sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mais um Soneto de Fernanda de Castro

Deixamos aqui o segundo Soneto de Fernanda de Castro encontrado no baú dos velhos papéis e que certamente serviu a algum frade dominicano para um momento de oração, meditação ou actividade lúdica.

Mas, se não te contenta a forma pura,
Se aspiras à parcela de infinito,
Que torna a passageira criatura
Eterna como um bloco de granito,

 
Expia a tua dor como um delito,
Saboreia a volúpia da amargura,
Sofre, transpira sobre a terra dura,
Não soltes uma queixa nem um grito,

 
Procura ser humilde e sobre-humano,
Rasga o teu peito como o pelicano
E não desejes nunca a paz e a calma,

 
Pois só então, regada a fel e a pranto,
Há-de florir, frutificar teu canto,
Presa a raiz à tua própria alma.

 
Ilustração: Árvore com neve no jardim Eaux Vives em Genebra.


1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O soneto de Fernanda de Castro aborda um caminho de grande radicalidade, de grande estoicismo, somente possível a alguns de nós, ou melhor, há períodos, por vezes, demasiado longos no peregrinar da vida, em que vivemos momentos semelhantes, sem termos total consciência dos mesmos e que só a fé pode ajudar-nos a ultrapassá-los, conscientes que somos meros instrumentos …” Procura ser humilde e sobre-humano, …”
    Grata, Frei José Carlos, pela reflexão que nos proporcionou. Que a coragem e a confiança nunca nos faltem.
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o proteja.
    Bom fim-de-semana.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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