quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Frei Pie Jougla Vigário dos Dominicanos em Portugal de 1928 a 1937

Frei Pie Jougla nasceu em França em 1868. Em 1880 fazia a sua Primeira Comunhão e em 1890 entrava na Ordem dos Pregadores.
Dotado de grandes qualidades de inteligência e coração distinguiu-se como Padre Mestre na Itália e em França, exercendo esse cargo durante quase vinte anos.
Em 1920 foi nomeado Prior de Toulouse, depois Vigário de Montpellier, e em 1925 foi eleito Prior do Convento de Saint-Maximin.
Em 1927 é enviado pelo Mestre da Ordem frei Boaventura Garcia de Paredes para restaurar a antiga Província dominicana portuguesa. Chega a Portugal em Janeiro de 1928 data em que entra no exercício das suas funções de Vigário Geral do Mestre da Ordem para Portugal, cargo que exerceu de forma incansável até ao momento em que faleceu em França no dia 16 de Novembro de 1937.
Ao chegar a Portugal a sua primeira tarefa foi aprender o português, algo um tanto ou quanto dificultado pela idade e pela experiência da língua italiana que tinha aprendido aquando da sua passagem por Itália. O seu esforço e empenho heróicos conseguiram que se fizesse perceber e assim um ano mais tarde escreve para França que irá pregar um retiro aos Seminaristas do Seminário de Coimbra, mas consciente que é uma missão penosa para um francês recém-chegado.
Contudo, se não chegou a manejar facilmente o português, a verdade é que os erros que dava eram facilmente resgatados e perdoados pela profundeza da sua doutrina e pela clareza da exposição de argumentos. Os ouvintes gostavam de o escutar.
Durante três anos governou a pequena comunidade do Luso e a sua Escola Apostólica, ocupando-se aí por vezes do ensino da Filosofia e do Latim. Face à entrada de alguns jovens para o Noviciado, quis levar mais à frente a sua acção restauradora da Província e para isso abriu uma casa em Coimbra, deixando à frente da Escola Apostólica do Luso frei François Cazes, vindo de França especificamente para essa missão.
Face ao desenvolvimento da comunidade do Luso, com o aumento do número de alunos, fez-se sentir a necessidade de uma outra casa para a Escola. Foi frei François Cazes que pediu autorização para a Escola se transferir para Mogofores, onde se ofereciam pelo menos temporariamente melhores condições numa casa mais ampla e desafogada.
Como os meios financeiros disponíveis não eram muitos limitaram-se as obras de adaptação da casa ao essencial, permitindo contudo que ainda assim se alojassem quinze alunos. Como frei Pio Jougla queria os alunos bem formados redigiu conjuntamente com frei Henrique Abadie, entretanto também chegado de França, o regulamento da Escola.
Em 1933, e depois de frei François Cazes ter sido chamado de regresso a França, ficou a faltar em Mogofores um Superior que continuasse o objectivo estabelecido de formação. Frei Pio Jougla viu-se assim obrigado a deixar a casa de Coimbra e a assumir esse cargo e tarefa.
O ano de 1934 foi um ano de provação para frei Pio Jougla, pois levantavam-se no ar sérias dificuldades para o pequeno grupo de frades. A Casa de Coimbra, onde tinham ficado três irmãos, viu-se obrigada a fechar, desfazendo-se dessa forma as grandes esperanças e aspirações do padre Jougla de estar no meio universitário, tal como São Domingos tinha ordenado aos seus irmãos.
O projecto de Coimbra ainda que humilde era oportuníssimo, pois como expressa em 1931 era uma forma de estar junto dos meios intelectuais, dos jovens, do seminário diocesano, das Irmãs Dominicanas que já ali estavam instaladas e das Fraternidades da Ordem Terceira que também já ali existiam. Desfeita a precária realização do sonho nunca desistiu dele totalmente e por isso quando os irmãos portugueses em 1936 lhe apresentam a proposta de uma comunidade na cidade do Porto, frei Pio Jougla expressa a sua preferência e vontade de voltar a Coimbra.
Devido à sua idade e experiência conhecia bem os homens e as Constituições da Ordem e por isso a ele se deve não só a introdução do uso do hábito dentro de casa como também de uma certa regularidade de práticas e costumes. A sua acção inspirada pelas circunstâncias foi resolver as dificuldades que a missão lhe oferecia e ir formando nos seus irmãos um verdadeiro e integro espírito e vida dominicanos.
Este espírito formativo dominicano estendia-se para além das paredes da casa e alcançava as Fraternidades da Ordem Terceira, que visitou por todo o país, e as Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, nomeadamente através dos conselhos seguros e cheios de caridade que facultou à Madre de São João Evangelista Vidal enquanto Madre Geral da Congregação.
Fora do âmbito dominicano não se podem deixar de referir a conferência proferida aos estudantes do CADC, profundamente apreciada, e as conferências que quinzenalmente ministrava aos estudantes do Seminário Maior de Coimbra, no qual no ano lectivo de 1931-1932 foi professor de Ascética e Mística. Foi também convidado pelo bispo de Portalegre, D. Domingos Frutuoso a exercer o mesmo ministério junto dos seus seminaristas, mas a saúde precária já não lhe permitiu tal trabalho.
Em Coimbra exerceu ainda, a pedido do bispo da diocese, o acompanhamento dos membros da Congregação dos estudantes filhos de Maria, realizando dessa forma um apostolado fecundo junto daqueles que eram considerados a elite dos estudantes católicos na universidade de Coimbra.
A precariedade da sua saúde, já na fase final da sua vida, fez com que em alguns momentos não fosse compreendido pelos irmãos e comunidade da Escola Apostólica de Mogofores, e obrigou-o a retirar-se para França com a promessa de visitar os irmãos portugueses cada três meses. Ainda que distante esteve sempre a par de tudo o que se passava na Escola Apostólica e assim quando depois da nomeação de frei Gil Alferes para Superior em Outubro de 1936 são redistribuídos os cargos comunitários escreve de França a contestar e a proibir uma nomeação realizada.
Se os seus planos iniciais de Restauração da Província falharam e em muitos aspectos ficaram aquém do desejado, isso deve-se à falta de elementos de suporte, a uma ajuda que lhe foi prometida pelo Mestre da Ordem e que ele não soube pedir ou nunca lhe foi facultada. Ainda assim, a Restauração da Província deu os primeiros passos de uma forma pacífica e firme e à data da sua morte em 1937 a Escola Apostólica de Mogofores tinha seis sacerdotes, quinze alunos, e seis estudantes superiores em França.

Ilustrações:
1 – Memória da Morte de Frei Pie Jougla.
2 – Grupo de Irmãs da Ordem Terceira Dominicana com os Padres em Mogofores em 1937. Encontram-se presentes frei Tomás Maria Videira, frei Clemente de Oliveira e de hábito completo frei Gil Maria Alferes.
3 – Grupo de Irmãs de Santa Catarina de Sena do Colégio de São José de Coimbra em 1937 com frei Gil Maria Alferes.
4 – Grupo dos quinze alunos da Escola Apostólica de Mogofores em 1937 com frei Tomás Maria Videira. Sentado à direita de frei Tomás, parece ser Agostinho da Fonseca Rodrigues, e o mais alto do lado direito Raul de Almeida Rolo. Identidades a necessitar confirmação.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse o texto que elaborou e ilustrou sobre a estada de Frei Pie Jougla como Vigário dos Dominicanos em Portugal de 1928 a 1937. É um excelente testemunho dos esforços feitos pelos dominicanos para restaurar a antiga Província dominicana em Portugal. Os dotes de grandes qualidades de inteligência e coração que Frei Pie Jougla tinha como dons recebidos e que soube administrar, estou certa que frutificaram nas diferentes missões que desempenhou na OP ao serviço do próximo.
    Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para implementar os ”planos iniciais de Restauração da Provínicia”, como Frei José Carlos nos salienta ...” a Restauração da Província deu os primeiros passos de uma forma pacífica e firme”…
    Grata por ficarmos a conhecer um pouco mais da História da Ordem dos Pregadores em Portugal no século passado. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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