sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Conforme eram capazes de entender (Mc 4,33)

Conta-nos São Marcos que Jesus pregava à multidão em parábolas, conforme eram capazes de entender, mas aos discípulos tudo lhes explicava.
Há nas parábolas de Jesus, e assim nos é dito em outra passagem do Evangelho, um desejo de inexplicável, um desejo de que aqueles que ouvem as parábolas não as entendam apesar de as ouvirem.
Contudo, São Marcos deixa escapar a afirmação de hoje e com ela mostra-nos que se havia da parte de Jesus um certo ocultamento, havia também uma preocupação pedagógica. Afinal assim nos é dito neste trecho do Evangelho, Jesus procurava revelar e dar a conhecer o Reino de Deus, de acordo com as capacidades de compreensão do seu auditório.
Esta posição é confirmada e corroborada na medida dos próprios exemplos que Jesus utiliza nas parábolas, vinha, sementes, terra, semeador, um conjunto de realidades que faziam parte do quotidiano dos seus ouvintes e do seu conhecimento empírico.
Neste sentido temos que reconhecer que a própria Boa Nova de Jesus, a revelação está conforme à nossa capacidade de entender, de conhecer, e portanto todas as realidades divinas que se nos tornam perceptíveis são apenas uma pálida imagem da realidade.
A bondade de Jesus que conhecemos é uma ínfima parte da sua verdadeira e divina bondade, o seu amor presente nas nossas vidas é apenas um leve toque do seu amor divino. O mistério da encarnação do Filho de Deus é apenas uma equação adaptada à nossa capacidade, porque ele é muito mais do que o homem pode imaginar ou conceber.
Face a isto podemos soçobrar, reduzidos à inveja e à frustração da nossa incapacidade, ou pelo contrário animar-nos a dar graças a Deus por tudo o que Deus fez e faz por nós, e nos ultrapassa no nosso conhecimento e capacidade de abarcar.
Esse dar graças certamente abrirá o nosso coração à humildade e capacitar-nos-á pela mesma humildade a reconhecer e conhecer o que mais há ainda para conhecer e entender de Deus. Não desperdicemos a oportunidade.

Ilustração: “Santa Face”, de Francisco de Zurbaran, Museu Nacional de Stockholm.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos salienta no texto da Meditação que partilha connosco ...” A bondade de Jesus que conhecemos é uma ínfima parte da sua verdadeira e divina bondade, o seu amor presente nas nossas vidas é apenas um leve toque do seu amor divino. O mistério da encarnação do Filho de Deus é apenas uma equação adaptada à nossa capacidade, porque ele é muito mais do que o homem pode imaginar ou conceber,” ajuda-nos a reforçar a nossa fé, a acreditar na bondade infinita de Jesus.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que vêm …”animar-nos a dar graças a Deus por tudo o que Deus fez e faz por nós, e nos ultrapassa no nosso conhecimento e capacidade de abarcar.” Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.


    É BOM
    PARA NÓS
    ESTARMOS AQUI

    “Às vezes ponho-me a pensar, Senhor, naquelas palavras que Pedro diz a Jesus em plena
    experiência da Transfiguração: “É bom para nós estarmos aqui!” (Mt17,4). Pedro não
    parece preocupado em aumentar a sua informação, em aproveitar aquela ocasião para
    se lançar noutra coisa qualquer. Ele está simplesmente. Está deliciado, a sentir o prazer
    profundo da manifestação da Divindade de Jesus, a saborear aquele presente, sem mais.
    Ajuda-nos, Senhor, a repetir, como Pedro:”É bom para nós estarmos aqui!”Há quanto tempo
    não dizemos tal coisa? E, contudo, também são para nós essas palavras, também são para nós.”

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011

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