quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas (Lc 1,49)

Ao chegar a casa de sua prima, Maria é louvada por Isabel como a bendita entre as mulheres, a bem-aventurada, a feliz, porque acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe tinha sido dito da parte do Senhor.
Na sua humildade, e certamente ainda perdida no mistério que a envolvia, Maria canta um hino de louvor, eleva a sua voz para enaltecer o Senhor, pois o seu Espírito exulta de alegria no Deus seu Salvador.
O seu canto de louvor parte dessa consciência que o Senhor olhou para a sua humildade, dessa consciência de que o seu recato, a sua paz, a sua justiça, o despojamento da sua vontade para que se cumprisse a vontade de Deus, não conduziu a um aniquilamento, a uma nulidade, mas ao olhar benévolo e misericordioso de Deus para consigo. E a partir desse olhar e do seu acolhimento, da sua disponibilidade para a surpresa de Deus, o Todo-Poderoso fez em si maravilhas, actuou nela como em toda a obra da criação.
Maria é o novo paraíso, no qual pode ser formado o novo Adão, Maria é a nova terra ainda virgem, sem mancha de fogo nem arado, na qual pode ser lançada a semente da vida eterna. Maria é a nova história, um começo de uma nova história, porque o tempo velho era o tempo da promessa e agora é o tempo do acontecimento, o tempo do existir aqui e agora, o tempo do “Eu Sou”.
Por todas as razões Maria reconhece que o Senhor fez nela maravilhas, foi-a formando e moldando como mulher para que estivesse apta a ser a mãe do Salvador, fosse de facto bendita para poder acolher o sumo Bem que vinha viver entre os homens. E portanto não pode fazer outra coisa mais que acolher essa vinda, essa vida nova que quer nascer, e louvar a Deus pelo seu amor e a sua preferência por querer viver entre os homens.
Também nós, como Maria, somos convidados a reconhecer as maravilhas que o Senhor fez e faz em nós, a louvar cada obra e cada acção de Deus na nossa vida e na vida daqueles que nos rodeiam e amamos. E quantas maravilhas o Senhor vai fazendo!
O sol que nasce e vemos, a neblina que nos resfria, o pão de cada dia, um corpo amigo para amar, um filho para educar, um trabalho para nos realizar e dignificar, a palavra que trocamos com o desconhecido num desejo de bom dia, um abraço irmão, o cansaço do fim do dia e afinal ainda o corpo vivo.
Mas também a dor da partida e da ausência, a fé de uma eternidade junto de Deus, o crescimento na autonomia e na responsabilização, a fraqueza e os limites do outro, arestas que nos limam nas nossas próprias arestas, a injustiça e a guerra que apelam à nossa insensibilidade, a liberdade de poder fazer o bem ou fazer o mal e a alegria do bem que se fez e a tristeza pelo mal que se consentiu.
Não acreditamos num Deus ausente, e muito menos num Deus passivo. Deus vai fazendo história connosco, na nossa vida e na nossa relação com ele e com os outros. Não é um Deus determinista, e não somos umas marionetas nas suas mãos, mas não podemos negar que vivemos sempre à beira de um convite, de uma mão estendida cheia de estrelas para partilhar.
O Senhor fez em mim maravilhas, faz em mim maravilhas, e quer ainda mais que eu faça maravilhas com o que me oferece maravilhosamente do seu amor.

Ilustração: “Virgem Maria”, de Adalbert Begas.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Ao recordar-nos que Maria na Visitação a sua prima Isabel, após saudá-la, foi louvada pela sua fé por Isabel, Maria entoa o Magnificat, ...“para enaltecer o Senhor, pois o seu Espírito exulta de alegria no Deus seu Salvador.
    O seu canto de louvor parte dessa consciência que o Senhor olhou para a sua humildade, dessa consciência de que o seu recato, a sua paz, a sua justiça, o despojamento da sua vontade para que se cumprisse a vontade de Deus, não conduziu a um aniquilamento, a uma nulidade, mas ao olhar benévolo e misericordioso de Deus para consigo. E a partir desse olhar e do seu acolhimento, da sua disponibilidade para a surpresa de Deus, o Todo-Poderoso fez em si maravilhas, actuou nela como em toda a obra da criação”…
    Como nos salienta, Frei José Carlos, …” Também nós, como Maria, somos convidados a reconhecer as maravilhas que o Senhor fez e faz em nós, a louvar cada obra e cada acção de Deus na nossa vida e na vida daqueles que nos rodeiam e amamos. E quantas maravilhas o Senhor vai fazendo!”
    Bem-haja por nos recordar que …” Não acreditamos num Deus ausente, e muito menos num Deus passivo. Deus vai fazendo história connosco, na nossa vida e na nossa relação com ele e com os outros. Não é um Deus determinista, e não somos umas marionetas nas suas mãos, mas não podemos negar que vivemos sempre à beira de um convite, de uma mão estendida cheia de estrelas para partilhar.”…
    Ajudai-nos, Senhor, a reconhecer cada dia como um dom, como uma oportunidade.
    Obrigada, Frei José Carlos, por esta partilha profunda, maravilhosa, que nos conforta e encoraja. Que o Senhor illumine e proteja o Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata pelas suas palavras tão reconfortantes,que nos encorajam e nos dão força e nos ajudam na Meditação destes grandes mistérios.É muito gratificante,Frei José Carlos,tudo quanto partilhou connosco.Bem-haja e que o Senhor o ilumine e o abençõe.
    Um abraço fraterno.
    AD

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