sábado, 14 de janeiro de 2012

Porque motivo é que ele…? (Mc 2,16)

Jesus convida Levi, filho de Alfeu, a segui-lo e este convida Jesus a comer em sua casa. Um banquete para o qual são muitos os convidados, e a maior parte deles pessoas pouco recomendáveis segundo os critérios sociais do bem receber. Publicanos, pecadores, gente ligada ao império opressor, com vidas e histórias que não são para se contar à mesa.
Contudo, entre os convidados, ou pelo menos entre as testemunhas do banquete, alguns fariseus, alguns escribas, que certamente com um pouco de desprezo se interrogam sobre o motivo de Jesus se juntar àquela gente, ter aqueles comportamentos um tanto ou quanto anti-sociais.
No comportamento de Jesus e na sua estranheza procuram um motivo, uma razão, como se não houve coisas sem razão e sem motivo, como se não houvesse o amor que como a rosa floresce sem porquê.
E tal como eles, como estes escribas fariseus inquietantes e preconceituosos, também nós muitas vezes questionamos o motivo e as razões, nomeadamente daquilo que não se encaixa nas nossas expectativas, nos nossos desejos e parâmetros de valor. Porquê isto e porquê aquilo, qual o motivo disto e a razão daquilo?
Neste comportamento esquecemo-nos da vida de Jesus e da sua abertura a todas as situações, exceptuando a situação do pecado como é óbvio. Quantas vezes ele podia perguntar pelo motivo, pelas razões e não o fez, bem pelo contrário abriu-se à vontade do Pai revelada nessas mesmas situações, nos comportamentos infiéis daqueles mesmos que o seguiam desde o primeiro momento.
Podia ter perguntado a Judas o motivo da traição, a Pedro a razão da negação, a Marta a razão da reprimenda a sua irmã Maria. Não o fez, apenas aceitou a diferença e a vontade dos outros, abrindo-se livremente ao insuspeitado que cada um reclamava.
Peçamos ao Senhor essa liberdade e esse espírito de acolher o outro e as suas diferenças sem qualquer juízo e sem buscar qualquer razão ou motivo, apenas com amor.

Ilustração: “Madalena na casa do fariseu”, de Jean Béraud, Museu d’Orsay, Paris.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Na realidade comportamo-nos, muitas vezes, como algumas das testemunhas do banquete que se interrogam sobre o motivo de Jesus se juntar àquela gente, esquecendo-se como nos diz no texto ...” como se não houvesse coisas sem razão e sem motivo, como se não houvesse o amor que como a rosa floresce sem porquê.”…
    “Que a vida de Jesus e a sua abertura a todas as situações, exceptuando a situação do pecado” nos sirvam de exemplo, de reflexão, (…) para acolher o outro e as suas diferenças sem qualquer juízo e sem buscar qualquer razão ou motivo, apenas com amor”, para aceitar sem preconteitos, o nosso próximo com as suas diferenças e opções de vida.
    Obrigada, Frei José Carlos, por esta importante partilha que nos desinstala. Bem-haja.
    Votos de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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