Diz-nos São João na sua Primeira Epistola “que quem confessa o Filho reconhece também o Pai”, uma resposta contundente àqueles que se recusavam a reconhecer Jesus como o enviado de Deus, como o Messias prometido.
Confissão que São João Baptista não teve qualquer problema em formular face às questões que lhe eram colocadas pelos enviados vindos de Jerusalém. Ele reconhecia o Messias já presente entre os homens, ainda que os outros o não conhecessem ou reconhecessem. E ao reconhecê-lo fazia também essa confissão do Pai que o enviava.
Contudo, a confissão de João revela-se de sobremaneira importante, única no seu género, na medida em que se formula sobre a negação de si próprio, sobre o aniquilamento da sua importância face ao Messias que vem e que já se encontra presente.
João não é o Messias, não é Elias, não é o profeta, não é sequer digno de desatar as correias da sandália do Messias que vem depois de si. E nesta negação é significativa porque ao afirmar-se como não sendo, “eu não sou”, João coloca-se nos antípodas da revelação divina, da teofania de Deus a Moisés, que desde a sarça-ardente se assume como “Aquele que Sou”.
João é assim o não divino, o que não é por si mesmo, afinal o puramente humano que se reconhece e afirma como pobre, sem qualquer poder, e que só ganha identidade face ao que vem e é enviado pelo Pai. Há um despojamento e um aniquilamento em João para que o enviado de Deus se possa revelar, e revelar também a si próprio que o espera.
Neste sentido é importante que também cada um de nós assuma este despojamento e esta aniquilação para que o Verbo de Deus se revele, antes de mais a nós e depois aos outros por intermédio de nós. Há uma necessidade de vazio, de concavidade para que o enviado de Deus possa ser acolhido, possa fazer habitação em nós.
Usando uma metáfora oriental é necessário que a nossa taça de chá esteja vazia para que se possa encher, porque se estiver cheia nada mais poderá levar.
Peçamos ao Senhor essa coragem de nos despojarmos de tudo o que nos enche de imagens, de seguranças, de roupagens, para podermos caminhar livres e receptivos ao encontro daquele que nos dá a verdadeira identidade porque “é Aquele que é” e a tudo dá ser e existência.
Ilustração: “Jesus e São João Baptista”, de Matteo Rosselli.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarSeguindo o exemplo de São João Baptista, oremos com o Frei José Carlos pedindo ...” ao Senhor essa coragem de nos despojarmos de tudo o que nos enche de imagens, de seguranças, de roupagens, para podermos caminhar livres e receptivos ao encontro daquele que nos dá a verdadeira identidade porque “é Aquele que é” e a tudo dá ser e existência.”
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva