terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura. (Mc 3,32)

O comportamento de Jesus provoca a preocupação da família que parte à sua procura no intuito de o fazer regressar a casa. Ao chegarem à casa onde ele se encontrava tiveram que ficar fora uma vez que era impossível chegar junto dele devido à multidão que o rodeava.
Alguém ao dar conta do sucedido avisa Jesus daqueles que estão fora e o procuram, da sua família que o quer levar de volta a casa. É então que Jesus profere uma palavra que nos deixa surpreendidos, porque no grupo de fora estava a sua Mãe, aquela que tinha aceite fazer a vontade de Deus.
Contudo, esta aparente desconsideração de Jesus para com sua mãe visa marcar uma fronteira, limitar campos. A expressão de Jesus, tomada e reforçada pelo Evangelista Marcos visa mostrar a diferença entre os que estão fora e os que estão à sua volta, entre os que estão dentro de casa e gozam da sua intimidade e aqueles que o buscam ainda sem sentido ou erradamente.
O grupo da família de Jesus, no qual se insere sua mãe certamente por pressão do grupo patriarcal, representa aqueles que buscam Jesus pela sua relação familiar, numa tentativa de posse e apropriação. E neste sentido, este episódio pode ter sido para Maria um ponto de viragem, uma demonstração de que afinal o seu filho não era sua propriedade, era Filho de Deus e por isso só podia ser acolhido na amplitude da sua liberdade.
Aqueles que estão dentro da casa, pelo contrário são aqueles que ouvem a palavra, ouvem Jesus e o acompanham sem mais qualquer outra pretensão que a escuta da sua palavra, a sua companhia e a partilha desse Reino de verdade e justiça que anuncia.
Também nós necessitamos purificar-nos na nossa busca de Jesus, passar a fronteira da tentativa de apropriação para gozarmos apenas da sua presença sem qualquer outra pretensão.

Ilustração: “Jesus despedindo-se de sua Mãe”, de Albrecht Altdorfer, National Gallery, Londres.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    A Meditação que partilha connosco ao recordar-nos um excerto do Evangelho de hoje (Mc 3,32), mostra-nos um Jesus que fez a escolha de uma família espiritual, cumprindo a vontade de Deus. Jesus fez o que pediu aos seus discípulos. Maria também cumpriu a vontade divina. Porém, Maria era humana, e Frei José Carlos sabe quão difícil é, por vezes, compreender que os laços filiais não são laços de propriedade, de posse.
    Como nos salienta ...” este episódio pode ter sido para Maria um ponto de viragem, uma demonstração de que afinal o seu filho não era sua propriedade, era Filho de Deus e por isso só podia ser acolhido na amplitude da sua liberdade.”…
    Aceitemos com humildade a exortação que nos faz ...” Também nós necessitamos purificar-nos na nossa busca de Jesus, passar a fronteira da tentativa de apropriação para gozarmos apenas da sua presença sem qualquer outra pretensão.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha que nos faz reflectir sobre a relação de cada um de nós, com Jesus. Bem-haja.
    Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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