sábado, 3 de março de 2012

Amai os vossos inimigos (Mt 5,44)

Podemos perguntar quem tem a ousadia de nos deixar esta recomendação, este mandamento. Quem, nos conhecendo minimamente, nos recomenda que amemos os nossos inimigos, quando já é tão difícil perdoar qualquer coisa que nos ofenda?
Olhando com lucidez para este mandamento e a sua exigência não podemos deixar de assumir que de facto só Cristo nos podia deixar este preceito, só aquele que inocentemente foi crucificado, o verdadeiro inocente, é que tinha o direito de nos deixar esta recomendação.
E isto porque também só ele teve o conhecimento profundo e total de como o perdão até ao limite último do amor é libertador, só ele sabe o quanto o homem é capaz de realizar no caminho do bem, só ele conhece na maior profundidade e verdade a grandeza do homem e a potencialidade de santidade que o habita. Como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem esse conhecimento é pleno e total.
E por isso o mandamento não é nada de exorbitante, de impossível, bem pelo contrário, é mais um meio colocado ao serviço do homem para avançar na semelhança com Deus, com o seu Criador e Salvador.
Filhos adoptivos, pela graça obtida por Jesus, somos chamados a viver essa radicalidade divina, a fazer essa experiência de nos aproximarmos cada vez mais da perfeição do Pai que perdoou os pecados dos homens através da entrega do seu Filho bem amado, somos convidados a assemelhar-nos cada vez mais ao Pai.
Um Pai que apesar das nossas fragilidades e infidelidades acredita que somos capazes, acredita em nós até ao ponto de nos propor o aparentemente impossível, ainda que possível para aqueles que amam como o Pai.
Cabe-nos assim, a cada um de nós, procurar não decepcionar esta confiança e fé que o Pai coloca em nós através desta proposta radical de Jesus.

Ilustração: “Ecce Homo”, de Vasiliy Poznanskiy, Museu do Kremlin de Moscovo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao reflectirmos na exortação que Jesus faz aos discípulos...“Eu digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”, como nos diz no texto da Meditação que partilha connosco,….” não podemos deixar de assumir que de facto só Cristo nos podia deixar este preceito, só aquele que inocentemente foi crucificado, o verdadeiro inocente, é que tinha o direito de nos deixar esta recomendação. (…)
    (…) ” só ele teve o conhecimento profundo e total de como o perdão até ao limite último do amor é libertador, só ele sabe o quanto o homem é capaz de realizar no caminho do bem, só ele conhece na maior profundidade e verdade a grandeza do homem e a potencialidade de santidade que o habita.”…
    Como nos salienta como …”Filhos adoptivos, pela graça obtida por Jesus, somos chamados a viver essa radicalidade divina, a fazer essa experiência de nos aproximarmos cada vez mais da perfeição do Pai que perdoou os pecados dos homens através da entrega do seu Filho bem amado, somos convidados a assemelhar-nos cada vez mais ao Pai”…
    A universalidade do amor de Deus, o perdão dos nossos pecados, a misericórdia infinita com toda a Humanidade, é para todos nós, um permanente desafio para vivermos a proposta radical divina, como nos recorda.
    Que no nosso peregrinar o Senhor nos conceda o dom do perdão em permanência e em todas as circunstâncias da nossa existência.
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, por nos enfatizar que Deus é …”Um Pai que apesar das nossas fragilidades e infidelidades acredita que somos capazes, acredita em nós até ao ponto de nos propor o aparentemente impossível, ainda que possível para aqueles que amam como o Pai.”
    Que o Senhor ilumine e guarde o Frei José Carlos.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    tropeçar

    tu que conheces as pedras/em que tropeçamos/ou em que fazemos os outros tropeçar/
    porque essa é a lógica do desejo/que nos cega os olhos/e nos traz acorrentados à ambição e ao ressentimento,//

    abre o nosso coração ao acolhimento/que não aliena/e os nossos olhos ao Evangelho/que não se muda em ídolo//

    pedimos-te, Deus/que não nos tornemos obstáculos/uns para os outros,/nem o sabor violento da violência/seja
    a palha no olho do irmão que julgamos sempre,/nós que vivemos debaixo da tua cruz/esperando que se cumpram
    em nossa vida/os dias da tua criação contínua/e o dom do teu amor no Cristo/que venceu a morte/e no Espírito
    que nos faz rezar-te/hoje e nos dias todos da nossa esperança

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

    ResponderEliminar