quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Carta de Frei Francisco Rendeiro de 6 de Junho de 1944 ao Padre Pio Gomes

Continuamos a divulgação do espólio documental do Arquivo Histórico Dominicano apresentando uma carta que o Padre frei Francisco Rendeiro dirige a 6 de Junho de 1944, desde Aldeia Nova, onde estava como Director da Escola Apostólica, ao Padre Frei Pio Gomes.
Por ela ficamos a saber do atraso no início do ano lectivo, provocado pela própria instalação da Escola Apostólica ali no ano de 1943, das perspectivas de vocações, nomeadamente da ida do aluno Raul Rolo para o noviciado, e da inerente questão económica e sustentabilidade face a uma vocação não aceite pela família.
É um documento extraordinário, na medida em que revela a realidade da ainda não Província Dominicana em Portugal, com as suas dificuldades e esperanças, e a sensibilidade de frei Francisco Rendeiro, mais tarde Bispo do Algarve e de Coimbra.

Aldeia Nova 6/VI/944

Meu Reverendo e Caro Padre Pio
Já deve estar arreliado comigo e com razão pois devo-lhe resposta a 2 cartas que têm esperado aqui encima da minha mesa. Queira desculpar-me que o trabalho é muito. Agradeço as suas boas notícias e as suas contas de Missas. A sua primeira carte é de 9 de Maio. Nela faz alusão a outra longuíssima que diz ter escrito durante férias: não recebi nada. Recebi por estes dias a sua última que também agradeço.
Pois nós por cá vamos afrentando a barca. Os nossos alunos ressentem-se bastante de termos começado o ano só em Janeiro, mesmo assim creio que uma boa parte deles vencerão o ano. O Rolo seguirá este ano para o noviciado. Depois não sei quando será a próxima leva, porque o resto está bastante cru. Como sabe é mister muito ingrato o nosso por vermos quão pequeno é o número do que se aproveitam.
Fizemos a nossa peregrinação a Fátima a pé. Lá vimos a miraculada da Guarda, mas só antes da missa dos doentes. No regresso o Senhor Rodrigues fez o favor de nos vir trazer de automóvel em 3 viagens.
O Senhor Padre Videira já me falou do seu aspirante de 20 anos e parece-me até que já tomou decisão favorável a seu respeito. Oxalá que seja um bom elemento. O pai ainda continua na oposição? Nesse caso quem lhe dará o necessário para as despesas?
Muito me regozijei também com a notícia que me dá do tal médico de que já me tinha falado. E quero felicitar o meu caro frei Pio por ter sido instrumento de Deus nessa vocação.
Rezemos para que as suas impressões de Salamanca sejam boas e a vocação firme. Era bom manobrar para que ele não vá fazer o noviciado a Ávila onde os noviços são garotos de 16 anos, mas sim a Salamanca onde encontrará um ambiente próprio da sua categoria. Já talvez isto esteja até combinado sem eu saber, mas permita que lhe lembre porque depois pode haver dificuldade quanto ao lugar.
Peço dê muitos cumprimentos meus aos Reverendos Padres desse Seminário.
Não se esqueça também nas suas orações deste seu indigno irmão em São Domingos.
Frei Francisco Rendeiro, OP



1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como tenho dito, em diferentes momentos, gosto sempre de ler este tipo de partilhas sobre a História da Província e conhecer as dificuldades com que a Ordem se debateu aquando da restauração e dos esforços desenvolvidos.
    A carta que hoje partilha connosco foi escrita por um dominicano que foi Bispo na diocese (Faro) a que a vila aonde nasci pertence. E como memória guardo a apreciação que era feita a D. Francisco Rendeiro como era tratado. Tenho ideia que faleceu cedo. Gostaria de ter a oportunidade de encontrar ainda alguém da minha geração ou próxima que me recordasse o trabalho que desenvolveu.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar