quarta-feira, 7 de março de 2012

Frei Tomás Maria Videira, OP

Frei Tomás Maria Videira se fosse vivo perfaria hoje cento e quatro anos. Nasceu a 7 de Março de 1908, na localidade de São Martinho de Anta, e recebeu no baptismo o nome de Manuel.
Em 1919, com onze anos, era o único filho que restava em casa com a mãe, pois o pai tinha falecido quando tinha apenas dois anos de idade e os dois irmãos mais velhos já andavam pelo mundo angariando o sustento. O pároco tomava-o por ajudante e sempre que se deslocava a algum lado fazia-se acompanhar do pequeno Manuel.
Foi por esta data que o Padre José Lourenço, nas suas andanças em busca de vocações, se encontrou com o Manuel por intermédio das catequistas Correia de Barros. Encontrando-as no Porto e perguntando-lhes se tinham algum rapazinho que quisesse entrar para o seminário, elas indicaram-lhe o Manuel que depois de obter a bênção da mãe partiu para a Escola Apostólica de La Mejorada, via Salamanca.
As catequistas prepararam-lhe o enxoval que teve que levar, e na viagem de comboio até Salamanca foi sob a guarda de uma família que o Padre José Lourenço tinha conseguido que se responsabilizasse por o entregar ao irmão frei Domingos que esperava por ele em Salamanca e do Convento de San Esteban o encaminharia para a Escola Apostólica.
Contava mais tarde o Padre Tomás, que quando chegou a Salamanca, o irmão Domingos o levou para a cozinha e lhe serviu uma boa merenda e ao perguntar-lhe se queria ser frade ele tinha respondido que não. Contudo à pergunta se gostava de ter um rosário como o que ele usava já tinha respondido que sim. Pequenos detalhes têm por vezes muita importância.
Ao chegar à Escola Apostólica de La Mejorada Manuel Videira encontrou outros nove formandos portugueses, dos quais apenas ele e o frei Clemente de Oliveira perseveraram até ao fim. Depois de quatro anos ali passados na formação preparatória seguiu para o noviciado na Província de Toulouse. Em Saint-Maximin realizou os estudos de Filosofia e Teologia e ali emitiu a sua profissão religiosa a 10 de Outubro de 1924 e foi ordenado de presbítero a 6 de Novembro de 1930 pelo Bispo de Portalegre D. Domingos Maria Frutuoso aquando de uma das suas viagens a Roma.
No ano seguinte, em 1931, está já de regresso a Portugal e integra o corpo docente da Escola Apostólica do Luso. Dali transita para Mogofores e quando a escola fecha em 1937 passa com a comunidade para o Porto onde desenvolve uma actividade intensa de pregação, vindo a assumir em 1942 o comando da presença dominicana em Portugal.
É durante este seu período de governo que a Província avança para algumas daquelas que foram as suas instituições mais significativas, como foi a Escola Apostólica de Aldeia Nova, aberta em 1943, e o Colégio Clenardo assumido em 1947.
Com a chegada dos irmãos canadianos em 1948 e a organização institucional para a futura restauração da Província frei Tomás não deixou de acompanhar os destinos da Província vindo a fazer parte durante vários anos do Conselho da Província, a maior parte das vezes como Sócio do Vigário, ou Sócio do Prior Provincial depois da restauração da Província.
Foi também Superior da Comunidade da Escola Apostólica de Aldeia Nova nos anos entre 1949 e 1952, Director Espiritual dos alunos em 1954, Superior do Convento de Fátima em 1956, Mestre dos Irmãos Cooperadores e Noviços, Mestre de Noviços e Estudantes e Prior do Convento de Fátima entre 1962 e 1968, de onde passou novamente para Superior e Director da Escola Apostólica.
No ano de 1965, aquando da ausência do Padre Sylvain no Canadá por razões de saúde foi ele que conduziu o governo da Província e convocou aquele que viria a ser o primeiro Capítulo Provincial celebrado em 1966 e no qual foi eleito Prior Provincial frei Raul de Almeida Rolo.
Frei Tomás foi um pregador incansável, nomeadamente junto do movimento Caritas Christi, fundado por um seu companheiro de noviciado, o Padre Perrin. Na altura do noviciado, e não estando frei Tomás familiarizado com a língua francesa, o seu companheiro Perrin, cego, procurava-o para conversarem em latim uma vez que não podiam conversar em francês, desenvolvendo dessa forma uma amizade que se viria a manter por toda a vida. Mais tarde frei Tomás seria um exímio professor de francês, sendo mesmo o responsável pelas lições de conversação que os alunos tinham na escola de Mogofores antes de passarem para o noviciado em Saint-Maximin.
A nível interno da Província e nos momentos de maior tensão no conflito geracional que se viveu após o Concilio Vaticano frei Tomás Videira foi o homem da paz, do equilíbrio e da ponderabilidade, assumindo que aquelas realidades às quais se podia dizer sim nunca se deveria dizer não. Em muitas situações foi o porto de abrigo, o sol radiante que espelha a paz.
Faleceu no Convento de Fátima a 14 de Agosto de 1994, amado e querido por todos aqueles que tinham partilhado algum ou muitos momentos da sua vida.

Ilustrações: Fotografia e Prova de Fotografia de Frei Tomás Maria Videira, tiradas em Marselha por volta de 1930 por Nadar Detaille. 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja por partilhar o texto sobre as qualidades e alguns dos percursos da vida do Dominicano, Frei Tomás Maria Videira. A história de cada um de nós é uma teia, fruto do visível e do invisível, do fortuito, sem conseguirmos explicar objectivamente a razão dos percursos que fizemos ou deixámos por fazer. Permita-me que destaque um pormenor do texto que partilha. ...” Contudo à pergunta se gostava de ter um rosário como o que ele usava já tinha respondido que sim. Pequenos detalhes têm por vezes muita importância.”…
    Quando li o texto, o nome deste Dominicano, associei-o de imediato à restauração da Ordem dos Pregadores em Portugal mas recordava-me que o Frei José Carlos escrevera anteriormente sobre Frei Tomás Videira algo peculiar. Na realidade, trata-se dos excertos do “Diário do Seminário Dominicano de Mogofores” que se relêem com satisfação.
    Grata, Frei José Carlos, por ter partilhado no dia do nascimento de Frei Tomás Videira esta súmula reveladora de um verdadeiro Dominicano, como nos diz, um pregador incansável e “nos momentos de maior tensão no conflito geracional que se viveu após o Concilio Vaticano frei Tomás Videira foi o homem da paz, do equilíbrio e da ponderabilidade, assumindo que aquelas realidades às quais se podia dizer sim nunca se deveria dizer não. Em muitas situações foi o porto de abrigo, o sol radiante que espelha a paz”.
    Que o Senhor ilumine e proteja o Frei José Carlos. Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Ao ler este magnífico texto ,fiquei maravilhada,pois conheci bem o Frei Tomás Videira,pelos anos de 59 a 63.Estava no Colégio de Nossa Senhora de Fátima em Leiria.Mito ligadas a Aldeia Nova. Foi um prazer ler todo este texto maravilhoso.A sua ilustração com as fotos do pequeno Manuel,e um excelente Pregador da Ordem de São Domingos como o teto nos relata.
    Como nos diz o Frei José Carlos,foi o homem da paz,do equilíbrio e da ponderabilidade,coisa que nos falta muito hoje,assumindo que aquelas realidades às quais se podia dizer sim nunca se deveria dizer não.Em muitas situações,foi o porto de abrigo,o sol radiante que espelha a paz.Obrigada,Frei José Carlos,por esta partilha maravilhosa e bela que muito gostei.Muito grata,por toda esta alegria que nos dá,partilhando a história do nosso saudoso Frei Tomás Videira.Que o Senhor o ilumine e o abençõe.
    Bem-haja,Frei José Carlos.
    Um bom dia.
    AD

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