sábado, 31 de março de 2012

É melhor morrer um só homem pelo povo (Jo 11,50)

É o sumo-sacerdote Caifás que, na discussão sobre o que fazer face aos milagres de Jesus, nomeadamente à ressurreição de Lázaro, e ao número crescente de judeus que acreditavam nele, propõe como solução a morte de Jesus, pois é preferível a morte de um só homem à destruição de todo o povo, de toda a nação.
Ainda que o autor do Evangelho tente desvalorizar a culpa de Caifás, dizendo que esta proposta não era propriamente da sua autoria, mas que se tratava de uma profecia em virtude do cargo de sumo-sacerdote que desempenhava, a verdade é que nos deparamos com uma solução carregada de tremenda hipocrisia e desonestidade.
Aqueles homens são capazes de reconhecer os milagres que Jesus realiza, são capazes de perceber que há algo de extraordinário nele, mas como aceitar isso é perder o seu estatuto, a sua autoridade, optam por um crime, por matar um inocente para, com a desculpa da salvação do povo, se salvarem a eles próprios enquanto senhores do poder e da autoridade sobre os outros.
Ao decidirem a morte de Jesus, a morte de um homem inocente, estão a esquecer-se que os milagres de que eles tinham conhecimento deixava em aberto a possibilidade dessa morte não acontecer, ou vir a ter consequências inusitadas, extraordinárias. Portanto ao optarem pela morte de Jesus estavam a optar por uma solução cujas repercussões eram incontroláveis.
Ao optarem pela morte de Jesus o grande conselho dos fariseus e príncipes dos sacerdotes estavam a esquecer-se que a vítima se apresentava como Filho de Deus, e a ser verdade, como tudo parecia indiciar, não tinham qualquer poder sobre a sua vida.
Tal veio de facto a verificar-se, porque depois da sua morte e pelo poder da sua vida entregue, Jesus levantou-se do túmulo, ressuscitou, retomou a vida que lhe pertencia e permitiu a todos os homens que a retomassem também, que a voltassem a adquirir na relação com Deus através do Filho ressuscitado, mesmo aqueles que o tinham condenado.
Ao entrarmos na Semana Santa, e ao aproximarmo-nos da Páscoa da ressurreição, somos convidados a viver e a fazer memória dos acontecimentos da paixão e morte de Jesus assumindo a vida que nos está destinada e nos foi alcançada por intermédio de um crime ignominioso contra o mais inocente dos inocentes que era o Filho de Deus, o senhor da vida.

Ilustração: “Conspiração dos judeus”, de James Joseph Jacques Tissot, Brooklyn Museum.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos a decisão final dos chefes religiosos de matarem Jesus, é manifesto que é a política, o receio do efeito da Palavra e das obras de Jesus, naqueles que vivem nas piores condições, explorados pelo poder religioso e politico, que se sobrepõe à fé.
    Como nos salienta ...” aqueles homens são capazes de reconhecer os milagres que Jesus realiza, são capazes de perceber que há algo de extraordinário nele, mas como aceitar isso é perder o seu estatuto, a sua autoridade, optam por um crime, por matar um inocente para, com a desculpa da salvação do povo, se salvarem a eles próprios enquanto senhores do poder e da autoridade sobre os outros. (…)
    (...) Ao optarem pela morte de Jesus o grande conselho dos fariseus e príncipes dos sacerdotes estavam a esquecer-se que a vítima se apresentava como Filho de Deus, e a ser verdade, como tudo parecia indiciar, não tinham qualquer poder sobre a sua vida.”…
    Como nos afirma Jesus ao ressuscitar …” retomou a vida que lhe pertencia e permitiu a todos os homens que a retomassem também, que a voltassem a adquirir na relação com Deus através do Filho ressuscitado, mesmo aqueles que o tinham condenado.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, pelas palavras partilhadas, por nos convidar…” ao entrarmos na Semana Santa, e ao aproximarmo-nos da Páscoa da ressurreição, a viver e a fazer memória dos acontecimentos da paixão e morte de Jesus assumindo a vida que nos está destinada e nos foi alcançada por intermédio de um crime ignominioso contra o mais inocente dos inocentes que era o Filho de Deus, o senhor da vida.” Que o Senhor o ilumine e o guarde.
    Votos de um bom domingo.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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