segunda-feira, 26 de março de 2012

Anunciação do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria

O arcanjo Gabriel é enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré para anunciar a uma virgem chamada Maria que conceberá e dará à luz um filho.
Anúncio surpreendente e envolto num conjunto de circunstâncias e promessas que acentuam ainda mais a fragilidade e a incerteza em que estão envoltos naturalmente todos os nascimentos.
Se cada nascimento, cada esperança de nascimento, é sempre uma incógnita, o anúncio do nascimento de Jesus leva essa incógnita a valores completamente desproporcionados.
O arcanjo Gabriel anuncia a Maria que o seu filho, esse menino a quem colocará o nome de Jesus, será grande, pois receberá o trono de seu pai David e reinará eternamente na casa de Jacob. Mas por outro lado será apenas uma criança, uma frágil criança, que nascerá numa pequena gruta, admirado por pobres pastores e cujo pai, estranho ainda a todo este processo, é apenas um humilde carpinteiro.
Como conciliar essas promessas vertiginosas de grandeza, poder e glória, com a humildade do seu nascimento e da sua procedência? Como ser rei e reinar vivendo na pobreza e na humildade?
E contudo, é neste paradoxo que de facto se desenvolverá a vida daquele que hoje se anuncia como vindo ao mundo, como desejando vir ao mundo para viver a condição humana. Sendo Deus, o Filho de Deus, humildemente se despoja da sua transcendência divina, para habitar entre os homens, para na humildade e na obediência realizar a maior obra de glória, o resgate dos homens da sua condição de pecado.
Afinal a grandeza deste menino que vai nascer reside na sua mesma fragilidade, porque ao tornar-se frágil, ao assumir a fragilidade humana e a sua vulnerabilidade, proporciona ao homem o acesso à sua glória, a todo o seu poder, ao amor divino em que vive e o homem necessita para viver e que de outra forma seria sempre inacessível e intocável.
A incarnação do Filho de Deus, cujo anúncio é feito a Maria pelo arcanjo Gabriel, coloca-nos assim perante o desafio de vivermos a nossa grandeza, a nossa glória, que não se pode fundar na força nem nas nossas próprias conquistas, seria sempre limitada e finita na medida da nossa condição, mas se deve fundar na humildade e na entrega, na oferta à semelhança do dom de Deus, que por isso se torna ilimitada e perene.
Neste sentido, como Maria de Nazaré, somos convidados a deixar humildemente Deus nascer na nossa vida.

Ilustração: “Anunciação”, de Fra Bartolomeo, Catedral de Volterra.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao reflectir no Evangelho do dia e no texto da Meditação que teceu e partilha connosco, a questão que coloca sobre a conciliação das promessas do arcanjo Gabriel no anúncio a Maria do nascimento de Jesus “grandeza, poder e glória”, em aparente contradição com a humildade da sua origem, nascimento e vivência, só se torna compreensível, como nos diz …” Sendo Deus, o Filho de Deus, humildemente se despoja da sua transcendência divina, para habitar entre os homens, para na humildade e na obediência realizar a maior obra de glória, o resgate dos homens da sua condição de pecado.”…
    Esse menino a que Maria colocará o nome de Jesus assumiu a condição humana, excepto no pecado, sofrendo connosco e por nós, para nos elevar à condição de filhos de Deus.
    Como nos salienta …” Afinal a grandeza deste menino que vai nascer reside na sua mesma fragilidade, porque ao tornar-se frágil, ao assumir a fragilidade humana e a sua vulnerabilidade, proporciona ao homem o acesso à sua glória, a todo o seu poder, ao amor divino em que vive e o homem necessita para viver e que de outra forma seria sempre inacessível e intocável.”…
    Bem-haja, Frei José Carlos, por nos recordar que … “A incarnação do Filho de Deus (…) coloca-nos assim perante o desafio de vivermos a nossa grandeza, a nossa glória, (…) na humildade e na entrega, na oferta à semelhança do dom de Deus, que por isso se torna ilimitada e perene.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda e ilustrada com tanta beleza, importante como reflexão e pelo desafio que encerra, por nos exortar, que à semelhança de …” Maria de Nazaré, somos convidados a deixar humildemente Deus nascer na nossa vida.” Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me que o felicite pelo dom da vida, pelo dom deste dia tão especial para o Frei José Carlos. Que o viva e renove com saúde, alegria, paz e harmonia. Que no desafio permanente que a vida nos coloca, feita de começos sempre renovados, desejo que realize os projectos que traçou na vida que abraçou de dedicação e serviço a Deus e ao próximo. Que o Senhor o cumule de todas as bençãos e graças. Feliz Aniversário, Frei José Carlos! Bem-haja.

    Um abraço fraterno,
    MJS

    Peço-lhe que me permita que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP.

    dia de anos

    Deus das fronteiras da nossa idade,/dos rios que passam cumprindo/o seu destino de passar,/
    dá à nossa vida o teu braço verde/para o tempo das viagens que acabam/e dos caminhos que começam cada dia//

    dá o dom da doçura à nossa vida,/o conhecimento e o gosto das lágrimas/que melhor acolham a primavera/
    e o que a precede,/Deus como a aurora em cada idade,/Deus do louvor antigo e novo,/ do que continua e se perde e
    se cumpre,/na alegria da água,/das planícies brancas do silêncio e da coragem,/Deus que invocamos nesta festa de
    irmãos hoje/e que estás em tudo/ como a primavera está no nosso inverno/ e tu em Jesus Cristo e no Espírito
    que renova tudo//

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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