quarta-feira, 14 de março de 2012

Não vim revogar mas completar (Mt 5, 17)

Ao ouvirmos dizer a Jesus, que não tinha vindo abolir ou revogar a lei e os profetas, mas completá-los e levá-los à perfeição, não podemos esquecer que ele profere estas palavras depois de ter proclamado as Bem-Aventuranças e de ter dito aos seus discípulos e àqueles que o ouviam que eram o sal da terra e a luz do mundo.
No pensamento de Jesus as Bem-Aventuranças eram assim o desenvolvimento da lei e dos profetas e na medida em que os discípulos as vivessem podiam ser uma luz no mundo, podiam dar outro sabor à vida.
Esta concepção de Jesus mostra que a lei, a sabedoria e prudência como é apresentada por Deus ao povo de Israel no Livro do Êxodo, é uma realidade dinâmica, uma realidade em constante busca de realização em direcção à perfeição.
Perfeição manifestada no momento em que Jesus diz na cruz que tudo está consumado, tudo se cumpriu, tudo o que compunha a lei e os profetas foi levado à perfeição.
Diante de tal acontecimento é fácil compreendermos que a perfeição da lei que Deus nos revela é a loucura, a loucura do amor vivido até à total generosidade, a loucura do amor desbordante por todas as criaturas.
Por isso o ensinamento dos mandamentos e a sua vivência, como diz Jesus, não podem ser desvirtuados, não podem ser relativizados às medidas dos nossos caprichos ou gostos pessoais, porque tal seria inviabilizar a sua força processual, a sua dinâmica que conduz à perfeição, a sua capacidade de mediatização, na medida em que são meios que conduzem à plenitude.
Neste sentido, assumimos humildemente que, ainda que procuremos cumprir os mandamentos na sua radicalidade, não somos perfeitos, estaríamos a cair na auto idolatria uma vez que a nossa radicalidade nunca será igual à loucura amorosa de Deus, e assumimos que estamos em caminho, em processo, e desejamos alcançar a plenitude, e neste caminho e neste processo manifestamos que o nosso Deus é um Deus próximo, um Deus que caminha connosco.
Abre-nos Senhor o coração à percepção do amor dos teus mandamentos e dá-nos força para nas nossas fraquezas e infidelidades nunca desistirmos de os procurarmos viver em ordem à plenitude que nos espera.

Ilustração: “Cristo ensinando”, António Allegri Correggio, National Gallery of Art, Washington.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Muito Grata,por este belo texto que partilhou connosco,com profundidade esta maravilhosa Meditação,do Evangelho de São Mateus.Se me permite...Frei José Carlos,faço minhas as suas belas palavras cheias de sentido.O ensinamento dos mandamentos e a sua vivência,como diz Jesus,não podem ser desvirtuados,não podem ser relativizados às medidas dos nossos caprichos ou gostos pessoais.Neste sentido,assumimos humildemente que,ainda que procuremos cumprir os mandamentos na sua radicalidade,não somos perfeitos,estaríamos a cair na auto idolatria uma vez que a nossa radicalidade nunca será igual à loucura amorosa de Deus,e assumimos que estamos em caminho, em processo,e desejamos alcansar a plenitude,e neste caminho,e neste processo manifestamos que o nosso Deus é um Deus próximo,um Deus que caminha connosco.
    Abre-nos Senhor o nosso coração à percepção do amor dos teus mandamentos e dá-nos força para nas nossas fraquezas e infidelidades nunca desistirmos de os procurarmos viver em ordem à plenitude que nos espera.Obrigada,Frei José Carlos,pela excelente partilha,profunda que nos ajudou a reflectir mais profundamente.Gostei muito desta bela Meditação.Uma boa noite,Frei José Carlos.Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Bem-haja.Um abraço fraterno
    AD

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  2. Frei José Carlos,

    Jesus vem revelar-nos o verdadeiro Deus cumprindo a Lei e os Profetas, mas completando-os, levando-os até à perfeição pela conversão às novas práticas das Bem-Aventuranças, como nos diz no texto da partilha da Meditação.
    Como nos salienta ...” o ensinamento dos mandamentos e a sua vivência, como diz Jesus, não podem ser desvirtuados, não podem ser relativizados às medidas dos nossos caprichos ou gostos pessoais, porque tal seria inviabilizar a sua força processual, a sua dinâmica que conduz à perfeição, a sua capacidade de mediatização, na medida em que são meios que conduzem à plenitude.”…
    Bem-haja por nos recordar que …” devemos assumir humildemente que, ainda que procuremos cumprir os mandamentos na sua radicalidade, não somos perfeitos, (…) que estamos em caminho, em processo, e desejamos alcançar a plenitude, e neste caminho e neste processo manifestamos que o nosso Deus é um Deus próximo, um Deus que caminha connosco”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e oremos “Abre-nos Senhor o coração à percepção do amor dos teus mandamentos e dá-nos força para nas nossas fraquezas e infidelidades nunca desistirmos de os procurarmos viver em ordem à plenitude que nos espera.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, ilustrada com tanta beleza, pelas palavras partilhadas, pelo estímulo que representam, por nos recordar a necessidade da procura do equilíbrio na vivência dos mandamentos, da necessidade de aceitarmos com humildade os nossos limites e fraquezas, num caminho que só conseguimos percorrer com um Deus que nunca nos abandona e que nos procura.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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