Celebra hoje a Ordem de São Domingos a memória do Beato Henrique Suzo, um dos místicos renanos, a par de Eckhart e Tauler.
Como para quase todos aqueles que, na Idade Média, não nasciam nas famílias reais, pouco ou nada sabemos sobre o seu nascimento e a sua infância. É provável que tenha nascido em Constanza, ou na vizinha cidade de Unterlinden, na região da Suábia, e mais ou menos entre 1295 e 1297.
Aos treze anos entrou na Ordem dos Pregadores, no convento da cidade de Constanza, então da Província da Teutónia. É provável que ali tenha realizado os seus estudos elementares e mais tarde tenha sido transferido para o Studium de Estrasburgo.
Depois de viver cinco anos no convento sem muito fervor, Henrique experimenta uma grande insatisfação com a sua vida e um grande vazio interior, preliminares de uma experiência mística extremamente forte que viverá e o levará à conversão profunda.
Descobre que só o amor de Deus completa e sacia o seu coração ardente e por essa razão quer permanecer tão intimamente unido ao Senhor que num arrebate de paixão grava sobre o seu coração o monograma de Jesus dizendo: “Senhor, único amor do meu coração, vê o enorme desejo da minha alma. Não posso imprimir-te mais fundo. Assim pois, acaba Senhor o que falta e grava-te mais profundamente no fundo do meu coração, esculpe e sela em mim o teu santo nome de modo a que nunca possa apagá-lo nem apartá-lo do meu coração” (Vita, capítulo 4)
Será este momento da vida de Henrique Suzo, que Zurbaran plasmará num quadro que se pode admirar no Museu de Belas Artes de Sevilha, um quadro carregado de misticismo na simplicidade da sua mesma representação.
Este desejo de viver sempre unido a Deus vai ser uma constante na sua vida, que num primeiro momento se traduzirá por uma grande austeridade e mortificação de vida, à semelhança dos Padres do Deserto, cuja vida se lia nas refeições do convento. Tal como os seus contemporâneos considera que o sofrimento é um dado do amor, acompanha o amor e portanto não há amante que não seja mártir.
Anos mais tarde numa outra experiência mística, em que se encontra com a Sabedoria, vai descobrir que os exercícios ascéticos são apenas um bom começo, mas não são o fim. A Sabedoria convida-o a iniciar-se na ciência do abandono total e perfeito, de modo a estar tão despojado de si mesmo que não lhe importe como Deus se manifesta, se por si mesmo, se pela natureza, pelas suas criaturas, se na alegria ou no sofrimento. O importante é a disposição para o acolhimento.
Ao ser enviado para o Studium General de Colónia Henrique em 1324 encontra-se com o Mestre Eckhart, um outro místico, mestre e reformador da vida religiosa. A condenação do Mestre condiciona Henrique Suzo a regressar a Constanza onde viverá vinte anos, até em 1348 ser enviado para Ulm onde permaneceu até ao fim dos seus dias, 25 de Janeiro de 1366.
A tradução da sua obra para latim em 1555 pelo monge cartuxo Lourenço Surio fez com que se difundisse por toda a Europa o seu pensamento e a sua obra, nomeadamente a mais conhecida e reveladora do seu pensamento e da sua mística “Horologium Sapientiae”, “O Diálogo da Sabedoria”.
Neste dia que em que celebramos a sua memória, que o Beato Henrique Suzo interceda por nós e avive em nós esse desejo de união íntima e constante com Jesus.
Ilustração: “Henrique Suzo”, Incunábulo K7 da Biblioteca Nacional e Universitária de Estrasburgo.
Frei José Carlos,
ResponderEliminar“O importante é a disposição para o acolhimento” pode ser a chave para que Deus se manifeste. O texto que elaborou e ilustrou com tanta beleza sobre o Beato Henrique de Suzo, no dia em que a Ordem dos Pregadores celebra a sua memória, faz-nos "reavivar o desejo de união íntima e constante com Jesus", como nos salienta.
Obrigada, Frei José Carlos, por esta partilha tão importante, na qual ficámos a conhecer alguns detalhes da vida de um Beato dominicano que nos ajuda a reflectir. Que o Senhor abençoe e proteja o Frei José Carlos.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva