O encontro de Jesus,
na sinagoga de Cafarnaum, com um homem possuído por um espirito impuro, não
deixa de nos surpreender, de nos questionar na nossa fé e relação com Jesus.
Aquele homem, e o seu
grito no meio da assembleia reunida para escutar a Palavra de Deus, recorda-nos
o brutal antagonismo que habita o coração do homem desde que a “luz veio ao
mundo mas o mundo não a quis receber”.
Neste homem podemos
ver que ele sabe bem quem tem diante de si, o “Santo de Deus”, mas ao mesmo
tempo desconhece aquele que tem diante de si. Ele sabe e não sabe nada.
Ele é capaz de
reconhecer em Jesus de Nazaré, naquele que passava quase despercebido como
homem, o Filho de Deus, o “Santo de Deus”, mas é incapaz de reconhecer a sua
missão salvadora, é incapaz de reconhecer que diante de Si não tem apenas a
santidade de Deus mas igualmente a salvação de Deus.
E neste antagonismo
joga-se afinal o encontro e o desencontro com Jesus, pois não só somos chamados
a reconhecê-lo e a acolhê-lo como Filho de Deus, o Santo de Deus, o que poderíamos
dizer pouco nos alteraria na nossa situação, mas também a reconhecê-lo e a
acolhê-lo como nosso libertador, o que nos altera profundamente.
Ao libertar este homem
do espirito impuro que o habitava Jesus coloca-se no centro e no coração da sua
missão, da sua acção, que não tem outro objectivo que libertar o homem de todos
os condicionalismos e escravaturas de modo a poder partilhar da santidade de
Deus.
Neste sentido, também
nós e hoje somos convidados a reconhecer o Filho de Deus e neste reconhecimento
a aceitar que ele vem até ao homem para o libertar, para o salvar, o que
inevitavelmente exige alterações, provoca alterações, nos tem que
obrigatoriamente deixar outros.
Aceitemos pois a
mudança que a vinda de Deus até nós provoca e as dores que nos podem causar os
cortes com as trevas em que nos podemos encontrar.
Ilustração: “Cristo
com pecadores arrependidos”, de Gerard Seghers, Rijksmuseum, Amesterdão.
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