quinta-feira, 15 de março de 2012

Nota Histórica da Notícia sobre a Restauração da Província do jornal “Novidades”

A notícia da Restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores no jornal “Novidades” de 11 de Março de 1962 é acompanhada por uma pequena resenha histórica e apologética. Divulgamo-la como mais um testemunho histórico daquele momento tão significativo para os dominicanos portugueses.

A ORDEM DOMINICANA ANDOU SEMPRE LIGADA AOS FASTOS DA NACIONALIDADE
Os fastos da nacionalidade portuguesa andam intimamente ligados aos acontecimentos da Igreja. A fundação da nacionalidade foi abençoada pela Igreja e os grandes momentos da vida nacional andaram ligados a ela e às suas instituições. É esta uma asserção que escusa prova, basta-lhe a lição da História de Portugal.
Uma das instituições da Igreja em Portugal que mais influiu na vida nacional foi sem dúvida a Ordem de São Domingos que, após cento e vinte e oito anos de interrupção, se restaura hoje organicamente numa cerimónia que ficará histórica para a Igreja e para a nação Portuguesa.
Por decreto de 28 de Maio de 1834 D. Pedro IV extinguiu, em Portugal e seus domínios, todas as casas das Ordens Regulares do Reino. Com as demais desapareceu a benemérita Ordem Dominicana. Hoje, numa cerimónia emocionante por um decreto da Santa Sé que o Eminentíssimo Cardeal Browne, Mestre Geral da Ordem de São Domingos vem pôr em execução, fica organicamente constituída a Província de Portugal da Ordem de São Domingos.
A Ordem Dominicana estabeleceu-se em Portugal logo desde o seu início. Um grande português que a História conhece por frei Soeiro Gomes, foi companheiro do próprio São Domingos, fundador da Ordem.
O Papa ao aprovar a nova Ordem deu-lhe uma modalidade diferente de todas as antigas ordens monásticas. Chamou-lhe o Papa “Ordem dos Pregadores” e de facto a finalidade primária dos nossos religiosos era o apostolado doutrinal através de todos os meios de ilustração dos espíritos para criar nos homens convicções mais profundas.
Frei Soeiro Gomes chegou a Portugal em 1271 e traçou imediatamente um vasto programa de acção para toda a Península Ibérica que o fundador São Domingos confiara à sua prudência e zelo.
A nova Ordem respirava um espírito novo e bem depressa se propagou maravilhosamente com plena aceitação dos reis e das sociedades. Ainda no século XIII, para falarmos só do território português, se estabeleceram os Dominicanos em Santarém, Coimbra, Porto, Lisboa, Elvas, Guimarães e Évora.
Bem depressa o saber e prudência dos novos religiosos foram postos à prova nas grandes crises nacionais como na substituição de El-Rei D. Sancho II e mais tarde na própria independência da Pátria como confessores e conselheiros do Mestre de Avis.
O Doutor João das Regras e D. João I por estima e reconhecimento ofereceram à Ordem Dominicana os dois históricos conventos de São Domingos de Benfica, onde floresceram dominicanos da envergadura do Santo Arcebispo de Braga Venerável D. Frei Bartolomeu dos Mártires e frei Luís de Sousa, e o Mosteiro de Santa Maria da Vitória ou da Batalha, pérola e relicário das gestas heróicas e da arte portuguesa.
A Ordem de São Domingos afirmou-se sempre cada vez mais em Portugal e principalmente no século de oiro da nossa história.
Podemos dizer que a história dos Dominicanos em Portugal tem um paralelismo quase perfeito com a história nacional. Como na consolidação da Independência estiveram e acompanharam os Dominicanos a gesta ultramarina portuguesa. Em Ceuta e nas primeiras conquistas africanas estiveram os Dominicanos estabelecendo convento naquelas cidades. Por isso o século XVI que foi o grande século português foi também o grande século da Ordem de São Domingos em Portugal. Além de se terem estabelecido durante o século XV em Aveiro, Azeitão, Abrantes e Pedrógão, estenderam os dominicanos a sua acção apostólica mais profunda e fundaram novos conventos durante o século XVI em Almeirim, Vila Real, Coimbra, Amarante, Alcáçovas, Ancede, Montemor, Viana do Castelo, Setúbal e Almada. E nos séculos seguintes, embora mais lentamente, continuou a expansão dominicana. Uma carta geográfica mostrando-nos as zonas onde estavam presentes os dominicanos é impressionante.
Para restaurarem a sua antiga e gloriosa Província têm os Dominicanos portugueses no presente três conventos e mais de cem religiosos. É essa restauração que hoje se realiza no Convento de Nossa Senhora do Rosário de Fátima em actos soleníssimos presididos pelo Eminentíssimo Cardeal Browne, Mestre Geral da Ordem de São Domingos vindo propositadamente de Roma para proceder a tão notável e histórico acto.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Li e reli com muito interesse,o longo e belo texto,sobre a nota Histórica da Notícia sobre a Restauração da Província do jornal "Novidades".Agradeço-lhe a maravilhosa partilha,e também o seu excelente trabalho,muito esclarecedor para todos nós.Obrigada,Frei José Carlos,por tudo o que parilhou de belo connosco.Bem-haja.Que o Senhor o abençõe o ilumine e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    Li com muito interesse e apreciei a “pequena resenha histórica e apologética” que o jornal “Novidades” publicou em 11 de Março de 1962 aquando da notícia sobre a Restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores. É bom ler e reflectir sobre algumas das afirmações feitas. …” A Ordem Dominicana estabeleceu-se em Portugal logo desde o seu início. Um grande português que a História conhece por frei Soeiro Gomes, foi companheiro do próprio São Domingos, fundador da Ordem.”…
    …” A nova Ordem respirava um espírito novo e bem depressa se propagou maravilhosamente com plena aceitação dos reis e das sociedades. (…)
    (…) Bem depressa o saber e prudência dos novos religiosos foram postos à prova nas grandes crises nacionais como na substituição de El-Rei D. Sancho II e mais tarde na própria independência da Pátria como confessores e conselheiros do Mestre de Avis.”…
    …” Podemos dizer que a história dos Dominicanos em Portugal tem um paralelismo quase perfeito com a história nacional.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta notícia que nos ajuda a compreender a importância e os esforços desenvolvidos para que a Restauração da Província Portuguesa da Ordem dos Pregadores fosse uma realidade e da qual comemoram este ano as Bodas de Ouro. Estamos gratos(as) por partilhar connosco a História da Província Dominicana, por sabermos mais sobre a Ordem, sobre os que de forma publica ou anónima trabalharam na reconstrução da mesma.
    Continuação de bom trabalho.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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