sábado, 24 de dezembro de 2011

Um menino numa manjedoura (Lc 2,12)

Acontecimento estranho o desta noite, um acontecimento para ficar na memória. Uns anjos que cantam no céu que nos nasceu o Salvador, um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.
Um gruta iluminada por um fogo trémulo, uns poucos animais que testemunham tão magnifico nascimento, o pai e a mãe, o seu filho acabado de nascer, sem mais que uns pobres panos que o cobrem e protegem do frio.
Não houve lugar para eles na hospedaria e ali tão pouco houve um berço para aquele menino, apenas uma manjedoura na qual foi deitado para ter o aconchego do bafo quente dos animais que o admiram.
Este é o sinal para o reconhecimento, um menino, envolto em panos e deitado numa manjedoura. O nosso Deus, o nosso Salvador, apresenta-se-nos assim, frágil, necessitado e desconcertante.
Um menino, quem não se apaixonará por um menino recém-nascido? Está-nos nas veias do sangue essa atracção, é o nosso instinto de paternidade ou maternidade que nos leva sempre a abeirar-nos, a olharmos e a amarmos. Que outro modo poderia Deus usar para nos atrair a ele, na sua encarnação, se não aparecendo como menino? Deus vem sempre ao encontro do que em nós existe de bom, do que em nós pode conduzir-nos à satisfação e felicidade.
Um menino envolto em panos, nos panos da nossa pobreza corporal, nessa dimensão que nos constitui e nos faz relacionáveis, possíveis de viver com o outro. Um pano que é a nossa carne e sob a qual se esconde a divindade, para que nos pudéssemos aproximar sem temor.
Um menino deitado numa manjedoura, instrumento para a alimentação dos animais que nessa noite dormiam na gruta. Um menino que se oferece como alimento a todos os homens e mulheres, alimento para o seu desejo de imortalidade, para o seu desejo de amor, para o seu alimento de justiça e de verdade.
Deus menino nasce e apresenta-se inocente e frágil numa manjedoura para que nos aproximemos dele como do pão que sacia e alimenta a nossa vida, na sua palavra feita Evangelho, no seu corpo feito Eucaristia, na sua vida feita amor e entrega amorosa para nossa redenção.
Nesta noite de Natal do ano dois mil e onze aproximemo-nos de Jesus com fome, com muita fome, porque ele se faz alimento e vem saciar todos aqueles que o buscam confiantes.

A todos os amigos e amigas que têm frequentado este espaço os meus votos de um Santo Natal, vivido neste espírito de amor fiel e confiante que o Jesus menino nos legou.

Ilustração: “Natividade”, de Louis Cretey.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Li, voltei a reler e a reflectir esta tarde o texto que ontem partilhou connosco e que intitulou “Um menino numa manjedoura (Lc 2,12), bebendo cada uma das palavras com que o teceu. Ao falar-nos do acontecimento desta noite que perdurará para sempre, o nascimento do Salvador (não interessa a data precisa em que tal aconteceu), é muito interessante a forma como aborda a ligação entre Deus e o nascimento deste menino e o homem e como releva o que existe de bom no ser humano.
    Permita-me que cite algumas das passagens do texto que me tocam. ...” O nosso Deus, o nosso Salvador, apresenta-se-nos assim, frágil, necessitado e desconcertante.
    Um menino, quem não se apaixonará por um menino recém-nascido? Está-nos nas veias do sangue essa atracção, é o nosso instinto de paternidade ou maternidade que nos leva sempre a abeirar-nos, a olharmos e a amarmos. Que outro modo poderia Deus usar para nos atrair a ele, na sua encarnação, se não aparecendo como menino? Deus vem sempre ao encontro do que em nós existe de bom, do que em nós pode conduzir-nos à satisfação e felicidade.
    Um menino envolto em panos, nos panos da nossa pobreza corporal, nessa dimensão que nos constitui e nos faz relacionáveis, possíveis de viver com o outro. Um pano que é a nossa carne e sob a qual se esconde a divindade, para que nos pudéssemos aproximar sem temor.”…
    Bem-haja pelo convite que nos deixou, pela exortação …”Nesta noite de Natal do ano dois mil e onze aproximemo-nos de Jesus com fome, com muita fome, porque ele se faz alimento e vem saciar todos aqueles que o buscam confiantes.”
    Peçamos a Jesus que nos ajude no nosso processo de transformação para que, deste modo, possamos participar na construção de um mundo melhor, mais fraterno, mais justo, mais igualitário.
    Obrigada, Frei José Carlos, por esta partilha profunda e bela. Foi bom ter tido a oportunidade de reflectir nas palavras partilhadas. Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Votos de um Santo Natal e obrigada pelos votos formulados.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    Natal

    Entrai, irmãos, nas portas deste dia santo/o Deus-Medusa tornou-se o Deus-Menino/
    o Nome tornou-se o Filho,/a Imagem, a Glosa-Ícone//

    Entrai com os pastores/e os Magos,/contraponde à obscuridade da noite/do coração/
    as visões dos vossos votos imperfeitos//

    entrai na aura deste dia/que como o de Páscoa/é já êxodo/
    impossível apropriarmo-nos de Deus//

    dê-nos o Invisível/a graça de admirar/de fazer cantar a alma/
    e de voltar ao caminho/para acolher a Imagem feita carne/
    no meio de nós

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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  2. Frei José Carlos,

    Ao ler e reler este belíssimo texto do Evangelho de São Lucas,fiquei maravilhada com as palavras gratificantes que nos reconfortam e nos ajudam a Meditar mais profundamente.Obrigad,Frei José Carlos,pela partilha maravilhosamente bela,que partilhou connosco e a oportunidade de reflectirmos nas palavras partilhadas.Bem-haja.Continuação de um Santo Natal e obrigada pelos votos formulados.
    Que o Deus Menino o ilumine e o abençõe.
    Um abraço fraterno.
    AD

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