terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O filho respondeu: “não quero”; mas arrependeu-se e foi. (Mt 21,29)


Podemos dizer que todo o tempo é tempo de conversão, mas o Advento apresenta-se na sua dinâmica como um tempo propício, um tempo no qual esse convite se formula na simplicidade de um menino que nos nasce, num filho que nos é dado.
É nesse sentido que nesta terceira semana do Advento o Evangelho nos convida a meditar sobre a parábola dos filhos que obedecem ou não ao pedido do pai para irem trabalhar para a vinha.
Contudo, e para lá da evidência moral de que a obediência se traduz em actos, mais que em palavras, temos que encontrar-nos com o que verdadeiramente está em jogo, com o que é essencial nesta parábola, porque Jesus não coloca em questão os actos dos filhos, a obediência ou desobediência, mas o dinamismo que lhe está subjacente, um dinamismo vital que transforma a mesma obediência.
Assim vemos que no primeiro momento o filho que se nega a ir para a vinha, expressa a sua vontade na sua liberdade de ir ou não ir, e ele não quer ir. Não tem qualquer interesse na vinha e por isso o pedido do pai aparece-lhe como descabido, sem necessidade de uma resposta positiva. Os servos poderiam trabalhar na vinha.
Contudo, depois da resposta dada, este filho arrepende-se e vai de facto trabalhar para vinha, sem qualquer outra justificação ou resposta ao pedido do pai. Uma vez mais é a sua liberdade e a sua vontade que determinam a acção.
Mas se o filho altera a sua resposta, se se converte, é porque percebeu que da parte do pai não havia qualquer imposição, qualquer obrigação, mas se respeitava a sua liberdade e a sua resposta.
O pedido ou convite do pai apelava mais a uma atenção, a um respeito que nasce do amor, do que propriamente a uma resposta imediata e irreflectida, como a do filho que diz que vai e depois não vai. O amor do pai manifestado não só no pedido mas também no respeito da resposta reivindicava uma alteração, a conversão da primeira resposta dada.
É esta dinâmica que está em jogo na parábola que Jesus conta e que faz perceber que toda a obediência só tem sentido e só é verdadeira na medida em que nasce do amor, da percepção da anuência como manifestação de amor a um outro acto de amor já presente no pedido.
O mistério de Deus que se faz menino insere-se nesta mesma dinâmica, uma vez que Deus não se apresenta como aquele que nos vem dar lições, que nos vem exigir respostas funcionais, mas pelo contrário como criança a mendigar uma resposta simples e amorosa, esperando com amor a resposta ao seu amor.
Saibamos nós escutar o pedido de Jesus e responder-lhe prontamente.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada pelo texto da Meditação que partilha connosco. Com a total liberdade de aceitarmos ou recusarmos o serviço, o bem que nos é solicitado, oferecido, o modo como nós é pedido, a “dinâmica que lhe está subjacente” faz toda a diferença, na resposta dada. Como nos recorda, ...” se o filho altera a sua resposta, se se converte, é porque percebeu que da parte do pai não havia qualquer imposição, qualquer obrigação, mas se respeitava a sua liberdade e a sua resposta.
    O pedido ou convite do pai apelava mais a uma atenção, a um respeito que nasce do amor, do que propriamente a uma resposta imediata e irreflectida, como a do filho que diz que vai e depois não vai. O amor do pai manifestado não só no pedido mas também no respeito da resposta reivindicava uma alteração, a conversão da primeira resposta dada.”…
    E, como nos salienta, …” É esta dinâmica que está em jogo na parábola que Jesus conta e que faz perceber que toda a obediência só tem sentido e só é verdadeira na medida em que nasce do amor, da percepção da anuência como manifestação de amor a um outro acto de amor já presente no pedido.”…
    Saibamos como nos diz, em todo o tempo, mas particularmente neste tempo de Advento, “escutar o pedido de Jesus que espera com amor, de cada um de nós, a resposta ao seu amor”.
    Bem-haja por este belo trecho de Medidação, Frei José Carlos. Que o Senhor o abençoe e proteja.
    Continuação de boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    Deus que vens de Deus

    Deus que vens de Deus,/horizonte da nossa linguagem e do nosso desejo;//

    Deus que anunciamos/na espessura do que em nós é riso/e choro, ao mesmo tempo infiguráveis;//

    Deus, instante fugaz/da sede e da fome saciadas, diferidas;//

    que descubramos no corpo dos outros/os traços do bem que procuramos e perdermos,//

    que a nossa vida te reconheça/pela maneira como por ti se vê reconhecida/na teia do que passa e permanece,//

    tu que és aquele que há-de vir,/
    E Deus connosco

    (dizer DEUS ao (des)abrigo do Nome, Difusora Bíblica,1991)

    ResponderEliminar