Jesus encontrava-se no templo a ensinar quando se aproximaram dele os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo. Não queriam ouvir o que ele dizia, bem pelo contrário silenciá-lo, e por isso naquele lugar sagrado, onde se exercia o ensino e a pregação de forma profissional, lhe perguntam: “com que autoridade fazes isto? Quem te deu o direito?”
À luz da lei e da tradição Jesus não tinha nenhum direito a ensinar no templo, ele não era sacerdote, não era escriba, e ainda que os seus discípulos o tratassem por Rabi e Mestre esse titulo radicava na relação pessoal que mantém com Jesus e não em qualquer diploma que ele possuísse.
Jesus sabe que está a cometer uma infracção, que está a exercer um ministério que não lhe pertence por formação ou tradição familiar, pois não era filho de nenhum sacerdote, como acontecia com João Baptista. Contudo, sabe também que não pode deixar de o fazer, uma vez que é a Palavra de Deus incarnada, a Palavra da Verdade que ali mesmo naquele lugar de ensino e divulgação tinha sido adulterada, desqualificada em preceitos subjugadores da liberdade de relação com Deus.
Assim, e sem querer entrar em choque com aqueles que o questionam, mas mostrando-lhes objectivamente de onde derivava o seu direito, Jesus pergunta aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo por João Baptista e pelo seu baptismo. Afinal de onde provinha a autoridade de João para eles mesmos lhe terem enviado uma delegação a perguntar se era o Messias. João não ensinava no templo e ainda que filho de sacerdote nunca na sua pregação no deserto reclamou esse título ou direito.
Jesus confronta assim os seus interlocutores com a dupla via da revelação da Palavra de Deus, da sua acção na história dos homens, a via da Lei e a via do profetismo. E se eles reclamavam a via da lei e do seu cumprimento, a aceitação de João Baptista mostrava a aceitação e o reconhecimento da via profética. Jesus colocava-se assim no seu seguimento, assumia também a sua condição e dimensão profética, não isolada num deserto mas inserida no meio do povo.
O silêncio dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos do povo não é a manifestação de um desconhecimento como dizem, porque sabiam muito bem a dimensão das implicações da pergunta de Jesus. Por outro lado a recusa liminar de Jesus a responder-lhes, a justificar o seu direito, não é uma recusa de revelação, mas o cerrar do ferrolho da porta que eles tinham batido. Face à recusa da verdade não há verdade que se ofereça.
Tal como naquele dia também hoje Jesus se coloca no meio de nós ensinando-nos a sua palavra, revelando-nos o projecto de Deus, mas essa revelação e o nosso conhecimento está dependente do nosso desejo verdadeiro de querer saber, de interrogar, de ter tempo para escutar, porque Jesus está disponível para aqueles que o buscam e o desejam escutar. Face à nossa sinceridade de busca, à nossa aspiração de verdade, Jesus revela-se paciente e amorosamente como a verdade que buscamos. Neste Advento que o busquemos de coração sincero.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarBem-haja por nos recordar que tal como no dia em que “Jesus encontrava-se no templo a ensinar quando se aproximaram dele os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo (…) também hoje Jesus se coloca no meio de nós ensinando-nos a sua palavra, revelando-nos o projecto de Deus”…
Mas Frei José Carlos vai mais além, salientando que …” essa revelação e o nosso conhecimento está dependente do nosso desejo verdadeiro de querer saber, de interrogar, de ter tempo para escutar, porque Jesus está disponível para aqueles que o buscam e o desejam escutar”…
Peçamos ao Senhor que “Neste Advento que o busquemos de coração sincero” e em todos os momentos.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha que nos reconforta. Que o Senhor o ilumine e proteja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva