terça-feira, 13 de março de 2012

Padre José Lourenço ausente das Cerimónias da Restauração da Província

No dia da celebração da restauração da Província de Portugal da Ordem dos Pregadores, a 11 de Março de 1962, nem todos os irmãos puderam estar presentes. Uns por razões de estudo, outros por razões de oficio, outros ainda por razões de saúde.
Uma das ausências registadas foi a do Padre José Lourenço, um dos primeiros da obra da restauração. Os seus oitenta e seis anos e a distância, residia em Albufeira, não lhe permitiram estar em Fátima, ainda que o coração e o espírito ali estivesse.
Aproveitamos a comemoração dos cinquenta anos para apresentar a correspondência trocada no âmbito do acontecimento da Restauração e da sua ausência; a carta convite do Vigário frei Louis Marie Sylvain, a resposta de agradecimento e desculpa, a carta de agradecimento dirigida ao frei Tomás Videira e o telegrama enviado com felicitações no próprio dia da festa da restauração.

CARTA DO PADRE SYLVAIN
Vicariato Geral
Ordem de São Domingos Portugal
Queluz de Baixo, a 13 de Fevereiro de 1962
Ilustríssimo e Reverendíssimo Senhor
Padre José Lourenço,
Para poder exprimir-me mais facilmente permitir-me-eis que vos escreva em francês. Peço-vos desculpa de não vos escrever em português, o que poderia fazer, mas temo um pouco de não poder colocar toda a veemência que desejo.
Tendes conhecimento pelo Padre Tomás que o Reverendíssimo Padre Geral virá a Portugal e estará em Fátima a 19 de Março, festa de São José, para a restauração oficial da Província de Portugal.
Venho convidar-vos cordialmente e com a maior insistência a juntar-vos a nós. Em 1952 viesteis à inauguração do Convento, espero que a vossa saúde vos permita vir de novo a Fátima assistir à conclusão de uma obra para a qual vós tivesteis sempre o maior interesse e vos sacrificastes. Por outro lado vós sois o único sobrevivente da primeira equipa que trabalhou na restauração e em terríveis condições. Não ousarei dizer para virdes cantar connosco a Completas o “Nunc dimitis”, mas virdes alegrar-vos connosco no Senhor.
Mais tarde lhe faremos chegar os detalhes da celebração.
Nós vos somos para sempre reconhecidos pela dedicação e interesse perseverantes.
Fraternamente em São Domingos
Frei Luís Maria Sylvain, OP
Vigário Geral.

RESPOSTA DO PADRE LOURENÇO AO CONVITE DO PADRE SYLVAIN
Albufeira, 3-III-1962
Muito Reverendo Senhor Padre Vigário
Muito agradecido a Vossa Reverencia pelo fraternal convite que teve a caridade de fazer-me para ir assistir à festa dominicana, a realizar em Fátima no dia 11 próximo.
Essa festa, presidida pelo Reverendíssimo Mestre Geral da Ordem, coroa as aspirações que eu trouxe do Colégio Angélico em 1916, que eram ser restaurada a Ordem de São Domingos em Portugal.
Para isso comecei logo a trabalhar, e sinto grande alegria em saber que vai ser oficialmente reconhecida a Província Portuguesa da Ordem.
O peso dos meus 86 anos não me permite ir à festa, para louvar e agradecer a Deus, juntamente com a Comunidade e abraçar alegremente os obreiros da Restauração, mas no dia 11 estarei em união espiritual com todos, e dando a cada um o abraço fraternal.
Se a Ordem de São Domingos alguma coisa me deve, o Escapulário que trago sempre comigo, não me deixa esquecer o muito que à Ordem de São Domingos devo, por isso continuo a ser-lhe muito dedicado.
Os meus respeitosos cumprimentos a Vossa Reverência
Padre José Lourenço.

CARTA AO PADRE TOMÁS VIDEIRA
Albufeira, 3-III-1962
Querido Padre Tomás
O seu convite para ir assistir à festa a realizar em Fátima no dia 11, inaugurando oficialmente a Província Dominicana Portuguesa foi recebido com muita alegria.
Nessa Restauração há alguma coisa de mim mesmo, por isso dou muitas graças a Deus por vê-la realizada. Não posso, porém, resolver-me a fazer a viagem a Fátima, porque a isso se opõe o peso dos meus 86 anos (o Papa só fez 80 e não lhe custa viajar de automóvel).
Se eu aguentasse a viagem em automóvel, o peso dos anos carregava sobre ele e nada me custava, e ia agradecer com a Comunidade os favores devidos a Deus, e dar o abraço fraternal a cada um, sendo mais apertado o que daria aos meus dois primeiros auxiliares, que são as duas colunas levantadas sobre o alicerce que lancei no Luso – os Reverendos Padres Tomás e Clemente.
Como o pensamento não conhece distâncias, nesse dia 11 eu pensarei ao meio-dia que celebram a Missa solene, e rezarei Menores, como de costume; às 13 horas, quando for servido o banquete da festa, eu estarei a comer o meu almoço como de costume, acrescido de um doce em honra da Restauração.
Envio-lhe e a toda a Comunidade os meus Parabéns, fazendo votos por que seja tudo para bem de Portugal com muita glória para Deus.
Sempre muito dedicado
Padre José Lourenço.

TELEGRAMA
No dia da Restauração, 11 de Março, pelas 10 horas da manhã, o Padre José Lourenço enviou um telegrama de felicitações.
Louvores a Deus Cordiais felicitações Padre Lourenço

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe esta magnífica partilha excelente, da comemoração dos cinquenta anos para apresentar a correspondência trocada no âmbito do acontecimento da Restauração e da sua ausência a carta convite do Vigário frei Louis Marie Sylvain, a resposta de agradecimento e desculpa, carta de agradecimento dirigida ao Frei Tomás Videira e o telegrama enviado com felicitações no próprio dia da festa da restauração.Todos estes elementos que partilhou connosco, são da história da Província da Ordem Dominicana,enriquecedor para todos nós.Gostei muito deste seu maravilhoso trabalho.Obrigada,Frei José Carlos,por tudo o que partilhou connosco.Bem-haja.Que o Senhor o ajude o ilumine e proteja.Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

    ResponderEliminar
  2. Frei José Carlos,

    A partilha da correspondência trocada, no âmbito do acontecimento da restauração da Província de Portugal da Ordem dos Pregadores, a 11 de Março de 1962, com o Padre José Lourenço, ausente da cerimónia pela idade avançada e pela distância que teria de percorrer até Fátima, documentada e ilustrada pela carta convite do Vigário frei Louis Marie Sylvain dirigida ao Padre Lourenço, a resposta de agradecimento e desculpa do Padre Lourenço ao convite, a carta de agradecimento dirigida ao frei Tomás Videira e o telegrama do Padre Lourenço enviado com felicitações no próprio dia da festa da restauração constituem peças de grande beleza espiritual, de muita fraternidade, de um grande calor humano, de satisfação e alegria do Padre José Lourenço pelo “coroar das aspirações que trouxera do Colégio Angélico em 1916, que eram ser restaurada a Ordem de São Domingos em Portugal”.
    As peças escritas do Padre Lourenço são um maravilhoso testemunho de que quando somos vencidos fisicamente, o “pensamento não conhece distâncias” e a união espiritual com todos está presente.
    …” Se eu aguentasse a viagem em automóvel, o peso dos anos carregava sobre ele e nada me custava, e ia agradecer com a Comunidade os favores devidos a Deus, e dar o abraço fraternal a cada um, sendo mais apertado o que daria aos meus dois primeiros auxiliares, que são as duas colunas levantadas sobre o alicerce que lancei no Luso – os Reverendos Padres Tomás e Clemente. (…)
    … nesse dia 11 eu pensarei ao meio-dia que celebram a Missa solene, e rezarei Menores, como de costume; às 13 horas, quando for servido o banquete da festa, eu estarei a comer o meu almoço como de costume, acrescido de um doce em honra da Restauração”…
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, por esta partilha tão espiritual, bela, de grande fraternidade, quando comemoram cinquenta anos da restauração da Província de Portugal da Ordem dos Pregadores. Que o Senhor ilumine e abençõe o Frei José Carlos e todos os dominicanos.
    Continuação de uma boa semana. Bom trabalho.
    Um abraço fratrno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar