quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Vinde a mim todos (Mt 11,28)

Uma vez mais neste Advento, neste tempo de preparação para a vinda do Messias, ecoa aos nossos ouvidos o convite de Jesus a procurá-lo, a buscá-lo, sobretudo se na nossa vida nos encontramos sobrecarregados, cansados, oprimidos. Jesus oferece-se como libertação dos nossos pesos e daquilo que nos oprime.
Neste sentido, podemos e devemos perguntar-nos como é possível que nos mantenhamos surdos, imóveis nesses pântanos que nos cansam, incapazes de dar um passo um pouco mais firme, mais convicto no sentido de Jesus, de responder positivamente ao seu convite.
Será porque Jesus no convite que nos faz se apresenta como jugo, como carga? Balançaremos e hesitaremos entre a possibilidade de jugos e cargas? Se já nos sentimos subjugados, carregados, porquê trocar de carga ou jugo? Afinal este já nos basta!
Tal atitude, tal passividade, mostra que não compreendemos verdadeiramente o convite e a proposta de Jesus, um convite que não se traduz numa subjugação a um conjunto de preceitos pelos quais obteremos o prémio prometido, a uma perda da nossa liberdade e autonomia em função de um enquadramento legal.
O convite de Jesus e assumir a sua carga e o seu jugo é muito mais radical que um legalismo tranquilizante, e certamente por isso o consideramos mais difícil, ainda que de facto não seja assim tão difícil. No convite de Jesus joga-se a vontade, a nossa vontade, que é solicitada para em liberdade procurar dar uma resposta, que pode não ser completa, perfeita, mas ainda assim não inábil do prémio prometido.
Por essa razão, porque o caminho se nos apresenta à nossa medida, e porque a ideia de carga e jugo nos pode assustar e recuar, Jesus ao fazer este convite apresentou-se como modelo, como exemplo. Tendo alguém que nos precedeu no caminho, que nos ensina e mostra como assumir a carga e o jugo, torna-se mais fácil responder ao convite de Jesus.
A sua humildade, a sua simplicidade de vida, os gestos quotidianos apenas transformados pelo amor, a sua entrega radical à vontade do Pai e às mãos dos homens, mostram-nos o quanto está à medida das nossas capacidades este convite à aceitação da carga e do jugo.
Peçamos com Jesus: “Pai nas tuas mãos entrego o meu espírito”, para que o meu espírito seja o teu Espírito, a minha vontade seja a tua vontade, o meu jugo seja o teu amor, e a minha carga seja leve uma vez que já a levastes por mim até ao alto da cruz.



1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir no texto da Meditação que partilha connosco, pelo conteúdo, pela forma. É um excelente texto de Pregação, de incentivo, para que estejamos atentos ao convite permanente de Jesus, interrogando-nos de múltiplas formas, demonstrando que “está à altura das nossas capacidades a aceitação desse convite”. ...” neste tempo de preparação para a vinda do Messias, ecoa aos nossos ouvidos o convite de Jesus a procurá-lo, a buscá-lo, sobretudo se na nossa vida nos encontramos sobrecarregados, cansados, oprimidos. Jesus oferece-se como libertação dos nossos pesos e daquilo que nos oprime”, como nos recorda. Permita-me que continue a respigar alguns excertos que me tocam particularmente.
    ...” No convite de Jesus joga-se a vontade, a nossa vontade, que é solicitada para em liberdade procurar dar uma resposta, que pode não ser completa, perfeita, mas ainda assim não inábil do prémio prometido.
    Por essa razão, porque o caminho se nos apresenta à nossa medida, e porque a ideia de carga e jugo nos pode assustar e recuar, Jesus ao fazer este convite apresentou-se como modelo, como exemplo. Tendo alguém que nos precedeu no caminho, que nos ensina e mostra como assumir a carga e o jugo, torna-se mais fácil responder ao convite de Jesus.
    A sua humildade, a sua simplicidade de vida, os gestos quotidianos apenas transformados pelo amor, a sua entrega radical à vontade do Pai e às mãos dos homens, mostram-nos o quanto está à medida das nossas capacidades este convite à aceitação da carga e do jugo.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …”Peçamos com Jesus: “Pai nas tuas mãos entrego o meu espírito”, para que o meu espírito seja o teu Espírito, a minha vontade seja a tua vontade, o meu jugo seja o teu amor, e a minha carga seja leve uma vez que já a levastes por mim até ao alto da cruz.”
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, por este texto que urdiu tão profundo e tão belo, pelo convite que nos dirige à busca constante e a aceitação do encontro com Jesus . Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Votos de continuação de um Santo Dia.
    Um abraço fraterno.
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    de questão em questão

    conduz-nos, Deus,/de questão em questão,/de fogo em fogo,
    sem satisfações que ao tempo bastem e a nós assombrem//

    que passemos da catalogação/do que julgamos conhecer/
    ao poço dos enigmas infindáveis/onde o rosto é para sempre fundo,/
    desmentido, diferido//

    não nos mure a estrutura em espelho/que escamoteia a procura da verdade,/
    mas que o dom da tua palavra nos visite/como o canto do galo,/a lembrar
    o dia novo/o perdão e a graça

    (In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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