segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Para vinho novo, odres novos! (Mc 2,18)

Ao atravessarmos as ruas antigas de Lisboa, ou de qualquer outra cidade, facilmente deparamos com os andaimes que restauram as fachadas das casas antigas, dos antigos prédios pombalinos, no caso específico de Lisboa, dando-lhe um brilho e uma frescura que nos agrada ver.
Tal como estas obras de recuperação de fachadas, muitas vezes pensamos que a nossa relação com Deus se processa do mesmo modo, que o nosso processo de conversão a Deus se concretiza num limpar de fachadas, numa limpeza primaveril que nos dá um novo brilho e uma outra frescura.
As palavras de Jesus, “para vinho novo odres novos”, mostram-nos como estamos enganados, como tal ideia é uma ilusão que nos distancia do projecto de Deus e da sua proposta, que é muito mais uma proposta de criação, de imaginação, de gestação de algo verdadeiramente novo, inédito e extraordinário.
Basta olhar o mundo à nossa volta, as cores dos pássaros e das flores, os milhões de estrelas que iluminam a noite, o vento que passa sempre de maneira diferente, as nossas faces que não se repetem, ainda que digamos que somos parecidos com o pai ou com a mãe. Deus é criativo, é sempre novo e quer-nos criativos e a inovar.
Por isso, na nossa relação com Ele, no nosso processo de conversão ao seu amor, não podemos querer enfiar o novo no velho, não podemos querer cozer um remendo novo sobre um pano velho. Necessitamos novos panos, novos odres, novas realidades que nos enquadram na novidade que Ele próprio é.
Necessitamos criatividade, necessitamos inovar e ousar, aceitar e acolher a diferença do novo que se pode gerar, ainda que isso nos assuste e faça vacilar face aos passos a dar. Nesses momentos de dúvida não podemos esquecer que Deus se oferece a cada um de nós e a toda a humanidade como uma criança, como um esposo, afinal sempre uma novidade e uma esperança de diferença e de futuro.
A nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor necessitam odres novos, novos espaços e modos de se exercitarem, de se tornarem realidade, e realidade transfigurante do mundo e de nós próprios.
Peçamos ao Senhor a graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode renovar, a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.
 
Ilustração: “Noite de estrelas sobre o Ródano”, de Vincent van Gogh, Museu d'Orsay, Paris.

3 comentários:

  1. Realmente, como era importante sermos capazes de inovar, de criar o novo, sem medo pela incerteza que se nos apresenta, pela dúvida que nos pode surgir!... De facto, é preciso acreditar na acção do Espírito Santo, para conseguir espaço novo para a Fé, a Esperança e o Amor "tornarem novas todas as coisas.

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  2. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e a proposta de Jesus para uma vida nova leva-nos a reflectir sobre a vontade, a coragem e a criatividade que precisamos ter para romper com os nossos comodismos, para ultrapassar os nossos receios do desconhecido, para sermos capazes de sairmos de nós próprios, para prosseguir a nossa caminhada.
    Como nos salienta, ...”na nossa relação com Ele (…) necessitamos criatividade, necessitamos inovar e ousar, aceitar e acolher a diferença do novo que se pode gerar, ainda que isso nos assuste e faça vacilar face aos passos a dar”. …
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …” Peçamos ao Senhor a graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode renovar, a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.”
    Grata, Frei José Carlos, pela importância das palavras partilhadas que nos desinstalam nesta noite de quarto crescente e estrelada de Janeiro, em que nos recorda que …” A nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor necessitam odres novos, novos espaços e modos de se exercitarem, de se tornarem realidade, e realidade transfigurante do mundo e de nós próprios.”
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Continuação de uma boa semana, com alegria, confiança e esperança.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    AQUELA
    PRIMAVERA
    QUE AINDA NÃO VEMOS

    Estamos demasiados habituados a rezar as nossas alegrias ou a nossas dores, as nossas esperanças
    ou os nossos desalentos. No fundo, rezamos aquilo que está manifesto, desenhado por um sorriso
    ou por uma lágrima, assinalado por uma data ... Nesta manhã queria rezar aqueles sentimentos
    intermédios, aquelas vontades secretas que nos habitam, aqueles sonhos que pulsam ainda sem
    uma forma definida, mas que nos colocam no caminho da esperança e da escuta. Protege em nós,
    Senhor, a semente daquela Primavera que ainda não vemos, mas cuja gestação escondida o Teu
    Espírito já começou.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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  3. Frei José Carlos,

    Muito grata por esta bela partilha de Meditação,tão profundo que nos ajudou a reflectir com mais interesse e profundidade esta passagem do Evangelho de São Marcos.Gostei,mesmo muito.Que o Senhor nos conceda a todos nós,a graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode renovar,a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.Obrigada,Frei José Carlos,pelas belas palavras partilhadas,e pela sua ilustração.Desejo-lhe um bom dia.Que o Senhor o ilumine e o proteja.Bem-haja,Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno.
    AD

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