segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Homilia da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

É com imensa alegria que celebramos o Natal, o mistério de Deus que vem ao nosso encontro, que se fez homem como nós excepto no pecado. É motivo de júbilo e de grande confiança saber que não temos um Deus distante, que nos conhece nas nossas fragilidades e limitações, pois fez também a experiência da nossa condição humana.
Contudo, a festa que hoje celebramos de Santa Maria Mãe de Deus e a leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas dão a esta alegria natalícia uma outra razão para nos alegrarmos e rejubilarmos, é como que a outra face da medalha, pois Deus não só se fez como um de nós como permitiu que nos tornássemos um como ele, filhos de Deus e herdeiros do céu.
E este mistério, esta grande transformação na nossa condição de vida, foi antes de mais vivida por Maria, a jovem virgem de Nazaré que na sua livre vontade acolheu o projecto de Deus possibilitando a encarnação do Verbo de Deus no seu seio. Após a anunciação do Anjo Gabriel da grande bênção que estava destinada ao povo de Israel e a todos os homens de boa vontade, e que começava a vigorar com a aceitação da convidada a nela participar como mãe, Maria transforma-se na portadora da bênção de Deus, na Arca da Nova Aliança destinada a todos os homens.
À semelhança de Maria e como filhos de Deus e herdeiros do Reino dos Céus também nós somos portadores da mesma bênção, usufruímos dela e somos convidados a levá-la a todos os homens. E daqui radica uma grande responsabilidade e um grande perigo pois podemos cair no mesmo erro e tentação que caiu o povo de Israel com a bênção da primeira Aliança dada no Sinai, pensar a Aliança como um privilégio que exclui os outros, quando afinal a Aliança tem como objectivo levar a conhecer o amor de Deus por todos e cada um os homens.
Somos assim herdeiros e filhos para exercer o serviço da bênção, para ser portadores da bênção de Deus para todos os homens e mulheres. Esta é a nossa grande missão e tarefa como cristãos e podemos fazê-lo onde estamos e das formas mais simples possíveis.
Sofremos por vezes essa ilusão de que num país de missão “ad gentes” seríamos mais fiéis a esta nossa condição, que realizaríamos um trabalho mais valioso e útil, pois levaríamos a Boa Nova de Jesus a povos que a desconhecem. Desta forma esquecemos, ou subtraímos a responsabilidade de dar testemunho e ser bênção de Deus nos locais onde estamos, naquilo que fazemos no dia a dia. Esse é o grande desafio e a grande responsabilidade.
Uma palavra amiga, um apoio moral, uma visita a um vizinho que está só, um trabalho feito com honestidade e responsabilidade, uma cooperação com os que necessitam de uma ajuda, até uma responsabilização dos mais novos nas tarefas de casa, podem ser ocasiões para manifestar a bênção de Deus e sermos bênção de Deus para aqueles que estão connosco.
Neste sentido, e para fortalecer a nossa confiança, é exemplar a atitude dos pastores que foram adorar o menino Jesus. Depois de lhes ser dito pelos anjos que lhes tinha nascido o Salvador encontraram-se cara a cara com uma pobre família, um pai e uma mãe, um menino recém-nascido deitado numa manjedoura e alojados entre os animais. Não viram mais que uma pobre cena de exclusão, que uma pobre família sem lugar onde habitar e um menino que nada tinha de extraordinário.
Apesar disso, dessa normalidade rotineira, perceberam que ali mesmo estava a bênção que tinha sido prometida ao povo e lhes tinha sido anunciada. A esperança e o amor revelaram a bênção e a presença de Deus e por isso partiram dali dando graças a Deus e louvando pelo bem que tinha feito ao seu povo. Não era a realidade que era diferente, mas a forma como eles se aproximaram dela é que a fez diferente, reveladora de uma presença divina.
Ora, também nós estamos chamados a aproximar-nos das diversas realidades com essa fé, essa confiança e essa esperança que as faz ser diferentes, que as transforma e nos transforma em bênção de Deus. É afinal esse o sentido do Natal, e por isso o comemoramos, porque acreditamos que Deus se fez presente entre nós, se faz presente e se revela na medida do nosso amor e da nossa esperança.
Todos sabemos aos iniciar este novo ano que as dificuldades que se perspectivam são muitas e diversificadas, mas como dizia o Papa Bento XVI na sua Mensagem para esta Jornada da Paz, se nos unirmos e acreditarmos que Deus está connosco, que nos acompanha na luta para vencer as dificuldades, se confiarmos e tivermos esperança de que poderemos fazer melhor e ultrapassar os escolhos, então seremos verdadeiramente capazes de vencer, e poderemos alegrar-nos porque Deus nos abençoou e nos fez bênção para alguém.
Peçamos para isso a intercessão da Virgem Maria Mãe de Deus, para que nos acompanhe e nos fortaleça com o seu exemplo de coragem e de esperança.

Ilustração: “Virgem Maria com o Menino e Três Querubins”, de Andrea Della Robbia, Museu do Louvre.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao ler este belíssimo texto da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus,Homilía tão rica de sentido e muito profunda.Como nos diz o Frei José Carlos,a festa que hoje celebramos de Santa Maria Mãe de Deus e a leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas dão a esta alegria natalícia uma outra razão de nos alegrarmos e rejubilarmos,é como que a outra face da medalha,pois Deus não só se fez como um de nós como permitiu que nos tornássemos um como ele,filho de Deus e herdeiro do Céu.Obrigada,Frei José Carlos,por esta Meditação maravilhosamente bela,que gostei muito.Peçamos a intercessão da Virgem Maria Mãe de Deus,para que nos acompanhe e nos fortaleça com o seu exemplo de coragem e de esperança.Bem-haja,Frei José Carlos,por este texto que partilhou connosco.Desejo-lhe uma boa noite.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    Leio e fico a meditar nas palavras partilhadas na Homilia da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, como se o escutasse. É um texto profundo, de grande espiritualidade, simples, de desafio, que vem ao encontro de tantas interrogações que nos colocamos (onde e como posso dar melhor testemunho de Deus), de grande beleza estilística e ilustrativa. Permita-me que transcreva algumas das passagens que me tocam.
    ...” a festa que hoje celebramos de Santa Maria Mãe de Deus e a leitura da Carta de São Paulo aos Gálatas dão a esta alegria natalícia uma outra razão para nos alegrarmos e rejubilarmos, é como que a outra face da medalha, pois Deus não só se fez como um de nós como permitiu que nos tornássemos um como ele, filhos de Deus e herdeiros do céu.”…
    …” À semelhança de Maria e como filhos de Deus e herdeiros do Reino dos Céus também nós somos portadores da mesma bênção, usufruímos dela e somos convidados a levá-la a todos os homens.”…
    …” Sofremos por vezes essa ilusão de que num país de missão “ad gentes” seríamos mais fiéis a esta nossa condição, que realizaríamos um trabalho mais valioso e útil, pois levaríamos a Boa Nova de Jesus a povos que a desconhecem. Desta forma esquecemos, ou subtraímos a responsabilidade de dar testemunho e ser bênção de Deus nos locais onde estamos, naquilo que fazemos no dia a dia. Esse é o grande desafio e a grande responsabilidade.
    Uma palavra amiga, um apoio moral, uma visita a um vizinho que está só, um trabalho feito com honestidade e responsabilidade, uma cooperação com os que necessitam de uma ajuda, até uma responsabilização dos mais novos nas tarefas de casa, podem ser ocasiões para manifestar a bênção de Deus e sermos bênção de Deus para aqueles que estão connosco.”…
    ...” Ora, também nós estamos chamados a aproximar-nos das diversas realidades com essa fé, essa confiança e essa esperança que as faz ser diferentes, que as transforma e nos transforma em bênção de Deus. É afinal esse o sentido do Natal, e por isso o comemoramos, porque acreditamos que Deus se fez presente entre nós, se faz presente e se revela na medida do nosso amor e da nossa esperança.”…
    Com humildade, façamos nossas as palavras de Frei José Carlos “Peçamos a intercessão da Virgem Maria Mãe de Deus, para que nos acompanhe e nos fortaleça com o seu exemplo de coragem e de esperança”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pelo desafio que nos deixa, pelo compromisso que devemos assumir para que possamos ...”dar testemunho e ser bênção de Deus nos locais onde estamos, naquilo que fazemos no dia a dia.”
    Peçamos ao Senhor que o abençoe e proteja.
    Votos de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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