sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Esse homem é o instrumento escolhido por mim (Act 9,…)

Após a ressurreição Jesus envia os seus discípulos a anunciar a Boa Nova a todos os povos e por toda a terra.
Mandamento um tanto ou quanto megalómano, despropositado, na medida que sabemos que Jesus não se afastou muito dos seus lugares conhecidos, que levou uma vida à volta do lago de Tiberíades, de Jerusalém, e pouco mais.
Perguntamo-nos assim como foi possível aquele mandamento, aquela tarefa tão extraordinária, um peso extremamente implacável para um conjunto de seguidores que pouco mais conheciam que aquela região em que tinham vivido com Jesus.
A resposta para esta questão e para a compreensão do que encerra de extraordinário não pode deixar de ser encontrada no momento da vocação de cada um dos apóstolos e no momento da outorga do mandamento.
Assim, temos que ter presente que Jesus chama cada um dos apóstolos pessoalmente, individualmente, o que acarreta uma selecção, uma escolha fundamentada na missão a realizar por aquele que é escolhido e chamado.
Por outro lado, temos a convocação para a missão após a ressurreição, ou seja num momento histórico, ou da economia da salvação, em que é já a luz e a força do espirito que conduz as acções. Os apóstolos são enviados por Jesus mas é o Espirito Santo que os faz tomar consciência desse envio e da sua necessidade urgente. O que tinham vivido, experienciado, não podia ficar silenciado, por dar a conhecer aos outros homens.
Este mesmo processo se encontra em São Paulo, cuja conversão hoje celebramos. Quando Ananias é convocado por Deus a ir ter com Paulo, aquele desculpa-se com a violência e a perseguição de Paulo e portanto o desastre que se perspectiva face a tal encontro.
Diante desta justificação de Ananias, Deus revela-lhe que Paulo era já um instrumento escolhido por Deus, que no processo e na violência da perseguição Paulo já se tinha encontrado com Jesus, já se tinha confrontado com o próprio Espirito Santo e portanto estava apto a receber a visita e o acolhimento para a missão.
Face a esta história de Paulo e dos outros apóstolos não podemos deixar de nos interpelar pelas mesmas, pois também nós, cada um de nós, é um instrumento escolhido por Deus, e um instrumento para a realização de uma missão.
Como nos sentimos nessa situação? Como vamos percebendo que cada uma das nossas quedas, das nossas lutas para a exterminação do movimento cristão interno e pessoal, é afinal uma oportunidade que Deus nos oferece para nos encontrarmos com o seu amor, com a escolha que fez com cada um de nós?
Também cada um de nós é um instrumento escolhido de Deus, e necessitamos por isso entregar-nos à missão que tal escolha representa, à missão que nos desafia diante de um mundo que nos ultrapassa mas que na nossa humildade reconhecemos como ao alcance da nossa mão apoiada na mão de Deus.
Ilustração: “A conversão de São Paulo”, de Caravaggio, Capela Cerasi em Santa Maria del Popolo, Roma.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu no dia em que celebramos a conversão de S.Paulo é profundo, belo e importante nas nossas reflexões. Como nos afirma “Jesus chama cada um dos apóstolos pessoalmente, individualmente,” (…) mas “temos a convocação para a missão após a ressurreição, ou seja num momento histórico, ou da economia da salvação, em que é já a luz e a força do espirito que conduz as acções.”…
    Como nos salienta ...” Os apóstolos são enviados por Jesus mas é o Espirito Santo que os faz tomar consciência desse envio e da sua necessidade urgente. O que tinham vivido, experienciado, não podia ficar silenciado, por dar a conhecer aos outros homens.(…)
    (…) Face a esta história de Paulo e dos outros apóstolos não podemos deixar de nos interpelar pelas mesmas, pois também nós, cada um de nós, é um instrumento escolhido por Deus, e um instrumento para a realização de uma missão.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por recordar-nos que …” Também cada um de nós é um instrumento escolhido de Deus, e necessitamos por isso entregar-nos à missão que tal escolha representa, à missão que nos desafia diante de um mundo que nos ultrapassa mas que na nossa humildade reconhecemos como ao alcance da nossa mão apoiada na mão de Deus.”
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Votos de um bom fim-de-semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema sobre o Amor, considerado por alguns autores um dos mais belos poemas acerca do verdadeiro amor, escrito pelo Apóstolo Paulo.

    Poema do Amor

    "Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e também tenha uma fé capaz de mover montanhas, mas não tiver amor, nada seria. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas se não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo protege tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará. Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor" (I Cor 13:1-8,13)

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  2. Nem sempre fazemos a pergunta, nem sempre esperamos pela resposta, nem sempre entendemos como acção de Deus as opções que se nos apresentam, nem sempre estamos prontos para a missão que nos aguarda. Inter pars

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