terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Não temas porque basta que tenhas fé. (Mc 5,36)

Jesus passa à outra margem do lago e logo o rodeia uma multidão ansiosa da sua palavra, das suas curas, dos seus milagres. Entre a multidão duas pessoas se destacam, ambas sofrem e ambas possuem uma grande fé pronta a manifestar-se em gestos concretos.
A primeira dessas pessoas é o chefe da sinagoga, Jairo de seu nome, que sem qualquer medo, sem qualquer vergonha, se lança aos pés de Jesus para que vá a sua casa curar a filha que jaz doente. Um pedido de vida que manifesta a fé no Senhor da vida.
O Senhor irá a sua casa a curará a sua filha, erguê-la-á da cama em que se encontra, como fez e faz com todos os homens e mulheres que lhe pedem a vida, uma cura de vida. Afinal o mistério da vida de Jesus, da sua encarnação, tem apenas esse objectivo, erguer o homem, reerguê-lo à sua condição de filho de Deus.
A outra pessoa que se encontra no meio da multidão é a mulher que sofre de um fluxo de sangue e perdeu tudo em médicos que não a curaram. Ao contrário de Jairo que se lança aos pés de Jesus sem qualquer medo, esta mulher vem temerosa, sem desejar expor-se, apenas confiante que o toque na orla do manto será suficiente para ficar curada. E de facto fica curada, mas fica também exposta, porque Jesus se apercebe da força da fé que o toca mesmo na orla do manto.
Tanto Jairo como a mulher manifestam a sua fé em Jesus e ele manifesta-se a cada um deles como disponível e atento, como aberto a ser convidado a ir a casa ou a deixar-se tocar. Face a estas atitudes podemos assumir a liberalidade de Jesus, o seu amor para com todos aqueles que o procuram com fé e esperança, mostrando-nos que está disponível para ser acolhido em casa como para ser tocado fugazmente. O importante é a fé na busca e a esperança do encontro.
Neste sentido, e num mundo cada vez menos crente, menos esperançado, onde a desconfiança impera e a dúvida se insinua tão frequentemente no coração do homem, esmagando-o na sua humanidade tão rica de potencialidades, Jesus espera de nós um caminhar contra a corrente, uma manifestação de fé e esperança sem desfalecer, porque acreditamos firmemente que ele é o Senhor da Vida. Ou não acreditamos?

Ilustração: “A Cura da filha de Jairo”, de Ilya Jefimowitsch Repin, Museu Estatal Russo, São Petersburg.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio cada uma das palavras do texto da Meditação que partilha connosco e como nos diz que ...” O importante é a fé na busca e a esperança do encontro”. Fico longamente a reflectir, a questionar-me sobre a interrogação , o desafio que nos deixa no fim da partilha. Tenho fé, mas tenho momentos, sou surpreendida por períodos de dúvida quando menos espero. Num mundo cada vez menos crente, em que assumir-se como cristão é estar fora da corrente, da normalidade, é necessário uma fé inabável, alimentá-la de várias formas, viver uma vida em que a espiritualidade faz parte integrante de todos os nossos gestos, para proceder como nos salienta …” Jesus espera de nós um caminhar contra a corrente, uma manifestação de fé e esperança sem desfalecer, porque acreditamos firmemente que ele é o Senhor da Vida.”…
    Eu creio, Senhor, mas ajuda-me a reforçar a minha fé.
    Obrigada, Frei José Carlos, por esta profunda partilha que nos desinstala. Que o Senhor abençoe e proteja o Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    acção de graças

    “nós te damos graças/por este dia, este lugar de trânsito,/esta mesa e este pão partido//

    ensina à nossa vida o dom,/a graça da partilha,/não a predação//

    nós te pedimos por Cristo,/o dom perfeito para todos/e pelo Espírito, o poço/
    da nossa comunhão no tempo”

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

    ResponderEliminar