sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa. (Mc 2,11)


Jesus está de volta a Cafarnaum e perante uma multidão que se aglomera diante da porta quatro homens introduzem um paralítico pela cobertura da casa. Um acontecimento inusitado, uma extravagância, um comportamento no mínimo passível de crítica e condenação. Mas a fé daqueles homens é bastante para se arriscarem ao vexame de tal entrada e à introdução do paralítico no meio da cena e diante de Jesus.
Para Jesus, e face a tal ousadia, é a oportunidade de revelar o sentido da sua missão, da sua acção e palavra. Ele não é mais um curandeiro que aparece entre os homens, é a verdadeira cura para todos os males que afectam o homem. Males esses que brotam dessa realidade que se chama pecado, realidade que paralisa o homem, que o verga ao peso da sua própria carga.
Por isso, e ainda que não houvesse qualquer juízo por parte dos assistentes fariseus, Jesus não podia deixar de dizer àquele homem, “levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa”. Jesus não podia deixar de o erguer da sua condição de paralisado, de condenado a suportar a distância de Deus na sua mesma condição humana.
Tal como aconteceu ao primeiro homem, que Deus levantou do pó da terra para lhe dar a vida e entregar toda a criação, também com este paralítico, e nele toda a humanidade, se ergue um novo homem, uma nova humanidade. A ordem é para se levantar para a filiação, para a nova condição de filho de Deus.
E nesta condição, sabendo-se e sendo filho de Deus, pode carregar com a sua enxerga e voltar para casa. Casa paterna, para onde se pode regressar depois do Filho verdadeiro ter aberto a porta e nos ter ensinado o caminho.
Regressamos à casa paterna carregando a enxerga da nossa própria condição humana resgata e redimida por Jesus Cristo. Não há outra forma, nem outro caminho, porque sem a enxerga da nossa humanidade não há caminho possível, nem a fazer. Nesta terra e neste mundo, esta é a nossa condição, é a via de acesso à casa do Pai.
Levanta-nos Senhor com a tua graça das nossas paralisias, das nossas cadeias e grilhões, e ajuda-nos a carregar a nossa condição nos seus limites e fragilidades, nas tentativas de fidelidade e nas incoerências, esta enxerga que o tempo vai desfazendo e remoendo, para que o caminho de regresso a casa seja suave e ligeiro, expectante do encontro nos teus braços.

Ilustração: “Mudança de casa”, de Viktor Vasnetsov, Galeria Tretyakov, Moscovo.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e partilha connosco é profundo e belo. Como nos salienta, a introdução de um paralítico pela cobertura da casa, é ...” Para Jesus, e face a tal ousadia, a oportunidade de revelar o sentido da sua missão, da sua acção e palavra. (…)
    (…) Jesus não podia deixar de o erguer da sua condição de paralisado, de condenado a suportar a distância de Deus na sua mesma condição humana.
    Tal como aconteceu ao primeiro homem, que Deus levantou do pó da terra para lhe dar a vida e entregar toda a criação, também com este paralítico, e nele toda a humanidade, se ergue um novo homem, uma nova humanidade. A ordem é para se levantar para a filiação, para a nova condição de filho de Deus.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e oremos ...” Levanta-nos Senhor com a tua graça das nossas paralisias, das nossas cadeias e grilhões, e ajuda-nos a carregar a nossa condição nos seus limites e fragilidades, nas tentativas de fidelidade e nas incoerências, esta enxerga que o tempo vai desfazendo e remoendo, para que o caminho de regresso a casa seja suave e ligeiro, expectante do encontro nos teus braços.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, que nos encorajam, por nos proporcionar o sentido deste acontecimento, da transformação que Jesus trouxe à condição humana, ao erguer-nos para a “nova condição de filhos de Deus”. Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Mais uma vez, Frei José Carlos, nos faz cair em nós ao fazer a ponte entre o paralítico e o homem levantado do pó da terra, o pai da Humanidade. Não deixa, porém que congelemos no sofrimento, indicando-nos a casa do Pai pela mão do Filho que nos ensina o caminho. Mais uma vez me apraz dizer-lhe que vem sempre a propósito das nossas "paralisias",mitigando-as com a sugestão da oração que suaviza o regresso ao colo do Pai.
    Sempre grata,
    GVA

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