A vida de Jesus está marcada por esta oscilação entre a vida pública e a vida privada, entre o encontro com as multidões e a solidão. Nos Evangelhos são vários os momentos em que Jesus se retira para estar sozinho e nessa solidão orar ao Pai.
Aquele que certamente mais recordamos é o momento após o milagre da multiplicação dos pães e prévio ao encontro dos discípulos caminhando sobre as águas. Entre um e outro momento Jesus recolhe-se no silêncio e na solidão. Também na narração que São Marcos nos faz da primeira estadia de Jesus em Cafarnaum, com a cura da sogra de Pedro, encontramos um momento de recolhimento e oração.
Depois de ter passado o final do dia a curar todos aqueles que se tinham aglomerado à porta da casa de Pedro, e da noite de descanso, Jesus levanta-se bem cedo e recolhe-se a orar num sítio ermo, num sítio que obriga o discípulos a procurá-lo para lhe comunicarem que todos os buscam.
É um momento crucial para Jesus, um momento de opções, uma vez que face a essa busca por parte das multidões, à fama que se ia espalhando em Cafarnaum, Jesus decide alargar o seu campo de missão e partir para anunciar a Boa Nova aos outros povoados.
Face à procura, ao prestigio, a uma dimensão de curandeiro, às possibilidades de um estilo de vida mais confortável, Jesus opta por uma outra vida e uma outra via, um peregrinar pelos homens para que se possam encontrar com a sua verdade e a verdade salvadora de Deus.
O silêncio no qual Jesus se refugia e ora ao Pai é assim a possibilidade do momento do encontro, da recondução à vontade e projecto do Pai, que nos seus objectivos se distancia dos desejos mais imediatos dos homens.
Neste sentido também os nossos momentos de silêncio, cada vez mais necessários, devem ser momentos de encontro e confronto com a vontade de Deus Pai para nós e cada um daqueles que está à nossa volta. Necessitamos desapropriar-nos de nós próprios para nos encontrarmos com Deus que vem também ao nosso encontro nesse mistério de desapropriação divina que é a encarnação.
Como nos diz Maurice Zundel, “há uma só coisa que é necessária, que é eficaz, é esse silêncio onde se escuta o homem e Deus, um silêncio que se torna um espaço, um espaço ilimitado de amor e de luz” (Ta Parole comme une source). Busquemos assim o silêncio que se faz habitação.
Ilustração: “Jesus rezando no jardim, com São Francisco e São Domingos”, de Marco Basaiti, Academia de Veneza.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarNo texto da Meditação sobre o Evangelho do dia (Mc 1,35) salienta-nos duas atitudes relevantes na vida de Jesus e na vida de cada um de nós. A resposta que Jesus dá a Simão e aos se que encontravam com ele quando disseram que o procuravam, lembrando-lhes que saíra para proclamar a Boa Nova noutros lugares, é como nos diz “um momento crucial para Jesus, um momento de opções”. ...” Jesus opta por uma outra vida e uma outra via, um peregrinar pelos homens para que se possam encontrar com a sua verdade e a verdade salvadora de Deus.”…
Como nos salienta, à semelhança de outros momentos da vida de Jesus, …” Também na narração que São Marcos nos faz da primeira estadia de Jesus em Cafarnaum, com a cura da sogra de Pedro, encontramos um momento de recolhimento e oração.”…
E como nos recorda …” O silêncio no qual Jesus se refugia e ora ao Pai é assim a possibilidade do momento do encontro, da recondução à vontade e projecto do Pai, que nos seus objectivos se distancia dos desejos mais imediatos dos homens.”…
Bem-haja por nos lembrar que ...” também os nossos momentos de silêncio, cada vez mais necessários, devem ser momentos de encontro e confronto com a vontade de Deus Pai para nós e cada um daqueles que está à nossa volta” (…) “buscando assim o silêncio que se faz habitação.”
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda e bela. Que o Senhor o abençoe e proteja.
Continuação de uma boa semana.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.
O QUE NASCE
DO TEU
SILÊNCIO
Conta-se que os Padres do Deserto quando chegava alguém pela primeira vez, não falavam.
Recebiam o outro em silêncio.Porque pensavam: “se o meu silêncio não o conseguir iluminar
quanto mais a minha palavra”. “Ama o silêncio acima de tudo, ele transporta um fruto que
a língua é incapaz de descrever. No nosso silêncio nasce alguma coisa que nos atrai ao silêncio.
Que Deus te conceda compreender e acolher o que nasce do teu silêncio”.É isso que hoje te peço, Senhor.
Que eu guarde o Teu silêncio com confiança e que ele abra, pouco a pouco, o meu coração à escuta não só
do presente, das necessidades do presente, mas também daquilo que há-de vir.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)