O Evangelho de São
Marcos diz-nos que veio ao encontro de Jesus uma grande multidão das várias
regiões vizinhas de Cafarnaum, uma multidão atraída pelo que tinha ouvido
contar dele.
Ainda hoje, e passados
dois mil anos, nos deparamos com estes tipos de movimentações, de grupos e
massas humanas que se movimentam por causa de alguma coisa que ouviram contar,
que lhes foi dito por outros. O homem continua a ter uma atracção tremenda pelo
extraordinário, pelo sensacional, pela novidade que surpreende.
O episódio que São
Marcos nos narra no Evangelho está marcado por esta atracção do homem, por uma
avidez de sensacionalismo que Jesus não promove nem sustenta, mas pelo contrário
combate e recusa a sustentar.
E não pode deixar de o
fazer, porque esta busca da multidão está equivocada, está mal direccionada no
seu fim, porque o mais importante não é o que Ele faz mas o que Ele é, algo que
a multidão deve descobrir e com o qual se deve confrontar.
De facto, os vários
milagres de Jesus, as várias curas são apenas portas de acesso, sinais para um
encontro com a plenitude que nele se encontra, com a vida e a saúde que Ele próprio
é. A multidão que o aperta é assim uma multidão que necessita passar do
imediato do visível para o encontro com o eterno e o invisível.
Neste sentido, e nesta
necessidade que nos atinge igualmente, estamos contudo um pouco mais à frente,
um pouco mais avançados, pois conhecemos o mistério da ressurreição, que aquela
multidão desconhecia.
É a ressurreição de
Jesus que revela em plenitude a sua dimensão divina, que ilumina todos os
milagres e curas como sinais projectantes para o grande milagre que é a redenção
da humanidade. Todos os milagres e curas ganham assim sentido revelador à luz da
morte e ressurreição de Jesus, que opera a verdadeira cura.
Tal como a multidão do
Evangelho também muitos de nós ainda procuramos Jesus pelo que ouvimos contar,
pelo que nos foi dito por outros. Necessitamos encontrar-nos com Jesus por Ele
próprio, pela sua pessoa, com Ele próprio, e para isso não podemos fugir nem
esconder a dor da morte e a alegria da ressurreição. Numa e noutra face do
mistério revela-se afinal a maravilha da acção terapêutica de Deus, a cura e o
milagre que Jesus opera.
Procuremos pois Jesus
por ele próprio, e por nós próprios enquanto campo da acção Ele que pode realizar
connosco e em nós.
Ilustração: “Jesus
pregando no mar da Galileia”, de Jan Brueghel, o Velho, Rijksmuseum,
Amesterdão.
Certamente só no silêncio interior e na oração
ResponderEliminarconseguiremos encontrar-nos com Jesus por ele próprio enão por nós, para nossa satisfação ou interesse. Inter Pars
Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata pelas palavras partilhadas, que nos fazem questionar sobre a relação que mantemos com Jesus, porque buscamos o encontro com Jesus, por recordar-nos que ...” Necessitamos encontrar-nos com Jesus por Ele próprio, pela sua pessoa, com Ele próprio, e para isso não podemos fugir nem esconder a dor da morte e a alegria da ressurreição.”…
Que o Senhor ilumine o Frei José Carlos, o guarde e abençoe.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo o texto de uma oração.
QUERIA
DIZER MAIS
Senhor, hoje queria dizer mais. Queria que a minha oração não fosse este rumor de sempre, as mesmas palavras
disparadas à pressa, entre uma coisa e outra; ou o balbucio esquivo, cheio de tudo o que eu não disse, porque
não encontrei o tempo, o modo ou a verdade. Hoje queria dizer mais. Não trago intenções, nem pedidos. Tenho pensado no que seria pedir-te não apenas que olhes por mim (isso fazes continuamente, mesmo se me esqueço de pedir), mas que olhes para mim. Dia após dia, sinto que, mais do que tudo, preciso do Teu olhar. Talvez me faltem palavras... Queria apenas colocar devagar as minhas mãos dentro das Tuas. E isso ser, Senhor, a minha oração e a minha vida.
(In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)