer o percurso do José Nunes Martins. É meu desejo publicar nos próximos dias a documentação que nos ajuda a conhecer esse percurso, que infelizmente foi curto, mas significativo pela afectividade e carinho desenvolvidos pela Ordem.
Com um grande abraço de amizade
Frei José Carlos