terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Se um homem tiver cem ovelhas (Mt 18,12)

Jesus propõe aos seus discípulos uma questão sob a forma de uma parábola, um enigma, e para a qual dá a resposta. Afinal o homem que encontra a ovelha perdida inevitavelmente tem que se alegrar por isso, apesar de ter noventa e nove protegidas e guardadas, que o poderiam alegrar muito mais. O encontro, a possibilidade de regresso, a reintegração do rebanho, é sempre um momento de alegria.
Mas se Jesus utiliza esta parábola, construída um tanto ou quanto sobre a disparidade face aos critérios humanos de salvaguarda do que se possui, é para mostrar aos seus discípulos e a cada um de nós essa acção de Deus que vem ao nosso encontro, essa busca de Deus por cada uma das suas ovelhas perdidas.
O mistério da incarnação do Filho é o movimento de busca por excelência, aquele acontecimento em que todos os perdidos e tresmalhados se podem encontrar e ser reencontrados. A partir dele, em cada dia e a cada momento continua aberta essa busca, essa possibilidade de encontro e de regresso a casa, ao redil do rebanho dos filhos de Deus.
Deus deu o primeiro passo, colocou-se nessa situação de busca e encontro, assumindo a nossa humanidade, e da nossa parte apenas espera, porque nem podemos dizer que exige, que nos prontifiquemos a ser encontrados e levados aos ombros.
Uma vez mais se joga a nossa vontade, que pode persistir e teimar em manter-se à margem, em não querer regressar ao redil que tantas vezes nos parece uma prisão, um espaço de usurpação da nossa liberdade.
Mas ainda assim, e nessa mesma rebeldia, Deus vem ao nosso encontro, solícito e amorosamente pacifico, para nos dizer e nos mostrar que também nessa situação se encontra ao nosso lado e caminha connosco. A rebeldia e a interrogação podem levar-nos a dar de caras com ele e os seus braços abertos ao acolhimento, e por isso ele permanece, busca, oferece-se.
Uma vez mais o que se nos pede, a atitude que devemos assumir, é a da abertura, a do humilde despojamento das nossas certezas e imagens, para nos podermos encontrar com Deus que conhecemos mas se mantém uma inolvidável novidade em cada encontro.



2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe esta excelente partilha do Evangelho de S.Mateus,tão clara e profunda que nos dá muita força e coragem,pois Deus está sempre do nosso lado e caminha connosco,conhecendo as nossas fragilidades,de braços abertos sempre com tanta ternura para nos acolher.Este Deus de ternura está à nossa espera.Obrigada Frei José Carlos,por tudo o que partilhou connosco,gostei muito.Uma boa noite.
    Um abraço fraterno.
    AD

    ResponderEliminar
  2. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que partilha connosco é muito profundo e de grande beleza. Como nos recorda ... “Deus deu o primeiro passo, colocou-se nessa situação de busca e encontro, assumindo a nossa humanidade, e da nossa parte apenas espera, porque nem podemos dizer que exige, que nos prontifiquemos a ser encontrados e levados aos ombros.
    Uma vez mais se joga a nossa vontade, que pode persistir e teimar em manter-se à margem, em não querer regressar ao redil que tantas vezes nos parece uma prisão, um espaço de usurpação da nossa liberdade.”…
    Porém, o Frei José Carlos, salienta-nos que mesmo quando sentimos, pensamos que o seguimento de Jesus, do projecto de Deus para a humanidade, porque implica compromissos de cada um de nós, pode coartar-nos a liberdade, …”Deus vem ao nosso encontro, solícito e amorosamente pacifico, para nos dizer e nos mostrar que também nessa situação se encontra ao nosso lado e caminha connosco. Mas vai mais longe, dizendo-nos, diria mesmo que desafiando-nos com um grande “lembrete”, de forma muito humana e poética, que …”A rebeldia e a interrogação podem levar-nos a dar de caras com ele e os seus braços abertos ao acolhimento, e por isso ele permanece, busca, oferece-se.”
    Que o Senhor reforce a nossa fé e nos dê a esperança e simultaneamente a humildade para continuarmos a busca, o encontro com Deus.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta importante Meditação que nos desinstala e simultaneamente ajuda-nos a preparar este Advento. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe o texto de uma oração.

    É BOM
    SABER QUE
    ESPERAS
    POR TODOS

    Senhor, ninguém vive tão à espera como Tu!
    Na Tua misericórdia esperas por todos: pelos que estão longe e pelos que estão perto.
    Pelos que se lembram e pelos que têm o coração submerso no esquecimento mais fundo.
    Pelos que todos os dias te rezam: “Vem, Senhor” e por aqueles cuja oração é uma ferida
    silenciosa, um tormento ou uma revolta. É bom saber que esperas por todos.
    E que na imensidão compassiva da Tua espera, cada um pode reaprender o sentido verdadeiro da esperança.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

    ResponderEliminar