segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Vais ficar mudo sem poder falar (Lc 1,20)

Zacarias entra no santuário do Senhor para fazer a oferta do incenso e ali lhe aparece o Anjo do Senhor com o anúncio de um filho, uma alegria para a sua velhice e a velhice da sua esposa.
Zacarias, sacerdote do templo, homem experimentado na vida, nas leis e no exercício do culto, questiona o anjo, pede-lhe uma prova da verdade desse anúncio e por causa disso, por causa dessa falta de fé cai sobre ele o castigo do silêncio, a impossibilidade de contar a alguém, até à sua própria esposa o que lhe tinha acontecido e estava para acontecer.
Contudo, a mudez de Zacarias não é apenas um castigo pessoal, ela é o sinal da própria experiência do povo e do sacerdócio a que Zacarias pertencia, a experiência de uma promessa que não tinha sido acreditada, crida como verdadeira, à qual tinham sido exigidas provas e por isso se tinha tornado silenciosa, impossível de comunicar, intransmissível.
E a falta de fé de Zacarias e do povo é ainda mais condenável na medida em que um tem a possibilidade de entrar no santuário do Senhor, partilhar da intimidade do espaço divino onde lhe oferece incenso, enquanto que o outro partilha dessa mesma intimidade com a presença de Deus nesse espaço sagrado no meio do povo.
O silêncio é assim consequência da falta de percepção de que Deus vem ao encontro do homem, do seu povo, habita no meio dele, está disposto a dar a vida, a fecundar todas vidas, mas para isso é exigido ao homem a confiança na sua palavra, na promessa dessa mesma presença, vinda e fecundidade.
Este desafio coloca-se também a nós, e pode realmente levar-nos à mudez, a essa experiência de não podermos falar de Deus e até com Deus. Para que isso não aconteça necessitamos colocar nele toda a nossa confiança, a nossa esperança, sem qualquer demanda de prova ou senha. Que a Virgem Maria, que confiou e se entregou, nos ilumine nessa confiança.

Ilustração: "Anunciação a Zacarias", fragmento de um icone russo "A execução de São João Baptista".

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Quantas vezes por egoísmo, fragilidades, cansaço, porque nos interrogamos, porque temos dúvidas, vivemos períodos em que nos comportamos como gente de pouca fé, em que nos falta a força, a coragem para prosseguir o Caminho até à casa do Pai, incapazes de procurar um sinal da presença de Deus entre nós, inclusive de dialogar com Deus. Reduzidos ao silêncio como se estivéssemos mudos, como nos diz.
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e ...” Peçamos à Virgem Maria, que confiou e se entregou, que nos ilumine nessa confiança”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela exortação, pela coragem que nos transmite. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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