sábado, 12 de janeiro de 2013

Low-profile evangélico, “Ele deve crescer e eu diminuir” (Jo 3,30)

É surpreendente a forma como João Baptista assume a sua missão e relação com Jesus, o Messias que reconhece e identifica no momento em que se encontra a baptizar no rio Jordão.
Ainda que não encontremos esta expressão nos Evangelhos, podemos dizer à luz da nossa cultura, da nossa sociedade e relações profissionais e sociais, que João Baptista se apresenta como uma figura de low-profile.
Face ao reconhecimento do Messias, João Baptista assume uma posição discreta, opta por uma linha de conduta que evita a exposição, que evita os holofotes. João Baptista sabe que deve diminuir para que Jesus cresça, que deve ceder o lugar àquele que era antes de ele ser.
Tal conduta, tal posição, não significa no entanto que João tenha abdicado da sua missão, que se tenha reformado, mas bem pelo contrário, João continua a sua acção e a sua missão, e de tal forma que não só é visitado pelas autoridades de Jerusalém como acaba mesmo por dar a vida pela fidelidade à missão a que tinha sido chamado.
Assim, o low-profile de João Baptista deixa-nos um desafio que temos que assumir claramente e com todas as consequências, Jesus deve crescer e cada um de nós deve diminuir, mas tal processo não implica nem o abandono nem a deserção, mas pelo contrário uma fidelidade cada vez maior.
De facto, para que diminua o nosso egoísmo, a nossa auto-suficiência, para que Jesus cresça em cada um de nós, temos que permanecer fiéis, antes de mais ao seu conhecimento, à partilha da sua intimidade e depois frente aos desafios do mundo que se nos colocam por essa mesma fidelidade.
O crescimento de Jesus, a nossa identificação com ele, de modo a podermos dizer como São Paulo “já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”, exige essa humildade de João de se reconhecer indigno servo e a sua fidelidade de continuar a pregar e a baptizar apesar de Jesus já fazer o mesmo e com mais popularidade.
Procuremos pois permanecer fiéis na humildade da nossa missão, confiantes que essa fidelidade e humildade nos alcançarão a alegria de partilhar da intimidade eterna Daquele por quem todo o crescimento e luz nos vêm.
 
Ilustração: “São João Baptista”, de Pierre Mignard, Museu do Prado, Madrid.

 

 

 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos recorda o comportamento assumido por João Baptista ao reconhecer Jesus, o Messias, no momento em que se encontra a baptizar no rio Jordão, …” deixa-nos um desafio que temos que assumir claramente e com todas as consequências, Jesus deve crescer e cada um de nós deve diminuir, mas tal processo não implica nem o abandono nem a deserção, mas pelo contrário uma fidelidade cada vez maior” (…) “permanecendo fiéis, antes de mais ao seu conhecimento, à partilha da sua intimidade e depois frente aos desafios do mundo que se nos colocam por essa mesma fidelidade.”
    Grata, Frei José Carlos, por esta partilha profunda, maravilhosamente ilustrada, que conduz-nos ao fundo de nós mesmos, e que ultrapassa a nossa relação com Jesus, para levar-nos à reflexão sobre a realidade do nosso quotidiano nas suas múltiplas dimensões.
    Que o Senhor o ilumine, abençoe e proteja.
    Votos de um bom domingo.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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