quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Quem traz uma lâmpada para a colocar debaixo da cama? (Mc 4,21)

A forma como Jesus ensina as multidões através das parábolas, fazendo referência a realidades do quotidiano e do conhecimento de todos, é verdadeiramente surpreendente, assim como é surpreendente a forma implicativa e interactiva, pois Jesus não deixa os seus ouvintes na passividade, exige-lhes uma resposta, um compromisso.
Podemos ver esta interacção no momento em que Jesus interroga os seus ouvintes sobre o lugar da luz, sobre a naturalidade do lugar em que se coloca a luz, confrontando-os com um exemplo que é um completo disparate, pois ninguém acende uma luz para a esconder debaixo do alqueire ou da cama.
Habituados como estamos à iluminação eléctrica, a termos nos nossos espaços habitacionais diversos pontos de luz, como candeeiros no tecto, nas secretárias, na mesinha ao lado do sofá, muitas vezes nem nos apercebemos da importância do lugar em que a fonte de iluminação é colocada. Contudo, todos temos muito claro que não acendemos nenhum candeeiro para o colocar debaixo da cama ou o deixar aceso no roupeiro.
Tomando como ponto de partida esta evidência, Jesus confronta os seus discípulos e ouvintes com a necessidade de serem e sermos luz que brilha, uma luz que dá forma e cor aos corpos que nos rodeiam, tal como o faz qualquer fonte de luz, e portanto de nos reconhecermos como colocados num ponto elevado, evidente, de forma a iluminar verdadeiramente.
Não sendo nós a fonte da luz, pois a luz verdadeira é Cristo, somos chamados a reflecti-la de tal maneira que tudo à nossa volta seja inundado da luz, ganhe as formas e as cores que lhes são naturais e que a luz revela na sua perfeição ou imperfeição. Somos chamados a ser porta-luz, lâmpadas que se deixam incendiar para que outras sejam igualmente incendiadas.
Esta iluminação, este irradiar, passa hoje, e como passou sempre ao longo dos tempos, por uma presença cheia de alegria, por opções e palavras cheios de esperança, por gestos que ainda que insignificativos estão fundados na caridade e na amizade.
É esta vida iluminada por Jesus que somos convidados a viver e através dela a iluminar as sombras que nos rodeiam, ou que ainda preenchem o nosso interior, como tantas vezes acontece. Que a luz de Cristo brilhe sobre nós e nos conceda a paz para podermos e sabermos iluminar sem nenhuma quebra de corrente.
 
Ilustração: “Vorozhinnia”, de Mykola Pymonenko, Pintura Ucraniana.

2 comentários:

  1. Ser luz é um dom que temos que saber compreender e aceitar para podermos difundir.
    Devemos agradecer àquele que o são e no-la transmitem pela presença, a amizade...Inter Pars

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  2. Frei José Carlos,

    Somos apenas um mero instrumento por onde passa a Luz que nos ilumina. Como nos salienta ...” Não sendo nós a fonte da luz, pois a luz verdadeira é Cristo, somos chamados a reflecti-la de tal maneira que tudo à nossa volta seja inundado da luz, ganhe as formas e as cores que lhes são naturais e que a luz revela na sua perfeição ou imperfeição. Somos chamados a ser porta-luz, lâmpadas que se deixam incendiar para que outras sejam igualmente incendiadas. (…)
    Na realidade, Jesus, “exige aos seus ouvintes uma resposta, um compromisso” que também nos é dirigido, e como Frei José Carlos afirma no texto …” este irradiar, passa hoje, e como passou sempre ao longo dos tempos, por uma presença cheia de alegria, por opções e palavras cheios de esperança, por gestos que ainda que insignificativos estão fundados na caridade e na amizade”. …
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação profundo, que ilustrou de forma tão bela, pela confiança e esperança que nos transmite, por recordar-nos que …” É esta vida iluminada por Jesus que somos convidados a viver e através dela a iluminar as sombras que nos rodeiam, ou que ainda preenchem o nosso interior, como tantas vezes acontece”. …
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Desejo que tenha um bom dia, com alegria, confiança e esperança.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.

    OS DIAS
    TORNAM-SE
    CLAROS

    Os dias tornam-se claros, Senhor. À medida que as horas de luz aumentam, parece que
    cresce também a extensão interior do tempo. Gosto do pleno azul dos céus, pois ele nos
    restitui o sabor indiviso da Tua plenitude. Gosto da nitidez que a matéria ganha, porque sei
    que nela se manifesta a evidência do Espírito. Gosto de pensar que hoje subirei pelas ruas
    iluminadas de sol, pois isso espelha a Tua promessa de que venceremos a vida penumbrosa e sombria.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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