quarta-feira, 7 de março de 2012

Sentar-se à minha direita e à minha esquerda não pertence a mim concedê-lo (Mt 20,23)

O episódio da mãe dos filhos de Zebedeu, e o pedido que ela faz a Jesus, mostra-nos que havia gente no grupo dos discípulos que estava profundamente convencida que Jesus seria rei em Jerusalém e portanto era necessário assegurar um lugar de prestigio nessa situação, nesse novo governo. A mãe de Tiago e João era uma dessas pessoas, mas pela reacção dos outros discípulos percebemos que não era a única.
Face a este pedido Jesus tem uma resposta que nos surpreende, uma vez que não condena a pretensão da mãe dos discípulos, pelo contrário, parece até que aceita o pedido, embora corrigindo-o dizendo-lhes que não sabiam o que estavam a pedir.
De facto não sabiam o que estavam a pedir, porque sentar-se ao lado de Jesus implicava e implica beber o cálice, entregar a vida em oferenda, mas o pedido é legitimo e perfeitamente aceitável, porque no fundo e ainda que mal expresso, equivocadamente expresso, os discípulos manifestavam o desejo de permanecer junto do Mestre, partilhar da sua intimidade. De certa forma traduzem por outras palavras a confissão de Pedro no alto do monte Tabor no momento da transfiguração, “como é bom estarmos aqui”.
Contudo, e ainda que o desejo e pedido manifestado não seja condenável, há na sua realização algo que ultrapassa o mesmo Jesus, que vai para além da permanência e intimidade junto dele, e que o discípulo deve ter presente e procurar. De facto, o lugar desejado, essa intimidade e permanência, só é possível na medida em que o discípulo se coloca na órbita do Pai, na dependência do Pai, assumindo e vivendo como o mais pequeno, o escravo, o que não é para poder ser.
Afinal essa é a lógica de Deus e do seu processo de construção histórica, do seu reino a instaurar, um reino que assenta no serviço, na oferta, na humildade, ao contrário do reino dos homens que assenta na conquista, na aquisição, na força que escraviza e humilha os outros.
Querer sentar-se ao lado de Jesus é assim algo que todos perfeitamente podemos e devemos desejar, mas temos que ter consciência que tal só poderá acontecer na medida em que assumirmos viver em atitude de acolhimento, de despojamento de todo e qualquer poder, para sermos elevados por Deus ao verdadeiro poder que é o serviço no amor.

Ilustração: “Cristo com anjos e casal de Patronos”, Mestre de Ulmer.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que elaborou e partilha connosco leva-nos a rever os nossos comportamentos, as nossas atitudes, a seguir o exemplo de Cristo, o Caminho, a fim de vivermos a plenitude do mistério de Cristo, através do serviço e da entrega ao próximo.
    Como nos salienta ...” Querer sentar-se ao lado de Jesus é assim algo que todos perfeitamente podemos e devemos desejar, mas temos que ter consciência que tal só poderá acontecer na medida em que assumirmos viver em atitude de acolhimento, de despojamento de todo e qualquer poder, para sermos elevados por Deus ao verdadeiro poder que é o serviço no amor.”
    Para que o nosso processo de transformação ocorra, nas nossas circunstâncias, permita-me que recorde a exortação que nos deixava na Meditação de ontem, …” Disponhamo-nos portanto a fazer o que sabemos e podemos para Deus fazer o que não sabemos nem podemos.”
    Peçamos ao Senhor para que nos ilumine no nosso peregrinar a fim de participarmos na construção de …” um reino que assenta no serviço, na oferta, na humildade”.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha desta importante Meditação. Que o Senhor o abençoe e guarde, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Ao ler o texto do Evangelho de São Mateus,belíssima Meditação que partilhou connosco,as suas palavras tão reconfortantes,que nos faz rever a cada um de nós mais profundamente,o processo de conversão interior nesta nossa caminhada quaresmal,meditando na Paixão do Senhor Jesus Cristo.Peçamos ao Senhor que nos ilumine para vivermos em atitude de acolhimento e despojamento total.
    Obrigada,Frei José Carlos,pela excelente Meditação que partilha connosco,pois vem sempre ao nosso encontro da nossa fragilidade e infidelidades de peregrinos que somos.Que o Senhor o ilumine e o proteja.Bem-haja,Frei José Carlos.Continuação de um bom dia,
    Um abraço fraterno.
    AD

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