Ao atravessarmos as
ruas antigas de Lisboa, ou de qualquer outra cidade, facilmente deparamos com
os andaimes que restauram as fachadas das casas antigas, dos antigos prédios
pombalinos, no caso específico de Lisboa, dando-lhe um brilho e uma frescura
que nos agrada ver.
Tal como estas obras
de recuperação de fachadas, muitas vezes pensamos que a nossa relação com Deus
se processa do mesmo modo, que o nosso processo de conversão a Deus se
concretiza num limpar de fachadas, numa limpeza primaveril que nos dá um novo
brilho e uma outra frescura.
As palavras de Jesus, “para
vinho novo odres novos”, mostram-nos como estamos enganados, como tal ideia é
uma ilusão que nos distancia do projecto de Deus e da sua proposta, que é muito
mais uma proposta de criação, de imaginação, de gestação de algo
verdadeiramente novo, inédito e extraordinário.
Basta olhar o mundo à
nossa volta, as cores dos pássaros e das flores, os milhões de estrelas que
iluminam a noite, o vento que passa sempre de maneira diferente, as nossas
faces que não se repetem, ainda que digamos que somos parecidos com o pai ou
com a mãe. Deus é criativo, é sempre novo e quer-nos criativos e a inovar.
Por isso, na nossa
relação com Ele, no nosso processo de conversão ao seu amor, não podemos querer
enfiar o novo no velho, não podemos querer cozer um remendo novo sobre um pano
velho. Necessitamos novos panos, novos odres, novas realidades que nos
enquadram na novidade que Ele próprio é.
Necessitamos criatividade,
necessitamos inovar e ousar, aceitar e acolher a diferença do novo que se pode
gerar, ainda que isso nos assuste e faça vacilar face aos passos a dar. Nesses
momentos de dúvida não podemos esquecer que Deus se oferece a cada um de nós e
a toda a humanidade como uma criança, como um esposo, afinal sempre uma
novidade e uma esperança de diferença e de futuro.
A nossa fé, a nossa
esperança, o nosso amor necessitam odres novos, novos espaços e modos de se
exercitarem, de se tornarem realidade, e realidade transfigurante do mundo e de
nós próprios.
Peçamos ao Senhor a
graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode
renovar, a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.
Ilustração: “Noite de estrelas sobre o Ródano”, de Vincent van Gogh, Museu d'Orsay, Paris.
Realmente, como era importante sermos capazes de inovar, de criar o novo, sem medo pela incerteza que se nos apresenta, pela dúvida que nos pode surgir!... De facto, é preciso acreditar na acção do Espírito Santo, para conseguir espaço novo para a Fé, a Esperança e o Amor "tornarem novas todas as coisas.
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Meditação que teceu e a proposta de Jesus para uma vida nova leva-nos a reflectir sobre a vontade, a coragem e a criatividade que precisamos ter para romper com os nossos comodismos, para ultrapassar os nossos receios do desconhecido, para sermos capazes de sairmos de nós próprios, para prosseguir a nossa caminhada.
Como nos salienta, ...”na nossa relação com Ele (…) necessitamos criatividade, necessitamos inovar e ousar, aceitar e acolher a diferença do novo que se pode gerar, ainda que isso nos assuste e faça vacilar face aos passos a dar”. …
Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …” Peçamos ao Senhor a graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode renovar, a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.”
Grata, Frei José Carlos, pela importância das palavras partilhadas que nos desinstalam nesta noite de quarto crescente e estrelada de Janeiro, em que nos recorda que …” A nossa fé, a nossa esperança, o nosso amor necessitam odres novos, novos espaços e modos de se exercitarem, de se tornarem realidade, e realidade transfigurante do mundo e de nós próprios.”
Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
Continuação de uma boa semana, com alegria, confiança e esperança.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.
AQUELA
PRIMAVERA
QUE AINDA NÃO VEMOS
Estamos demasiados habituados a rezar as nossas alegrias ou a nossas dores, as nossas esperanças
ou os nossos desalentos. No fundo, rezamos aquilo que está manifesto, desenhado por um sorriso
ou por uma lágrima, assinalado por uma data ... Nesta manhã queria rezar aqueles sentimentos
intermédios, aquelas vontades secretas que nos habitam, aqueles sonhos que pulsam ainda sem
uma forma definida, mas que nos colocam no caminho da esperança e da escuta. Protege em nós,
Senhor, a semente daquela Primavera que ainda não vemos, mas cuja gestação escondida o Teu
Espírito já começou.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)
Frei José Carlos,
ResponderEliminarMuito grata por esta bela partilha de Meditação,tão profundo que nos ajudou a reflectir com mais interesse e profundidade esta passagem do Evangelho de São Marcos.Gostei,mesmo muito.Que o Senhor nos conceda a todos nós,a graça da inspiração do Espirito Santo o verdadeiro vinho novo que nos pode renovar,a verdadeira força que faz tudo de novo como no princípio.Obrigada,Frei José Carlos,pelas belas palavras partilhadas,e pela sua ilustração.Desejo-lhe um bom dia.Que o Senhor o ilumine e o proteja.Bem-haja,Frei José Carlos.
Um abraço fraterno.
AD