sexta-feira, 30 de março de 2012

Acreditai nas minhas obras (Jo 10,38)

Jesus não deixa de nos surpreender nos seu amor, na sua capacidade de se entregar pelos homens para que estes tenham uma relação com o Pai.
No templo, e depois de os fariseus terem pegado em pedras para o lapidarem, como estava previsto na lei para aqueles que se assumissem como deuses, Jesus continua a insistir, continua com toda a paciência a mostrar àqueles homens que não era nada de especial assumir-se como Filho de Deus, que era algo que eles próprios podiam fazer uma vez que estava enunciado na Lei.
Jesus continua pacientemente a querer ensinar aqueles homens que podiam ter uma relação com Deus, uma relação filial, de amor e amizade, e podiam libertar-se da relação de serventia e escravatura em que se tinham colocado pela sua teimosia, pela fixação a um código que era apenas um meio, um caminho para a vivência dessa filiação, dessa relação pessoal.
Enfrentando uma barreira de obstinação na mesma ideia e preconceito por parte dos fariseus, Jesus humilha-se ainda um pouco mais na sua dignidade para que aqueles homens acreditem e portanto sejam salvos.
Não os conseguindo fazer acreditar na sua pessoa, Jesus prescinde dela, aniquila-a, e pede que pelo menos acreditem nas obras que realiza. Jesus sujeita-se às obras, desce a essa miséria, para que os homens acreditem no Pai, acreditem que ele veio até aos homens para revelar a verdadeira face do Pai.
Há assim um desviar de atenção do verdadeiramente importante e significativo, da sua própria pessoa, para algo que é secundário como as obras, prescindíveis face à presença daquele que as realiza, que tem poder para as realizar.
A tanto chega o amor de Jesus e o seu compromisso para que os homens tenham acesso e conhecimento do Pai, para que possam estabelecer uma relação com ele, uma relação que os tornará também filhos de Deus.
Recusar-se a aceitar as obras como manifestação da divindade é colocar-se naquela situação de cegueira que conduz à condenação, pois as obras são manifestas, estão visíveis aos olhos de todos e testemunham a autoridade e o poder daquele que as realiza, como os fariseus reconhecem a determinado momento.
Também nós estamos convidados a reconhecer as obras, mas sobretudo a reconhecer o grande amor que Jesus manifesta pelos homens e pela possibilidade de eles estabelecerem uma relação com o Pai. Jesus prescinde de si mesmo para que os homens se encontrem com Deus.
Neste sentido é oportuno perguntar, como testemunhas de Jesus e do amor de Deus Pai, até que ponto, ou de que modo, nos anulamos e colocamos perifericamente para que os nossos irmãos se encontrem verdadeiramente com Deus? Como permitimos que estabeleçam uma verdadeira relação?
Quantas vezes não somos mais o centro, do que a seta que indica o centro!

Ilustração: “Ecce Homo”, de Abraham Janssens. Museu Nacional de Varsóvia.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos diz no texto da Meditação que elaborou apesar da tentativa de lapidação, Jesus continua a assumir-se como Filho de Deus e ...” continua pacientemente a querer ensinar aqueles homens que podiam ter uma relação com Deus, uma relação filial, de amor e amizade, e podiam libertar-se da relação de serventia e escravatura em que se tinham colocado”. Mas como nos refere Jesus secundariza-se, recorrendo às obras que realiza para que aqueles homens acreditem e sejam salvos.
    E como nos recorda …” Também nós estamos convidados a reconhecer as obras, mas sobretudo a reconhecer o grande amor que Jesus manifesta pelos homens e pela possibilidade de eles estabelecerem uma relação com o Pai. Jesus prescinde de si mesmo para que os homens se encontrem com Deus.”…
    E Frei José Carlos, deixa-nos com uma pergunta que respeita a cada um de nós e que nos desinstala ao perguntar …”como testemunhas de Jesus e do amor de Deus Pai, até que ponto, ou de que modo, nos anulamos e colocamos perifericamente para que os nossos irmãos se encontrem verdadeiramente com Deus? Como permitimos que estabeleçam uma verdadeira relação?”…
    Que o Senhor nos dê a humildade e a sabedoria para compreender e acreditar no amor sem medida de Jesus pelo Homem, na sua “capacidade de se entregar pelos homens para que estes tenham uma relação com o Pai” como nos salienta.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação profunda e oportuna, que nos interroga sobre as nossas atitudes e a coerência das mesmas.
    Que o Senhor ilumine e guarde o Frei José Carlos.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar