sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Trouxeram um paralítico transportado por quatro homens (Mc 2,3)

A cena é extraordinária, o suficientemente inusitada para não passar despercebida, nem àqueles que estavam presentes nem a cada um de nós que hoje nos confrontamos com o seu relato.
Face à impossibilidade de entrar até junto de onde Jesus se encontrava, os quatro homens que transportavam um paralítico para que Jesus o curasse, sobem ao telhado e fazendo uma abertura introduzem o homem até junto de Jesus.
Diz-nos São Marcos que, ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: “os teus pecados estão perdoados”.
Para além de tantos outros elementos que nos poderiam fazer meditar, esta manhã, ao ouvir a leitura do texto evangélico, não pude deixar de pensar naqueles quatro homens e na sua acção. Eles não pediram nada, não há qualquer palavra nem deles nem do paralítico, e contudo Jesus perdoa os pecados daquele homem e cura-o da sua enfermidade.
Diante deles e da sua acção pensei na nossa oração comum, na oração em que pedimos a Deus pelos nossos irmãos, por aqueles que também não dizem uma palavra, não formulam um pedido, mas que ainda assim nós apresentamos ao Senhor, introduzimos junto do lugar onde Jesus se encontra.
Era grande a fé daqueles homens, assim como deve ser grande a nossa fé quando rezamos por alguém, quando pedimos a Deus por alguém, porque a nossa oração terá certamente as mesmas consequências que teve junto daquele paralítico a acção dos seus amigos, Jesus perdoou-lhe os pecados e depois curou-o.
Este pensamento, esta esperança, levou-me hoje a meditar um pouco mais seriamente sobre a oração de petição pelos meus irmãos e irmãs, pelos homens e mulheres que se encomendam à minha oração, por aqueles que não conheço e nem me conhecem, mas pelos quais também rezo, pelo alcance insuspeitado da oração de cada um de nós.
Ao introduzi-los na presença de Deus com a minha oração estou a proporcionar-lhes a graça do perdão, ainda que nem eu, nem eles, a sintamos materialmente, pois a acção de Deus é sempre invisível, impossível aos sentidos corporais. E posteriormente, com esta graça, chegará também a cura das suas enfermidades, das suas debilidades e infidelidades.
Perdoados dos seus pecados poderão erguer-se para acolher a cura, para tomar em mãos a sua enxerga e caminhar pelos seus pés para casa, para a verdadeira casa que é a casa do Pai do Céu.
Que alegria e que conforto saber que podemos levar o perdão de Jesus aos nossos irmãos, que de longe podemos influir nas suas vidas e na relação com Deus através da nossa oração, que podemos ser instrumentos e canais para a graça salvadora de Deus. E ao mesmo tempo que responsabilidade, que exigência para a nossa oração e para a nossa fraternidade.
Tal como aqueles quatro homens do Evangelho, que saibamos encontrar os modos e o tempo para subir aos telhados e introduzir os nossos irmãos junto de Jesus.
 
Ilustração: “O paralítico descido pelo telhado”, de James Tissot, Brooklyn Museum.

 

 

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Quando li pela primeira vez o texto da Meditação que teceu, precisei a seguir, ao início da noite, de caminhar durante algum tempo para resolver um assunto o que constituiu uma excelente oportunidade para reflectir sobre o que havia escrito sobre a oração de petição, e seus efeitos insuspeitados, partilha profunda e simultaneamente com um cariz pessoal e, que leva a interrogar-nos, num processo que é individual quando cada um de nós assume a oração de petição pelos outros, por alguém que nos solicitou ou não, por todos aqueles que, neste planeta, estão próximo ou longe, independentemente do credo ou não que professam ou do fuso horário que habitam. E só a vivência de uma verdadeira espiritualidade, acreditar profundamente que o Senhor nos escuta em todas as circunstâncias e que nos aceita por inteiro, pode levar-nos a esta forma de fraternidade. Permita-me que cite algumas das passagens que me tocam particularmente.
    ...” Este pensamento, esta esperança, levou-me hoje a meditar um pouco mais seriamente sobre a oração de petição pelos meus irmãos e irmãs, pelos homens e mulheres que se encomendam à minha oração, por aqueles que não conheço e nem me conhecem, mas pelos quais também rezo, pelo alcance insuspeitado da oração de cada um de nós.
    Ao introduzi-los na presença de Deus com a minha oração estou a proporcionar-lhes a graça do perdão, ainda que nem eu, nem eles, a sintamos materialmente, pois a acção de Deus é sempre invisível, impossível aos sentidos corporais. E posteriormente, com esta graça, chegará também a cura das suas enfermidades, das suas debilidades e infidelidades. (…)
    (…) Que alegria e que conforto saber que podemos levar o perdão de Jesus aos nossos irmãos, que de longe podemos influir nas suas vidas e na relação com Deus através da nossa oração, que podemos ser instrumentos e canais para a graça salvadora de Deus. E ao mesmo tempo que responsabilidade, que exigência para a nossa oração e para a nossa fraternidade.”…
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pela alegria e pelo conforto que nos dão, por exortar-nos a …” encontrar os modos e o tempo para subir aos telhados e introduzir os nossos irmãos junto de Jesus.”
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e abençoe.
    Votos de um bom fim-de-semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que volte a partilhar um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    levanta-te e anda

    a cada um de nós é dada esta ordem:/”levanta-te e anda”/a fé é um nascimento e um caminho a andar//

    a impotência assumida na fé/tem valor de poder que salva//

    não basta estar de acordo com a mensagem recebida/basta sim o acolhimento da passagem do anjo/que assinala
    o túmulo aberto/basta acreditar no perfume do jardim da páscoa//

    não te rendas às evidências sensíveis/nem dês realidade à morte de que foges//

    que a Palavra de vida nos acorde/desse lugar cómodo/a partir do qual julgamos saber do que falamos/a vida e a morte/
    mal definidas sempre//

    que o revelador nos inicie/no mistério da incorruptibilidade/e da alegria//


    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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  2. Frei José Carlos,

    Ao ler e reler este magnífico texto do Evangelho de São Marcos,profundo e rico de sentido.Que saibamos nós fazer no dia a dia como aqueles quatro homens do Evangelho,encontrar os modos de subir aos tilhados e introduzir os nossos irmãos junto de Jesus,como nos diz o Frei José Carlos.Obrigada,pele beleza da ilustração e pelas palavras partilhadas.Uma boa tarde,com Paz e Alegria.Bem-haja.Que o Senhor o ilumine e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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