domingo, 11 de março de 2012

Bodas de Ouro da Restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores

Cumprem-se hoje cinquenta anos sobre a restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores, ocorrida a 11 de Março de 1962, em Fátima, com a presença do Mestre da Ordem frei Michael Browne.
Apresentamos a notícia publicada no “Diário de Notícias” de 12 de Março de 1962, e na qual é feita uma descrição pormenorizada de todos os actos da cerimónia. As fotografias do Arquivo Histórico ilustram o desenrolar das cerimónias.

OS ACTOS DE RESTAURAÇÃO DA PROVÍNCIA DE PORTUGAL DA ORDEM DE S. DOMINGOS NO CONVENTO DOMINICANO DE FÁTIMA

Fátima 11 – Os actos da restauração da Província de Portugal da Ordem de São Domingos, efectuaram-se com extraordinário brilho, no Convento Dominicano de Fátima.

Os actos começaram de manhã na igreja daquele convento, sob a presidência do Cardeal Browne, Mestre Geral dos Dominicanos.

Abriu o acto o Prior do Convento Dominicano de Fátima, frei Alberto Maria Vieira, que pronunciou, em latim, o memorando histórico da gloriosa Província dominicana portuguesa, que, durante mais de seiscentos anos, trabalhou em todo o território lusitano, especialmente na Metrópole, na África e no Oriente, e que extinta em 1834, como as demais ordens regulares, agora se restaura. A seguir, lembrou as condições requeridas pelas leis da Ordem para a constituição de uma Província autónoma, e enumerou as possibilidades dos Dominicanos em Portugal de satisfazerem tais requisitos.

Ouvida a exposição, Sua Eminência o Cardeal Browne deu ordem de se proceder à leitura do documento da Sagrada Congregação dos Religiosos, em que se declara restaurada a Província de Portugal da Ordem de São Domingos. Nesse documento, assinala-se que o território a que se estenderá a acção religiosa da Província de Portugal da Ordem Dominicana é todo o território português, quer na metrópole quer nas províncias ultramarinas.

Constituída a Província, cuidou-se da organização do seu governo interno que, na Ordem Dominicana, é essencialmente o provincial com o seu conselho. Por isso, mandou o Mestre Geral proceder à leitura dos respectivos documentos, em que se nomeava como primeiro Provincial dos dominicanos portugueses o reverendo padre Louis Marie Sylvain, ficando constituído o Conselho pelos reverendos padres Ceslau Salmon, pregador geral e mestre em teologia; Alberto Maria Vieira, prior do Convento de Fátima e directos dos Estudos de Filosofia e Teologia da Ordem Dominicana em Portugal; Domingos Nunes Martins, prior do Convento de São Tomás de Aquino de Queluz; Lourenço da Rocha Creoulo, prior do Convento de Cristo Rei do Porto; frei Raul de Almeida Rolo e frei João Domingos Fernandes, superior e director do Seminário Dominicano do Olival.

Em emocionante cerimónia, em sinal de aceitação dos cargos e responsabilidades para que foram nomeados, aqueles religiosos prostraram-se.

Seguidamente, o Cardeal Browne dirigiu a palavra aos religiosos e à assistência, evocando, eloquentemente, o passado da gloriosa Província Dominicana de Portugal e traçando com amplas perspectivas, as normas para o futuro, que são as características fundamentais da Ordem no mundo: profunda vida de contemplação e elevação doutrinal, segundo São Tomás de Aquino.

Seguiram-se as profissões dos religiosos frei Gabriel Andrade Gonçalves e frei Daniel; finalmente foi concedido o hábito religioso ao engenheiro Octávio Rabaçal Martins, que ingressou na Ordem Dominicana, preferindo a modesta condição de irmão cooperador.

De novo, o cardeal Browne lembrou em discurso cheio de unção, os rigores e obrigações da Ordem Dominicana, e o que chamou os três privilégios dos irmãos cooperadores: ausência de grandes responsabilidades, possibilidade de vida contínua de oração e de serem apóstolos, como cooperadores da comunidade nos conventos dominicanos.

Seguiu-se a Missa solene, em que oficiou como celebrante o Cardeal, acolitado de diácono pelo novo Provincial de Portugal frei Louis Marie Sylvain, como diácono, e pelo padre Sebastian Tauzin, Provincial de Toulouse. O cântico esteve a cargo da comunidade dominicana de Fátima. À homilia, falou eloquentíssima e vibrantemente o senhor bispo do Algarve, D. Francisco Fernandes Rendeiro, membro da Ordem Dominicana em Portugal, afirmando ser aquela uma hora de exaltação, até mesmo para os ossos dos dominicanos que se finaram numa diáspora babilónica, gemendo e suspirando por uma hora que eles, expulsos violentamente dos seus claustros, não puderam ver, mas que se vivia ali graças ao heróico esforço de muitos religiosos, que penaram a sofreram pela obra da restauração da Ordem Dominicana em Portugal.
Terminada a Missa foi servido um almoço no convento ao Cardeal Browne, aos religiosos e a numerosas entidades e convidados.

Assistiram aos soleníssimos actos os senhores Arcebispo de Cizico, Bispos de Leiria e do Algarve, Reitor do Santuário de Fátima, assim como numerosas entidades e Superiores de Ordens religiosas, Vigário do Provincial de São Francisco em Portugal, Comissário Provincial dos Carmelitas, representante do Provincial da Companhia de Jesus e Superiores de todas as comunidades religiosas e Seminários de Fátima.
A Ordem Dominicana fez-se representar pelos Provinciais de Espanha, Toulouse e Canadá, e por delegados dos Provinciais da Irlanda e Filipinas. Entre as individualidades ocupou lugar especial o senhor D. Duarte Nuno, que participou no almoço oferecido aos Cardeal Browne.

Aproveitamos para apresentar as fotografias dos actos do Cardeal Bowne na véspera da restauração, ou seja, a sua chegada a Lisboa e alocução aos microfones da Emissora Nacional, a visita ao Convento de São Tomás de Queluz, onde teve a oportunidade de apreciar a maqueta do colégio que se pretendia construir na quinta, e a visita ao Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira.
O Mestre da Ordem falando aos microfones da Emissora Nacional, na companhia do Vigário Provincial frei Louis Marie Sylvain, de D. Francisco Rendeiro, e frei João Domingos no fundo.
O Mestre da Ordem Michael Browne ao chegar ao Convento de São Tomás de Queluz na companhia de frei Estevão da Fonseca e um sacerdote secular não identificado.
 
O Mestre da Ordem Michael Browne rezando na capela do Convento de Queluz na companhia de D. Francisco Rendeiro, o Vigário frei Louis Marie Sylvain e um sacerdote não identificado.

O Mestre da Ordem frei Michael Browne cumprimentando um bispo junto da maqueta do projecto do novo Colégio Clenardo que é observada pelo Vigário da Ordem frei Esteban Gomes.
 
Fotografia do Mestre da Ordem Michael Browne com os membros da Comunidade do Convento de São Tomás de Queluz e visitas.

O Mestre da Ordem Michael Browne em visita ao Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira, acompanhado do Vigário da Provincia frei Louis Marie Sylvain e do Vigário da Ordem frei Esteban Gomes.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li com interesse a notícia publicada no “Diário de Notícias” de 12 de Março de 1962 sobre a “Restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores (OP)” e observei em detalhe as fotografias das cerimónias e dos actos do Cardeal Browne na véspera da restauração.
    Na data em que a Ordem dos Pregadores celebra as bodas de ouro da restauração da Província Portuguesa da OP, obrigada pela oportunidade desta partilha, pela importância de conhecer e não esquecer o passado, pela justiça feita a todos os dominicanos e outras personalidades que travaram a batalha da restauração.
    Bem-haja, pela dedicação, pela divulgação e empenho por uma actividade que, frequentemente, não sabemos avaliar o que representa como busca da informação, como trabalho de preparação, entre as múltiplas actividades a que se dedica. Porém, estou certa que o faz com muita satisfação e que muitos dos seguidores do blog apreciam com muito agrado. Que o Senhor o ilumine e proteja, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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