quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Levanta-te e vem aqui para o meio (Mc 3,3)

A ordem de Jesus ao homem que se encontra na sinagoga com a mão atrofiada é muito clara e precisa, “levanta-te e vem aqui para o meio”. Uma ordem inesperada, sem qualquer acção prévia, quer da parte do homem ou quer da parte de Jesus. Apenas um público expectante, ou algum público previamente expectante.
A ordem de Jesus ao homem que tem a mão atrofiada deve contudo obrigar-nos a pensar no que ela representa, porque inevitavelmente coloca o homem e coloca-nos a cada um de nós sobre a mira do olhar. Com a nossa mão atrofiada somos convidados a levantar-nos e a colocar-nos no meio, num centro de atenções.
Isto pode representar um problema sério para aqueles que são mais tímidos, para os mais envergonhados, pode ser também uma armadilha para os vaidosos e orgulhosos. Porque o colocar-se no centro significa ficar exposto com todas as suas fragilidades e defeitos, com todas as suas misérias, afinal com a mão atrofiada pela falta de justiça, a mentira ou a falta de caridade. E tanto o tímido como o vaidoso não estão isentos da verdade das suas incongruências e infidelidades.
Há contudo essa necessidade de se colocar no meio, de se revelar na sua dimensão de fragilidade e pequenez, porque só dessa forma poderemos obter a cura que Jesus nos oferece. Mas se o fazemos, e com um pouco de fortaleza e buscando a verdade, é porque previamente nos levantámos, nos dispusemos ou predispusemos a colocar-nos sob a mira de todos os olhares.
Neste sentido podemos dizer um pouco como David a Golias, “eu vou contra ti em nome do Senhor do universo”, ou seja, eu exponho-me ao visionamento das minhas misérias para as poder vencer por esse mesmo Deus que me dá força para as enfrentar.
Tudo acontece e tudo é possível à luz da graça de Deus, dessa força e dessa coragem que nos dá para lutarmos e nos colocarmos em campo de batalha. Munidos da armadura da fé e das armas do seu amor por nós podemos entrar na arena e alcançar a vitória da própria acção de Deus em nós.
Como David e como o homem da mão atrofiada não tenhamos medo do campo de combate nem do meio do círculo, entremos e corramos confiantes que a vitória já nos foi alcançada por aquele mesmo que nos colocou em combate.

Ilustração: “David e Golias”, carvão e sanguínea, de Cavalier d’Arpino, Museu de Belas Artes de Lille.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir no texto da Meditação que teceu a partir da ordem de Jesus ao homem que se encontra na sinagoga com a mão atrofiada, “levanta-te e vem aqui para o meio” (Mc 3,3).
    Como nos recorda …”o colocar-se no centro significa ficar exposto com todas as suas fragilidades e defeitos, com todas as suas misérias, afinal com a mão atrofiada pela falta de justiça, a mentira ou a falta de caridade. E tanto o tímido como o vaidoso não estão isentos da verdade das suas incongruências e infidelidades.”…
    Como nos salienta “o colocar-se no centro” é uma condição prévia, para obtermos a cura que Jesus nos oferece. Mas Frei José Carlos vai mais além, ao dizer que só conseguimos dar esse passo, essa exposição, mostrarmo-nos como somos, …” com um pouco de fortaleza e buscando a verdade, é porque previamente nos levantámos, nos dispusemos ou predispusemos a colocar-nos sob a mira de todos os olhares”… (…), …“eu exponho-me ao visionamento das minhas misérias para as poder vencer por esse mesmo Deus que me dá força para as enfrentar.”…
    Bem-haja por nos afirmar que …” podemos entrar na arena e alcançar a vitória da própria acção de Deus em nós, unicamente “munidos da armadura da fé e das armas do seu amor por nós”…
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda e bela Meditação, que nos encoraja a prosseguir o Caminho por muitos escolhos que encontremos”. Que o Senhor o abençoe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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