Acreditais que posso fazer o que pedis? (Mt 9,28)

Vieste até nós Senhor e puseste-te em caminho, ao nosso passo, ao nosso andar.
Cruzas-te connosco, encontras-nos nas beiras dos caminhos, à margem.
E como cegos te seguimos.
Pressentimos-te, ouvimos-te, e inconstantes te seguimos.
Uma força nos atrai e esse grito que nos dói: Filho de Deus, tem piedade de nós!
Na nossa cegueira te buscamos e te gritamos: Tem piedade de nós!
E quando já perto de ti, quase a tocar-te em casa, a pergunta fulminante.
Uma rasteira ou um apelo a maior fé?
Acreditais que posso fazer o que pedis?
Respondemos que sim, mas lá no fundo habita a dor da dúvida.
E a pergunta volta fria, cortante como uma lâmina de espada.
Acreditais que posso fazer o que pedis?
A bem da verdade, não acreditamos…
Pedimos-te que tenhas piedade, que nos cures e nos salves, mas no fundo…
Acreditamos mais no que podemos.
Se acreditássemos de veras, seria feita a nossa vontade,
Seriamos capazes de levantar o monte e arrojá-lo no mar,
De abrigar nos nossos braços todos os pássaros perdidos do amor.
Se acreditássemos de veras, seria feita a tua vontade,
Seriamos fermento na massa, óleo da alegria, porto de abrigo.
Tem piedade de nós, Filho de Deus!
Abre-nos os olhos, para crer. Para acreditar verdadeiramente,
Que podes fazer em nós, o que nós acreditamos.
Como cegos te seguimos…