quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Já brilha a luz verdadeira (1Jo 2,8)

Enchemos as nossas ruas e as nossas árvores de luzinhas. Parece que sem essas luzes e sem esse brilho o Natal não é o mesmo. Face a alguma crítica relativamente a estas iluminações não podemos deixar de responder apresentando as palavras da Primeira Carta de São João, “já brilha a luz verdadeira”. As nossas luzes de Natal são assim uma recordação da luz verdadeira que brilha em Jesus.
Contudo, não podemos ficar apenas nesta dimensão simbólica, nesta realidade estética de uma agradável sensação visual, porque a luz de que as luzes nos fazem memória significa uma vida, significa um modo de vida fundado no mandamento do amor.
Como São João nos diz, para nós já brilha a luz verdadeira porque o Filho de Deus se fez homem, encarnou e habitou entre nós, e isto por uma razão de amor, pelo amor que Deus tem aos homens.
O mistério da encarnação que celebramos no Natal é o mistério do amor feito carne, feito presença entre os homens para lhes ensinar o verdadeiro mandamento do amor. Ama aquele que dá a vida pelos seus amigos, aquele que é capaz de descer do seu pedestal divino para partilhar a sorte e a dor daqueles que não tinham acesso a esse mesmo pedestal.
E por isso brilha a luz, porque Deus vem ao nosso encontro, vem iluminar na nossa condição humana os caminhos de acesso a essa divindade de que estávamos privados pela desobediência, pelo desejo de a atingirmos pelos nossos próprios meios.
Brilha a luz para aqueles que são também capazes de viver esse mesmo amor, que o procuram viver com as suas fragilidades, que procuram manter-se nessa luz através das obras de justiça, de verdade e de amor, entregando também a sua vida para que outros possam viver.
São João diz-nos que aquele que ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de pecado, porque a luz que é o amor não permite a falha nem a falta. Aquele que ama quer o melhor para o outro, o bem do outro, a felicidade e a salvação do outro.
Contemplando as luzes que colocámos na nossa árvore de Natal, ou que enfeitam as nossas ruas ao cair da tarde, recordemos como há uma luz interior em cada um de nós que espera e deseja ser descoberta, como através do amor e da amizade podemos ser uma luz na vida de outras pessoas, tornando assim presente e mais luminosa a luz verdadeira que nasceu para todos os homens em Belém da Judeia.

Ilustração: “Virgem Maria com o Menino numa moldura de flores e anjos”, de Peter Paul Rubens, Alte Pinakothek.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Fico a reflectir no texto da Meditação que partilha connosco e que intitulou “Já brilha a luz verdadeira (1Jo 2,8)”. Interrogo-me
    se para muitos de nós a iluminação das ruas no Natal ou as luzinhas nas árvores não visa sequer a dimensão simbólica, a partilha da alegria de um período diferente do resto do ano que se quer assinalar, mas representa um mero espectáculo, montagem para atracção de turistas em certos locais, em que a concorrência não está ausente destas manifestações, e a estética não existe. E a correspondência a algum de mais profundo, ...” uma recordação da luz verdadeira que brilha em Jesus”, coloca-me muitas dúvidas, reservas, Frei José Carlos.
    Como nos salienta ...” brilha a luz, porque Deus vem ao nosso encontro, vem iluminar na nossa condição humana os caminhos de acesso a essa divindade de que estávamos privados pela desobediência, pelo desejo de a atingirmos pelos nossos próprios meios.
    Brilha a luz para aqueles que são também capazes de viver esse mesmo amor, que o procuram viver com as suas fragilidades, que procuram manter-se nessa luz através das obras de justiça, de verdade e de amor, entregando também a sua vida para que outros possam viver.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …” recordemos como há uma luz interior em cada um de nós que espera e deseja ser descoberta, como através do amor e da amizade podemos ser uma luz na vida de outras pessoas, tornando assim presente e mais luminosa a luz verdadeira que nasceu para todos os homens em Belém da Judeia”, e deixemo-nos guiar pela luz da fé.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação que nos faz reflectir e nos conforta. Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.

    NÃO DESISTIR
    DA LUZ

    Senhor, não sei bem o que será viver só de luz. Estou tão habituado a coisas que acabam, ao dia e à noite,
    aos prazos breves de duração. Vou aceitando como inevitáveis sombras, silêncios, opacidades ... E, contudo,
    hoje o que te peço é que me ajudes a não desistir da luz. Não quero, Senhor, recolher apenas, para uma caixa,
    as figuras do presépio, como se fossem sinais de um teatro anual que monto para a minha consciência. Não
    consigo arrumar numa gaveta as palavras que o Natal me deixou ...

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata por este texto excelente que partilhou connosco,tão profundo e rico de sentido para todos nós.É reconfortante as suas palavras,dá-nos força e coragem para seguirmos o caminho, que nos leva a essa luz verdadeira que já brilha.Como nos diz o Frei José Carlos,recordemos como há uma luz interior e cada um de nós que espera e deseja ser descoberta, como através do amor e da amizade,podemos ser uma luz na vida de outras pessoas tornando asssim presente a mais luminosa a luz verdadeira,que nasceu para todos os homensem Belém da Judeia.Obrigada,Frei José Carlos,por esta maravilhosa Meditação que partilhou connosco,gostei muito.Bem-haja.Que o Senhor o proteja e o ilumine.Uma boa tarde.
    Um abraço fraterno.
    AD

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