terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Eu sei quem tu és! (Mc 1,24)

O encontro de Jesus, na sinagoga de Cafarnaum, com um homem possuído por um espirito impuro, não deixa de nos surpreender, de nos questionar na nossa fé e relação com Jesus.
Aquele homem, e o seu grito no meio da assembleia reunida para escutar a Palavra de Deus, recorda-nos o brutal antagonismo que habita o coração do homem desde que a “luz veio ao mundo mas o mundo não a quis receber”.
Neste homem podemos ver que ele sabe bem quem tem diante de si, o “Santo de Deus”, mas ao mesmo tempo desconhece aquele que tem diante de si. Ele sabe e não sabe nada.
Ele é capaz de reconhecer em Jesus de Nazaré, naquele que passava quase despercebido como homem, o Filho de Deus, o “Santo de Deus”, mas é incapaz de reconhecer a sua missão salvadora, é incapaz de reconhecer que diante de Si não tem apenas a santidade de Deus mas igualmente a salvação de Deus.
E neste antagonismo joga-se afinal o encontro e o desencontro com Jesus, pois não só somos chamados a reconhecê-lo e a acolhê-lo como Filho de Deus, o Santo de Deus, o que poderíamos dizer pouco nos alteraria na nossa situação, mas também a reconhecê-lo e a acolhê-lo como nosso libertador, o que nos altera profundamente.
Ao libertar este homem do espirito impuro que o habitava Jesus coloca-se no centro e no coração da sua missão, da sua acção, que não tem outro objectivo que libertar o homem de todos os condicionalismos e escravaturas de modo a poder partilhar da santidade de Deus.
Neste sentido, também nós e hoje somos convidados a reconhecer o Filho de Deus e neste reconhecimento a aceitar que ele vem até ao homem para o libertar, para o salvar, o que inevitavelmente exige alterações, provoca alterações, nos tem que obrigatoriamente deixar outros.
Aceitemos pois a mudança que a vinda de Deus até nós provoca e as dores que nos podem causar os cortes com as trevas em que nos podemos encontrar.
 
Ilustração: “Cristo com pecadores arrependidos”, de Gerard Seghers, Rijksmuseum, Amesterdão.

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