No contexto bíblico a cidade fortificada, rodeada de muralhas, onde o povo se pode refugiar e sentir seguro é a imagem por excelência da segurança, da protecção e até de um certo poder sobre os inimigos. O deserto e as tendas testemunhavam uma maior fragilidade, uma maior susceptibilidade de derrota face aos perigos, fossem eles humanos ou naturais.
O profeta Isaías canta assim um hino em louvor dessa cidade fortificada que é oferecida ao povo, uma cidade aberta a todos aqueles que praticam a fidelidade, que vivem a justiça, um lugar de segurança e paz para todos os que habitarem nela.
A cidade fortificada de que fala Isaías é assim uma cidade sujeita a condições, a essa exigência da fidelidade e da justiça, porque só aqueles que forem capazes de ser fiéis, de praticar a justiça aí habitarão e aí encontrarão a paz e a segurança.
Jesus ao propor aos seus ouvintes e a cada um de nós a construção da nossa casa, da nossa cidade, afinal da nossa vida, sobre a rocha firme, remete-nos inevitavelmente para estas mesmas condições de habitabilidade da cidade de que fala Isaías; remição expressa nessa virtude da prudência. “O homem prudente edificou a sua casa sobre a rocha!”
Somos assim convidados a viver na fidelidade, numa busca constante de orientação face ao que nos rege e nos conduz, para não nos desviarmos e deixarmos de ser fiéis. A nossa vida de fé cristã é uma vida de conquista, de busca, de desejo e satisfação face a esse fim de felicidade que nos atrai. Ser discípulo de Jesus significa estar em processo, em constante dinâmica de aproximação ao objecto amado e desejado.
Por outro lado, somos convidados a viver a justiça, e uma justiça que não se funda em leis de reciprocidade e equitatividade, mas numa oferta generosa e numa disponibilidade em que o outro é o fim e o objecto preferente. Jesus e o seu mistério da incarnação e redenção, quando ainda éramos pecadores, mostra-nos a dimensão desta justiça que somos convidados a viver.
Em conclusão, somos convidados a viver em Jesus, com Jesus, e ao modo de Jesus, assumindo nele o fundamento da nossa construção, ou o horizonte para que nos projectamos. Encontrando em Jesus a paz que brota dessa certeza que ele é um fundamento sólido e se apresenta como um fim alcançável, na media em que o buscamos e somos capazes de ser justos uns para os outros.
Como homens prudentes procuremos assim alicerçar a construção da nossa vida no fundamento que é Jesus, sabendo que como em toda a construção só se alcança o topo com trabalho, colocando cada dia um pedaço, retocando ou reformando, e que o projecto que nos foi deixado está feito à medida da nossa possibilidade pelo mesmo modelo da humanidade do Filho de Deus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLeio e medito no texto da Meditação que partilha connosco. Reflicto na parábola do Evangelho do dia e na desconstrução da mesma que elabora. A “construção da casa” é a “construção da vida de cada um de nós”, projecto de uma vida inteira, feita tijolo a tijolo, aperfeiçoada em permanência, na busca de uma finalidade. A escuta da palavra e a fé em Deus tem que ser posta em prática no nosso quotidiano, aonde não pode haver “gavetas”, a qual só pode ser vivida de forma coerente, de forma solidária e justa com o outro, caso contrário, tudo é figurativo, simbólico.
Como nos salienta ...” A nossa vida de fé cristã é uma vida de conquista, de busca, de desejo e satisfação face a esse fim de felicidade que nos atrai. Ser discípulo de Jesus significa estar em processo, em constante dinâmica de aproximação ao objecto amado e desejado.
Por outro lado, somos convidados a viver a justiça, e uma justiça que não se funda em leis de reciprocidade e equitatividade, mas numa oferta generosa e numa disponibilidade em que o outro é o fim e o objecto preferente.”…
Como nos exorta, …” somos convidados a viver em Jesus, com Jesus, e ao modo de Jesus, assumindo nele o fundamento da nossa construção, ou o horizonte para que nos projectamos.”…
Que o Senhor reforce a nossa fé e nos dê a sabedoria para “alicerçar a construção da nossa vida no fundamento que é Jesus”.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda, clara e bela Meditação. Que o Senhor o ilumine e proteja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP
tempo de adventos
Pai, que em Jesus te manifestaste/como autor e signatário da carta do mundo/
Pai, que no Filho reconhecemos/ e que o ouvido do nosso coração, o Espírito Santo/
ouviu, encostado à árvore do nosso Evangelho/
deixe-nos o clarão da tua luz/as impressões e os traços/com que inscrevemos na seiva dos nossos dias/
a alegria do que vivemos e o desejo do que esperamos,/o reconhecimento do que nos acontece,/
a sedução do enigma e a paixão sem resto/
que invocando-te neste tempo de adventos/seja a boda e a aliança que regressem,/
o ámen do ciclo do sol, dos aniversários,/do anel e do meio-dia/onde te esperamos/
como evangelho da paz e da justiça
(In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)
Frei José Carlos,
ResponderEliminarMuito grata,por este maravilhoso e belo texto do Evangelho de S.Mateus,que partilhou connosco,é muito rico e profundo e esclarecedor,que nos ensina a meditar e reflectir com Jesus e ao modo de Jesus.E como nos diz o Frei José Carlos,encontrando em Jesus a paz que brota dessa certeza que ele é um fundamento´sólido e se apresenta como um fim alcançável,na medida em que o buscamos e somos capazes de ser justos uns para com os outros.
O projecto que nos foi deixado está feito à medida da nossa possibilidade pelo mesmo modelo da humanidade do Filho de Deus.
Obrigada,Frei José Carlos,por esta marvilhosa e bela Meditação,que nos ajudou muito a reflectir mais profundamente.Desejo-lhe uma santa noite.Que Jesus o ilumine e o proteja.
Um abraço fraterno.
AD