terça-feira, 20 de março de 2012

Jesus perguntou-lhe: “Queres ser curado?” (Jo 5,6)

Ao chegar a Jerusalém, por ocasião de uma das festas, Jesus passa junto da piscina de Betsatá e ali descobre, entre o conjunto de cegos, enfermos, coxos e paralíticos, um homem que jaz enfermo há trinta e oito anos.
Jesus enche-se de misericórdia pela sua situação, pela sua doença que o impossibilita de entrar nas águas da piscina quando estas se agitam com as águas provenientes do templo.
E então coloca àquele homem, àquele doente paralítico, a pergunta mais surpreendente que se podia colocar em tal situação, “queres ser curado?”. Um pergunta cuja resposta era óbvia, pois quem não desejaria ser curado em tal situação?
Mas como acontece em tantos outros episódios do Evangelho de São João, as palavras de Jesus não são verdadeiramente compreendidas pelo paralítico. A oferta de Jesus é entendida pelo paralítico como uma ajuda para entrar nas águas, enquanto que Jesus lhe oferece verdadeiramente a salvação para a sua situação.
Contudo, e apesar do equivoco, é significativa a pergunta de Jesus, porque revela que toda a acção de Jesus, toda a salvação, é feita na base da oferta e portanto há sempre a necessidade de colaboração da parte do homem, há sempre necessidade de uma resposta da nossa parte.
Deus oferece-se e oferece a sua salvação a cada um de nós, e espera e conta com a nossa liberdade e resposta para que ela se efective, aconteça em cada um de nós, nas nossas mais diversas situações que necessitam de cura ou remédio.
E tal como aconteceu com o paralítico da piscina de Betsatá também nós muitas vezes, muito frequentemente, respondemos de forma equivocada à pergunta de Jesus. Muitas vezes buscamos uma ajuda, um apoio que não é propriamente aquele que Deus nos oferece, que Deus pergunta se queremos. Centrados na nossa necessidade mais imediata não tomamos atenção à oferta que Jesus nos faz.
Necessitamos por isso de estar atentos, de escutar a nossa realidade e vida para podermos responder correctamente à pergunta de Jesus, ou, ainda que respondendo equivocadamente, manifestar-lhe o nosso empenho em alcançar uma resposta, uma solução, pois também o enfermo disse a Jesus que todos os dias tentava entrar na água, embora fosse sempre ultrapassado.
A resposta à oferta de Jesus depende assim da nossa colaboração e liberdade, mas perceber a oferta implica também algum esforço da nossa parte, um colocar-se em situação de acontecer, porque se aquele enfermo não se tivesse dirigido à piscina com alguma esperança de entrar na água não se teria cruzado com Jesus.
Que a nossa fé nos conduza e nos coloque em processo de escutarmos as propostas de Deus para nossa salvação.

Ilustração: “Jesus curando o enfermo de Betsatá”, de Carl Heinrich Bloch.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos o Evangelho do dia, o texto que teceu leva-nos de novo a reflectir que Jesus, à semelhança do diálogo com o enfermo de longa data, nada nos impõe, mas as propostas que nos faz para nossa salvação, carecem da nossa adesão ao convite, dando-nos a liberdade da escolha. ...” Deus oferece-se e oferece a sua salvação a cada um de nós, e espera e conta com a nossa liberdade e resposta para que ela se efective, aconteça em cada um de nós, nas nossas mais diversas situações que necessitam de cura ou remédio”, como nos diz no texto.
    Como nos salienta (...) ”Centrados na nossa necessidade mais imediata não tomamos atenção à oferta que Jesus nos faz.
    Necessitamos por isso de estar atentos, de escutar a nossa realidade e vida para podermos responder correctamente à pergunta de Jesus, ou, ainda que respondendo equivocadamente, manifestar-lhe o nosso empenho em alcançar uma resposta, uma solução”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, que é importante, sempre bem-vinda, por nos sublinhar que …”a resposta à oferta de Jesus depende assim da nossa colaboração e liberdade, mas perceber a oferta implica também algum esforço da nossa parte, um colocar-se em situação de acontecer”… Que o Senhor o abençõe e proteja, Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    o ouvido à escuta

    que no limiar desta hora/a tua palavra intime/o nosso ouvido à escuta e ao perdão,/
    Deus de que o vestígio mais próximo/é a tua Palavra que tocámos,/Jesus Cristo, nossa
    nossa mudança e nossa passagem//

    que o anjo da tua caridade,/não o da catástrofe,/nos guarde nos dias e nos trabalhos/
    que recomeçam,//

    nós to pedimos em Jesus Cristo/
    e no Espírito iluminador

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  2. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe este belo texto que propôs para Meditação,tão profunda sobre o Evangelho de São João.Como nos diz o Frei José Carlos no texto,a resposta à oferta de Jesus depende assim da nossa colaboração e liberdade,mas perceber a oferta implica também algum esforço da nossa parte,um colocar-se em situação de acontecer...Que a nossa fé nos conduza e nos coloque em processo de escutarmos as promessas de Deus para nossa salvação.Obrigada,Frei José Carlos,pela maravilhosa e bela Meditação,as suas palavras são sempre bem-vindas ao nosso encontro.Bem-haja,Frei José Carlos.Que o Senhor o ilumine e o proteja e abençõe.Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

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