terça-feira, 9 de julho de 2013

Multidões fatigadas e abatidas (Mt 9,36)

É ao percorrer as aldeias e cidades, pregando o Evangelho do Reino e curando todas as doenças e enfermidades, que Jesus se confronta com uma realidade que podemos dizer que é nossa, que é presentemente bastante nossa, as multidões fatigadas e abatidas.
Jesus encheu-se de compaixão por elas, pois eram como ovelhas sem pastor, e por essa razão recomendou aos discípulos que pedissem ao senhor da messe que enviasse trabalhadores para a sua seara.
Face às multidões que também hoje andam cansadas podemos seguir a recomendação de Jesus, podemos pedir a Deus que mande trabalhadores para a sua messe, ainda que nos fique a dúvida se tal será suficiente, se não será necessária previamente uma outra atitude.
Jesus constata que as multidões andam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor, e neste sentido devemos perguntar-nos se o problema não está no facto de considerarmos que não temos necessidade de pastor, que somos suficientemente independentes e poderosos para necessitar de alguém.
Podemos tomar como dirigida a nós, nesta linha de pensamento, a queixa de Deus ao profeta Jeremias, “abandonaram-me a mim, nascente de águas vivas e construíram para si cisternas rotas que não podem conter as águas” (Jr 2,13).
Assim sendo, temos que assumir que uma boa parte da nossa fadiga e do nosso abatimento se deve ao abandono de Deus, ao nosso afastamento de Deus, à causa e fim da nossa vida, e portanto vagueamos perdidos sem saber as razões de onde vimos e para onde vamos, quem somos e para quem somos, o que fazemos e porque o fazemos. O resultado de tudo isso é inevitavelmente a fadiga e o abatimento.
Necessitamos por isso fazer nossas as palavras da amada ao amado no Cântico dos Cânticos, “ avisa-me amado do meu coração aonde levas o rebanho a apascentar, onde o recolhes ao meio-dia, para que eu não tenha que vaguear oculta!” (Ct 1,7)
E por muito que nos custe, a resposta do amado é sempre a intimidade com o Rei, a introdução na adega dos melhores néctares, o conhecimento do coração do Pai, o regresso à Fonte de Água Viva, a habitação na vontade de Deus. Ali seremos saciados e sustentados com os mais doces bolos e melhores vinhos, seremos restabelecidos na nossa força e na nossa alegria de viver.
Envia-nos Senhor trabalhadores para a seara porque de facto nos faltam, mas desperta também em nós, e antes de mais, o gosto e o desejo de cuidar da seara que somos e que só pode florir e frutificar se não te abandonar a Ti.
 
Ilustração: “Rebanho”, de Jean-Ferdinand Chaigneau, Galeria de Arte de Manchester.

4 comentários:

  1. Não há dúvida que muito do nosso cansaço, do nosso abatimento vem da falta de concentração em Deus, na procura de pastagens (trabalho?) que nos parecem mais aliciantes. Temos que ser pastores de nós mesmo e, simultaneamente, sê-lo para os irmãos, sem dúvida.É preciso parar e analisar os pontos de apoio e as veredas de deslize. E acreditar que Deus pode. Inter Pars

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  2. Jesus ensina-nos como alcançar o Céu. Jesus trabalha connosco, e é justo, se formos sérios. Até à eternidade Jesus muito nos escuta, e nos motiva a continuar. Porque é Pai, continua em horas difíceis e na Glória do Céu a Mostrar o que do nosso entendimento podemos partilhar. Seguramente nos, é dado novos alicerces. Com vontade e força ao trabalho na "vinha e obra do Senhor". Ao sermos como discípulos do Mestre, e alcançar, em pessoa a humana oração.

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  3. Frei José Carlos,

    Grata, pela bela partilha do Evangelho de São Mateus,vem ao encontro para nos reconfortar e nos ajudar a refletir com mais profundidade..."Como nos diz o Frei José Carlos,temos que assumir que uma boa parte da nossa fadiga e do nosso abatimento se deve ao abandono de Deus,ao nosso afastamento de Deus,à causa e fim da nossa vida e portanto vagueamos perdidos sem saber as razões de onde vimos e para onde vamos,quem somos e para quem somos,o que fazemos e porque fazemos.O importante é o conhecimento do coração do Pai,o regresso à Fonte de Água Viva,a habitação na vontade de Deus.Só assim seremos saciados e restabelecidos na nossa força e na nossa alegria de viver.Obrigada,Frei José Carlos,pelas palavras partilhadas,belas e profundas e,pela beleza da ilustração.Bem-haja.Que o Senhor o ajude e o abençoe.Uma boa tarde.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  4. Frei José Carlos,

    Leio, fico a reflectir na Meditação que partilha e regresso ao texto que teceu. Andamos cansados e abatidos como nos recorda, como ovelhas sem pastor, e se nos faltam à semelhança da afirmação de Jesus trabalhadores para a sua seara, como nos afirma …” devemos perguntar-nos se o problema não está no facto de considerarmos que não temos necessidade de pastor, que somos suficientemente independentes e poderosos para necessitar de alguém.”…
    Como nos salienta …” temos que assumir que uma boa parte da nossa fadiga e do nosso abatimento se deve ao abandono de Deus, ao nosso afastamento de Deus, à causa e fim da nossa vida, e portanto vagueamos perdidos sem saber as razões de onde vimos e para onde vamos, quem somos e para quem somos, o que fazemos e porque o fazemos.”…
    Por um lado, se estou totalmente de acordo com o que li e transcrevi, pergunto, Frei José Carlos, o que fez e faz a Igreja para compreender a mudança dos tempos, nas suas diferentes dimensões, as novas questões com que o homem se debate no quotidiano, sem contrôle, o que fez para olhar e compreender a dinâmica do mundo, para vir ao nosso encontro, para nos acolher na nossa pluralidade, nos diferentes núcleos que somos? E na actualidade, relativamente a vários grupos etários, mas particularmente a uma juventude que na sua maioria cresceu sem qualquer referencial religioso? As minhas afirmações não são uma forma de desculpabilização porque todos estamos implicados e desejo verdadeiramente que o Senhor …”envie trabalhadores para a seara porque de facto nos faltam, mas desperte também em nós, e antes de mais, o gosto e o desejo de cuidar da seara que somos e que só pode florir e frutificar se não te abandonar a Ti”.
    Como fazer …” o regresso à Fonte de Água Viva, a habitação na vontade de Deus “, Frei José Carlos?
    Estendamos as nossas mãos para Deus e ousemos tocar-Lhe, buscando a verdade, o que Ele tem para nos dizer, no silêncio deste entardecer.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas e belas, que nos questionam e desinstalam. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom fim de tarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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